O banqueiro que virou presidente do Equador

13/04/2021 08:05
Por Estadão

Guillermo Lasso nasceu em um lar humilde de Guayaquil, em 1955, e deu um salto para se tornar banqueiro antes de se lançar na política. Tentou se eleger presidente em 2013 e 2017, e foi derrotado duas vezes. Em sua terceira tentativa, tornou-se presidente do Equador, aos 65 anos.

Um liberal que reluta em eliminar a dolarização e um conservador em questões como aborto e casamento gay, Lasso teve dois reveses eleitorais, contra o ex-presidente Rafael Correa e o atual presidente, Lenín Moreno. Embora não exale o carisma de seus adversários, ele conseguiu convencer o eleitorado de que é o líder certo para assumir o país, que vive sua pior crise econômica e sanitária em décadas.

“Não queremos riscos, como eliminar a dolarização. Não acreditamos em ideias derivadas da inépcia, não queremos improvisação e vamos mostrar que temos capacidade, vontade e experiência”, afirmou Lasso, em janeiro, durante o lançamento de sua campanha, em Quito. A fala era uma referência aos comentários de seu rival, Andrés Arauz, sobre uma eventual desdolarização da economia, que desde 2000 adotou o dólar em substituição ao sucre.

Sem diploma universitário, mas com alto reconhecimento acadêmico, Lasso é o último de 11 irmãos. Desde os 15 anos, foi forçado a trabalhar para pagar os estudos. Seu primeiro emprego foi na Bolsa de Valores, em uma tarefa simples: escrever no quadro-negro os preços das diárias. Aos 22 anos, começou a trabalhar como gerente da Procrédito, empresa que era a representante no Equador da financeira FeCrédito, do Panamá. As duas se fundiram com a criação da Finansur, da qual ele se tornaria CEO, aos 30 anos.

Lasso cresceu no mundo financeiro até se tornar o dono do Banco de Guayaquil, nos anos 90. Também ocupou o cargo de presidente executivo por 18 anos do banco, até que, em 2012, renunciou para se dedicar à vida política, fundando o próprio movimento: Creando Oportunidades.

Antes de criar seu partido, ele já havia participado da vida pública. Em 1998, o então presidente Jamil Mahuad o nomeou governador de Guayas.

Ele ficou no cargo por um ano. Em 17 de agosto de 1999, quando uma crise econômica atingiu o Equador, Mahuad nomeou Lasso superministro da Economia. Lasso então coordenava os ministérios de Finanças e Energia.

Na ocasião, ele foi o responsável pela dolarização. De acordo com seus críticos, isso provocou o empobrecimento de milhões de equatorianos e causou uma migração em massa. Lasso renunciou ao cargo um mês depois. Após sua saída, ele voltou a ser empresário.

Um ano depois de criar seu partido, em 2013, ele embarcou em sua primeira aventura presidencial e foi derrotado por Correa, o esquerdista reeleito. Na segunda tentativa, em 2017, Lasso perdeu para Moreno, então amigo e parceiro de Correa, de quem posteriormente se distanciou em meio a acusações mútuas de traição.

Desta vez, como nas duas campanhas anteriores, Lasso, casado e com cinco filhos, repetiu quase o mesmo discurso liberal. Embora seja visto como um político sério, não tem o apelo que alguns de seus adversários despertam.

Andrés Páez, que foi seu companheiro de chapa em 2017, disse que Lasso “não é um político tradicional e carismático que desperta paixões nas multidões, mas é o que o país precisa neste momento”. “É um homem frio para tomar decisões, medita muito sobre o que vai fazer e tem grande sensibilidade para os problemas sociais”, disse Páez.

O plano de governo de Lasso inclui a criação de empregos por meio da aprovação de novos mecanismos de contratação e maior presença de investidores estrangeiros, que pretende atrair mudando as leis. Ele também promete gerar riqueza a partir de petróleo, mineração e energia por meio da participação do setor privado para substituir o financiamento estatal.

O ex-banqueiro garantiu que vai criar 2 milhões de empregos por meio do apoio a projetos produtivos em setores como agricultura, turismo e pesca. Lasso também propõe uma abertura econômica, com integração com outros mercados internacionais. Em questões sociais, ele é visto como conservador, em razão de sua oposição à descriminalização do aborto.

A virada estratégica da campanha incluiu um marketing de guerrilha. Ele usou o slogan #AndresNoMientasOtraVez (“Andrés, não minta novamente”) no debate na TV, em 21 de março, ganhando mais força nas redes sociais. Paralelamente, fez um apelo a setores progressistas da sociedade: LGBTQ, ambientalistas, ativistas, com uma mensagem de união e de esperança. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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