O engraxate

06/09/2016 09:00

Há certas profissões que lamentavelmente estão a desaparecer.

A verdade é que se procurarmos um alfaiate em busca da confecção de um bom terno, talvez não mais o encontremos; por outro lado, as senhoras também não mais dispõem das famosas costureiras, que tão belas vestimentas confeccionavam; desta forma, ocorre, outrossim, com sapateiros e muitas outras profissões que caíram em desuso.

Em conversa com um amigo, há dias, comentávamos acerca do assunto; e ele dizia: “é uma pena não mais dispormos de um bom alfaiate”; e eu o respondi, de pronto: “é verdade, eis que me recordo do primeiro e único alfaiate de meu pai e que passou a ser meu; o sempre lembrado Pompílio Fiorini”.

E continuamos o diálogo quando o amigo deixou frisado com relação ao desaparecimento da figura do engraxate.

Na verdade, não mais se encontram engraxates, costureiras, alfaiates e tantas outras profissões.

Todavia, durante a conversa, o mesmo repisou quanto à figura, exatamente, do engraxate e, à guisa de “balela”, comentou acerca de uma interessante passagem vivida por ele e seu filho quando a atividade ainda subsistia. 

E eu, curioso, lhe perguntei: o que, na verdade, se deu entre o amigo, seu filho e o engraxate?

E ele, já delineando um sorriso no rosto, conta-me o episódio e eu, curioso, ouvindo.

“Ora, meu caro, o fato realmente ocorreu e se trata do seguinte: um belo dia dirigi-me ao engraxate Sebastião, que também atendia meu filho e ao chegar à cadeira e nela subindo, o profissional, como sempre, deixou os meus sapatos a brilhar. E eu, ao descer, paguei ao mesmo pelo bom serviço prestado. Concomitantemente, dei-lhe a gorjeta a que estava acostumado e, nesse mesmo momento, o engraxate indagou-me: “por que razão o senhor me gratifica com importância menor do que aquela a que seu filho o faz?”

E o amigo, após me olhar e já sob risos, relatou-me quanto à resposta que dera ao engraxate: “meu filho assim age porquanto tem pai rico”.

E eu acreditei, sem “pestanejar”. 


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