O Caminho da Resiliência

25/set 08:00
Por Gil Kempers

Os incêndios florestais na perspectiva dos desastres

Não é novidade no Brasil e no mundo que os desastres impactam diretamente a vida da população, causando inúmeros prejuízos e danos. Os incêndios florestais e a estiagem são classificados pela Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE) como desastres naturais e climatológicos. Sim, eles têm uma relação direta com os fenômenos naturais, mas infelizmente são intensificados, e muitas vezes causados, pela ação humana.

Os incêndios florestais no Estado do Rio de Janeiro são causados em mais de 80% dos casos por ação humana. Seja por balões, guimbas de cigarro, queimadas descontroladas para limpar pasto, queima de lixo, acidentes com churrasqueiras, e até mesmo ação proposital, como já visto na imprensa. O fato é que o homem corrobora para a destruição da fauna e da flora, e em muitos casos, essa destruição é irreversível.

Em Petrópolis, que é uma cidade muito impactada por desastres de origem nas chuvas intensas, provocando movimentos de massa e fenômenos hidrológicos, infelizmente mais de 500 pessoas perderam a vida nos últimos trinta anos, tornando-se a cidade no país com mais registros de óbitos por eventos de desastres. Petrópolis também é muito impactada pelos incêndios florestais, que têm um agravante neste caso. Os incêndios florestais retiram a cobertura vegetal, expondo ainda mais o solo às chuvas e alterando sua composição, o que nos anos subsequentes pode torná-lo mais suscetível a eventos geológicos como escorregamentos e deslizamentos. Por esse motivo, evitar incêndios em Petrópolis é também uma questão de prevenção de desastres!

Neste sentido, temos o dever de ajudar a evitar esse tipo de desastre, seja informando as autoridades sobre o surgimento de focos, denunciando ou até mesmo participando na conscientização de vizinhos, amigos e familiares. Os impactos e danos causados ao ecossistema podem não ser revertidos, e aos poucos alteramos o bioma com a redução da mata nativa. Diante das mudanças climáticas e do agravamento do quadro dos desastres, seja pela redução do tempo de recorrência ou pela intensificação dos fenômenos, podemos dizer que nos próximos anos teremos, sim, eventos cada vez mais extremos.

A estiagem, por outro lado, que se caracteriza pela redução do período de chuvas e também impacta nos incêndios florestais pelo ressecamento da vegetação, tem outras consequências graves para a população. Alguns municípios do Estado do Rio de Janeiro já decretaram situação de emergência devido à estiagem e à crise hídrica. Mangaratiba, Angra dos Reis e Guapimirim já enfrentam problemas severos com a falta de abastecimento em seus territórios, sendo necessárias diversas medidas para tentar reduzir os danos e prejuízos. A estiagem reduz a demanda de volume e vazão dos rios, diminuindo a captação de água para abastecimento da população. A questão do saneamento básico, que muitas vezes despeja esgotos e poluentes in natura nos rios, inviabiliza a captação de água nesse cenário de emergência. Ou seja, mais uma vez o ser humano colabora para o agravamento da crise.

Petrópolis também está sendo impactada pela estiagem e já se registram bairros sem o fornecimento adequado de água. Diante de um cenário de pelo menos mais 20 a 30 dias de estiagem, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), é possível um impacto maior na população não só de Petrópolis, mas de grande parte do país, principalmente pela ocorrência de ondas de calor, que agravam ainda mais o cenário.

Assim, é necessário entender os desastres e iniciar, mesmo que tardiamente, um processo de integração de políticas públicas para que o saneamento básico e outras ações de mitigação e redução de riscos sejam prioridade nos governos de todas as esferas.

Os recentes desastres demonstraram a falta de preparo de muitas defesas civis no país, com inúmeros problemas de estrutura, pessoal e material, que acabam expondo a população aos desastres, tornando ainda mais vulneráveis aqueles que precisam ser protegidos.

Assim, é fundamental entender e tratar os incêndios florestais e a estiagem como desastres que são, e que necessitam da integração de todas as esferas de governo para que sejam efetivamente executadas todas as ações de um desastre, tais como prevenção, preparação, mitigação, resposta e reconstrução, conforme previsto na Lei n.º 12.608/2012. Isso é mais que um dever dos governos, é uma obrigação para toda a população, que deve zelar pelas nossas florestas, nosso primeiro habitat natural!

Seguimos firmes!

Últimas