O bom pilantra

24/03/2016 12:00

Se existe vide inteligente após a morte, Carlos Imperial está dando cambalhotas de alegria. Isto porque, num dia desses, saiu publicada na imprensa uma nota a seu respeito.  Eu não conheci ninguém tão capaz de projetar seu nome na mídia impressa, falada e televisada. Ele vivia dizendo que todo dia teria que sair em qualquer das mídias uma nota a seu respeito. Carlos Imperial foi uma personalidade pública. Mas, afinal, o que fez ele para se tornar conhecido pelo grande público? Rapaz de posse, filho de família tradicional, Imperial começou a se projetar no final da década de 50, com o Rock´n Roll, um fenômeno musical daquele momento. Com dinheiro e morando com a família num luxuoso apartamento de cobertura em Copacabana, Imperial, com seu aguçado espírito de liderança, passou a comandar um grande grupo de jovens da classe média alta da zona sul, pejorativamente chamado de “juventude extraviada”, todos dançarinos e todos motorizados com automóvel ou Lambretta, uma espécie de moto que foi coqueluche nos anos 50 e 60. Imperial foi além; passou a liderar o grande movimento conhecido como a Jovem Guarda. Sua coleção de discos, (Lps.) a maioria importado dos Estados Unidos, fazia sucesso com os jovens. Com seu aguçado faro para o sucesso, Carlos Imperial tornou-se um grande descobridor de talentos. Não só soube se projetar, como foi fundamental no início de carreira de vários artistas da canção, que conseguiram alcançar a fama: Roberto Carlos, Simonal (que chegou a ser seu motorista), Tony Tornado e Ronnie Von, para citar os principais. Além dos cantores, Imperial ajudou a projetar vários pares de dançarinos e o grande comediante Paulo Silvino, filho do notável cômico, Silvino Neto, que se projetou em programas de Rádio. Com dinheiro, prestígio, automóvel conversível e roupas da moda, Imperial passou a ser um grande conquistador das adolescentes, jovens essas que ele, de forma um tanto deselegante, tratava-as por “lebres”. E, a cada conquista costumava se gabar: “abati uma nova lebre”.

Carlos Imperial foi tudo sem ter sido coisa alguma. Não era ator, mas participou de diversos filmes; não era um homem de teatro, mas produziu várias peças de sucesso. Não era músico, mas, adaptando e colocando letras em algumas composições musicais norte-americanas, desconhecidas do grande público brasileiro, ou seja, através de plágio, alcançou sucesso em paradas musicais como, por exemplo, com a música “Mamãe passou açúcar em mim!”,  gravada por Simonal.

Carlos Imperial me convidou para ser seu assessor. Trabalhei para ele durante três meses e como não recebi o salário combinado, caí fora. Pouco tempo depois aprendi que o dinheiro não é tudo. Ao lado do Imperial, eu poderia ter ido bem além. No dia em que me desliguei dele, Imperial me passou uma folha de papel, escrita por ele, com dez conselhos para que eu seguisse, papel que guardo até hoje. Num dos conselhos ele escreveu: “Todas as pessoas merecem uma oportunidade; algumas merecem até duas, porém, Angelo, ninguém merece três”. Na época eu o questionei: e se essa pessoa tiver muito valor? E ele me respondeu: “pode até ter valor, mas de que adianta se ela é azarada’”.

Durante um longo período Carlos Imperial deixou de ser notícia. Sentiu que precisava fazer alguma coisa. E o que fez? Hospedou-se numa suíte do Copacabana Palace, o hotel mais famoso do Brasil, alguns dias antes do carnaval daquele ano, e durante uma semana ficou incomunicável. Naquela época o baile de carnaval mais famoso do Brasil, acontecia no Teatro Municipal do Rio, com desfile, concurso e prêmio para as fantasias mais luxuosas, tanto masculinas, quanto femininas. Clovis Bornay e outros famosos homossexuais costumavam sempre concorrer ao prêmio de luxo. Uma semana antes do carnaval, Carlos Imperial, diretamente da suíte em que estava hospedado e incomunicável, telefonou para todos os jornais, revistas e estações de Rádio e TV, dizendo que gostaria de ser entrevistado, pois teria uma revelação bomba capaz de abalar o noticiário.  Toda mídia acorreu ao Hotel Copacabana e Imperial revelou: ”escrevam aí – eu vou ser o primeiro homem a concorrer ao prêmio de fantasia de luxo, masculina, do baile de gala do Teatro Municipal”.

Foi à notícia mais impressa, falada e comentada daquele ano. 


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