Nunes usa restrição imposta a Bolsonaro para isolar ex-presidente na escolha do vice

10/fev 19:51
Por Vera Rosa / Estadão

A campanha à reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), vai aproveitar a restrição imposta pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes a Jair Bolsonaro (PL) para abrir novas negociações sobre o vice da chapa e isolar a indicação do ex-presidente.

Alvo de operação da Polícia Federal que investiga uma tentativa de golpe no País, Bolsonaro foi proibido por Moraes de conversar com outros citados no inquérito, como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o general Braga Netto.

A situação do PL se complicou porque, durante operação de busca e apreensão da Polícia Federal, nesta quinta-feira, 8, Valdemar foi preso em flagrante por posse ilegal de arma. A PF também encontrou com ele uma pepita de ouro com origem em garimpo e valor estimado de R$ 12 mil. O presidente do PL já havia sido preso em 2013, condenado no caso do mensalão.

Valdemar dirige o partido com mão de ferro e é quem cuida das alianças municipais. A meta do PL é eleger mil prefeitos neste ano para conseguir fazer uma bancada federal mais forte em 2026.

Até agora, Bolsonaro tem condicionado o apoio a Nunes à indicação do vice na chapa. Antes de ser alvo de busca e apreensão da PF, o ex-presidente escolheu o coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo Ricardo Mello Araújo para fazer dobradinha com Nunes.

Araújo comandou a Rota e a indicação foi feita levando em conta que segurança é uma das principais preocupações do eleitor. Apesar da pressão de Bolsonaro, o prefeito disse que não há decisão tomada sobre a vaga de vice.

“Temos uma frente ampla e precisamos ver com os demais partidos os outros nomes que estão postos”, afirmou Nunes, numa referência a dez partidos que o apoiam atualmente, como o PP, o PSD e o Republicanos. Todas essas legendas integram a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso.

A estratégia traçada pelo prefeito para rebater a tentativa do candidato do PSOL, Guilherme Boulos, de nacionalizar a disputa – como se fosse um terceiro turno entre Lula e Bolsonaro – é mostrar que a “frente ampla” está a seu lado. A expressão foi usada pela campanha do petista, em 2022.

Plano é manter ‘distância regulamentar’

O Estadão apurou que nem Nunes nem seus aliados gostaram do vice indicado por Bolsonaro e a ideia é procurar outro nome, na esteira da crise que atinge o ex-presidente.

A questão da vice ganhou destaque depois que a ex-prefeita Marta Suplicy deixou a Secretaria Municipal de Relações Internacionais e retornou ao PT para compor a chapa de Boulos.

Na prática, a equipe de Nunes quer manter “distância regulamentar” do ex-presidente, mas depende do PL. Antes mesmo das diligências da Polícia Federal, porém, uma série de pesquisas em poder da Prefeitura mostrava que, quando Bolsonaro aparecia ao lado de Nunes, tirava dele dois votos e dava apenas um.

Mesmo assim, o prefeito precisa dos votos dos eleitores do ex-presidente, além do apoio do PL. Por ter feito a maior bancada de deputados federais em 2022, o partido tem como dote a mais gorda fatia de recursos do fundo eleitoral e o maior tempo de TV no horário eleitoral gratuito.

Investigações ameaçam sobrevivência do PL

Agora, no entanto, o resultado das investigações sobre o planejamento para um golpe no País ameaça não apenas levar Bolsonaro à prisão como a sobrevivência do próprio PL.

O senador Humberto Costa (PT-PE) pediu à Procuradoria-Geral da República que apure se o PL de Bolsonaro usou recursos partidários para financiar a abolição do Estado Democrático de Direito no País.

“São gravíssimos os fatos dessa operação da Polícia Federal”, argumentou Costa. “As revelações mostram que havia a proposição de prisão de dois ministros do Supremo e do presidente do Congresso, o senador Rodrigo Pacheco. Isso caracterizaria a implantação de uma ditadura. É inaceitável que um partido que participa do jogo democrático se mobilize para acabar com a democracia no Brasil”, emendou.

Para o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), segundo vice-presidente da Câmara, o partido enfrenta “perseguição implacável” do governo Lula, do PT e do ministro Alexandre de Moraes. “Ditadura é o que estão querendo fazer. Querem acabar com o único partido de oposição do Brasil para implantar a ditadura da esquerda, aliada ao Supremo Tribunal Federal”, disse Sóstenes.

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