Nove meses após tragédia, bairros ainda aguardam por obras e moradores revivem o drama das chuvas

15/11/2022 16:55
Por Redação/ Tribuna de Petrópolis

Nesta terça-feira (15), a tragédia em Petrópolis completa nove meses. De lá para cá, além de terem sofrido perdas irreparáveis, como mortes de familiares, amigos e conhecidos, moradores ainda revivem o drama das chuvas. Isso porque diversos bairros ainda aguardam por obras, mesmo após 9 meses.

Nove meses depois, obras importantes ainda não foram iniciadas no município

No bairro Caxambu, por exemplo, moradores são obrigados a encarar diariamente resquícios – não apenas na memória, mas também fisicamente – daquele dia 15 de fevereiro.

Foto: Marcia Jochem

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Projetos de obras de contenção no Vila Felipe, local em que o MP considerou a situação como gravíssima

No dia 20 de outubro, a Prefeitura apresentou o projeto de obras de contenção no Vila Felipe para os moradores. No entanto, locais vulneráveis, que precisam urgentemente de intervenções, não foram contemplados no projeto. Um exemplo disso é uma encosta localizada na Rua Jacinto Rabelo, próximo ao número 50. O local, inclusive, já foi alvo de deslizamentos e a falta de projetos preocupa os moradores, pois, caso algo aconteça, as casas da Rua Perônio Américo, rua debaixo, também serão atingidas.

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Foto: João Vitor Brum – Vila Felipe

O projeto preliminar prevê obras de contenção e drenagem na Rua Jacinto Rabelo (no Vila Felipe) e nas servidões da via – dentre elas, a Rua João Rodrigues Batista e a Servidão Geovane Santos.

Ações preventivas, como barragens em gabiões, estabilizações de taludes e demolições de blocos rochosos soltos, além da reorganização do fluxo das águas pluviais, estão no estudo técnico. Porém, o estudo é só o primeiro passo para que as obras sejam efetivadas, após processo de licitação.

Em reunião, foi anunciado pela Prefeitura que a Rua Paulino Guimarães também será contemplada com intervenções.

Obras em andamento

Dentre as obras em andamento, grande parte diz respeito às contenções em muro de gabião. Locais como Avenida General Marciano Magalhães, número 80, Morin; Rua Bingen, em frente ao restaurante Lukas; Avenida Barão Do Rio Branco, próximo ao número 1582, e próximo aos números 2280 e 1164, além da Rua Vigário Corrêa, junto à ponte de acesso ao bairro Corrêas, fazem parte deste pacote. Esta última é a obra mais cara – R$ 1.992.188,20. As outras obras variam entre R$113.319,29 a R$344.490,49.

Recomposição de margens de rios, limpeza e desobstrução de vias

As obras em andamento também abrangem a recomposição das margens do rio e passeios na Rua Saldanha Marinho, no trecho entre as Duas Pontes e a Praça Pasteur, além da limpeza e desobstrução de vias e rios em diversos bairros do município, serviços de recuperação de rede de drenagem e de pavimento, recuperação da travessa no Vila Felipe, recomposição especializada em execução de contenção em cortina atirantada, na Rua Stephan Sweig, número 266, Moinho Preto, além de recomposição de pavimentação e reparo em rede de águas pluviais em diversas ruas dos bairros Vila Felipe e Chácara Flora.  

A polêmica da dragagem dos rios

Sobre a dragagem dos rios, no último mês, foi anunciado que o objetivo da “operação histórica”, conforme intitulado pela Prefeitura, era retirar sedimentos do leito dos rios e coibir inundações no próximo verão. Entretanto, em um vídeo (clique aqui para assistir), é possível observar um caminhão, na Ponte Fones, identificado com um adesivo do Inea, partindo para o descarte do material com menos de metade da caçamba cheia de sedimentos. Fato que atrasa o serviço, fazendo com que o caminhão realize viagens quase vazias. Neste ritmo, o desassoreamento dos rios não tem previsão para conclusão.

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Conjuntos habitacionais foram esquecidos

Embora a Companhia Estadual de Habitação (Cehab) tenha licitado, em maio, a reforma e requalificação de quatro conjuntos habitacionais, a construção dos das unidades ficou apenas na promessa.

Em visita à Petrópolis, em maio, o governador Cláudio Castro, disse que iniciaria processos licitatórios para a construção de conjuntos habitacionais no bairro Mosela, Benfica, além de Itaipava, até o final de abril. No entanto, até agora, isso não aconteceu.

Pacote de Obras anunciado a 58 dias para o início do verão

No final de outubro, a 58 dias para o início do verão, o prefeito Rubens Bomtempo anunciou o pacote de obras. Na ocasião, o município informou que havia solicitado recursos ao Ministério do Desenvolvimento Regional. Um lote de cerca de R$ 6 milhões referente a 15 obras de contenção foi liberado no dia 24 de outubro.

Entraram no pacote as seguintes obras:

Recomposição de vias com execução de cortina atirantada

Castelânea/Quitandinha:

– Rua Sargento Fontes – Castelânea;

– Rua Antônio da Silva Ligeiro (Rua da bica) – Taquara;

– Rua São Paulo – Quitandinha;

– Rua Francisco Blatt – Castelânea;

Alto da Serra:

– Rua Paulino Guimarães – Vila Felipe;

– Rua Augusto Severo – Morin;

– Rua Dom João Braga (atrás do NIS) – Alto da Serra;

Centro:

– Rua Domingos Andrade Bastos;

– Rua Visconde do Bom Retiro;

– Rua Dr. Hélio Bittencourt (Rua do Túnel, que liga o Centro ao Quissamã);

– Praça da Liberdade (recomposição da margem do rio, cortina atirantada e reconstrução da arquibancada da praça);

Itamarati/Cascatinha:

– Rua Pedro Elmer;

– Rua Gregório Cruzick;

– Rua Guilherme Daumas Nunes;

– Rua Henrique João da Cruz;

Bingen:

– Rua João Xavier – Duarte da Silveira;

Valparaíso:

– Rua Padre Moreira;

Caxambu:

– Rua Joaquim Ribeiro da Motta;

Estrada da Saudade:

– Rua Augusto Silva – Morro Florido;

Floresta:

– Rua Dr. Bonjean;

Nogueira:

– Rua Norma Maria Reiner;

Posse:

Estrada do Juruá;

Educação:

– Reforma da Escola Municipal José Fernandes da Silva – Alto da Serra;

Saúde:

– Reforma das UPAs do Centro e de Cascatinha;

– Reforma do Posto de Saúde da Família Frei Leão – Alto da Serra;

– Pintura externa e interna do Hospital Alcides Carneiro;

– Retomada das obras da Casa da Gestante, no Hospital Alcides.

O município também anunciou que as UPAs Centro e Cascatinha receberão reformas. Vale lembrar que a UPA Centro está sem atendimentos desde a primeira tragédia que atingiu o município, e foi licitada no valor de R$ 3,6 milhões. No entanto, a obra de contenção das encostas ainda não começou e deve ser iniciada somente no fim deste mês.

Com quatro meses de intervenções, a unidade completa, em fevereiro, um ano de portas fechadas. Enquanto isso, o público que precisa de atendimento deve se deslocar para o Hospital Nelson de Sá Earp ou para as outras unidades da UPA, em Itaipava ou Cascatinha.

Foto: Arquivo / Tribuna

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Após 9 meses da tragédia e tanto ainda para ser feito no município, uma coisa é certa: até que todas as obras sejam concluídas e todos os moradores estejam em segurança, não há quem durma tranquilo faltando 37 dias para o verão.

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