O Exemplo de São João Batista
A Igreja celebra o nascimento de São João Batista como um acontecimento sagrado. Santo Agostinho diz: “Dentre os nossos antepassados, não há nenhum cujo nascimento seja celebrado solenemente. Celebramos o de João, celebramos também o de Cristo”. Com exceção à Virgem Maria, o Batista é o único santo do qual se celebra tanto o nascimento, a 24 de junho, como a morte ocorrida através do martírio. Celebra o seu nascimento porque está estreitamente ligado ao Mistério da Encarnação do Filho de Deus.
Desde o ventre materno, de fato, João é o precursor de Jesus: sua prodigiosa concepção foi anunciada pelo Anjo a Maria, como sinal que ”nada é impossível a Deus” (Lc 1, 37), seis meses antes do grande milagre que nos dá salvação, a união de Deus com o homem por obra do Espírito Santo.
Diz a Palavra de Deus: “Houve um homem enviado por Deus: o seu nome era João. Veio para dar testemunho da luz e preparar para o Senhor um povo bem disposto a recebê-lo” (cf. Jo 1,6s; Lc 1,17).
O Prefácio da Missa apresenta João como o maior entre os nascidos de mulher, o único dos profetas que mostrou o Cordeiro Redentor; o Batista que batizou o autor do Batismo e o mártir que deu o verdadeiro testemunho de Cristo.
Diante de João Batista encontramo-nos com um homem coerente! Ele exige conversão pelo testemunho de vida e pela pregação. Convida-nos a preparar os caminhos do Senhor pela prática da justiça. Quem é João Batista? Ele mesmo responde: “Eu sou uma voz, uma voz no deserto”, mas, é uma voz sem Palavra, porque a Palavra não é ele, é Outro, é Jesus. João constitui a ressonância da Palavra. “Eis então, qual é o mistério de João: Nunca se apodera da Palavra. João é aquele que indica, que assinala. O sentido da vida de João é indicar Outro” (Papa Francisco).
João apresenta a linha divisória entre os dois Testamentos. Os quatro Evangelhos dão grande destaque à figura de João Batista, aquele profeta que conclui o Antigo Testamento e inaugura o Novo, indicando em Jesus de Nazaré o Messias, o Consagrado do Senhor! A sua pregação foi o começo do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus (Mc 1,1). E o seu martírio foi um presságio da Paixão do Salvador. Contudo, “João era uma voz passageira; Cristo é a Palavra eterna desde o princípio” diz santo Agostinho.
Contemplando, hoje, a grande figura do Batista, que cumpriu tão fielmente a sua missão, podemos pensar se também nós aplainamos os caminhos do Senhor, para que Ele entre nas almas dos nossos amigos e parentes que ainda estão longe da sua amizade, e para que os que estão próximos se deem mais generosamente. Nós cristãos, somos os arautos de Cristo no mundo de hoje. “O Senhor serve-se de nós como tochas, para que essa luz ilumine… Depende de nós que muitos não permaneçam nas trevas, mas andem por caminhos que levam até à vida eterna” (Forja, n°1).
O Senhor deseja que O anunciemos por meio de nossa conduta e da nossa palavra no ambiente em que nós desenvolvemos, ainda que nos pareça que esse apostolado não tenha grande alcance. A missão que o Senhor nos encomenda atualmente é a mesma de João: preparar os caminhos, sermos seus arautos, os que O anunciam aos seus corações. A coerência entre a doutrina e a conduta é a melhor prova da validade daquilo que proclamamos; e é, em muitas ocasiões, a condição imprescindível para falarmos de Deus às almas.
“É preciso que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30). A missão do arauto é desaparecer, ficar em segundo plano quando chega aquele que foi anunciado. Uma virtude essencial em quem anuncia Cristo é, pois, a humildade. No apostolado, a única figura que deve ser conhecida é Cristo. Ele é o tesouro que anunciamos e é a Ele que temos de levar os outros.
João, diante de Cristo, considera-se indigno de prestar-lhe os serviços mais humildes, reservados ordinariamente aos escravos de ínfima categoria: trazer e levar as sandálias, desatar-lhes as correias.
“Eu não sou o Cristo, mas fui enviado à sua frente. É preciso que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3,27-30). Esta é a tarefa de nossa vida: que Cristo tome conta do nosso viver. Convém que Ele cresça… Então a nossa felicidade não terá limites, pois poderemos dizer com o Apóstolo: “já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Na medida em que Cristo for penetrando mais e mais nas nossas pobres vidas, a nossa alegria será irreprimível.
Com a sua vida e as suas palavras, João deu testemunho da Verdade: sem covardias perante os que ostentavam o poder, sem se deixar afetar pelos louvores das multidões, sem ceder às contínuas pressões dos fariseus. Deu a vida em defesa da lei de Deus contra todas as conveniências humanas: “Não te é permitido ter a mulher do teu irmão” (Mc 6,18), disse a Herodes.
De profeta autêntico, João deu testemunho da verdade sem condescendências. Denunciou as transgressões dos Mandamentos de Deus, também quando os protagonistas eram os poderosos!
Diante de João Batista todos nos sentimos pequenos.
Cada um de nós é chamado a ser João Batista, a mostrar Cristo presente entre os homens do nosso tempo; a fazer a oração: Senhor, quero ser tua voz no meio do mundo, no ambiente e no lugar onde queres que transcorra a minha vida.
Assim, quando acusou de adultério Herodes e Herodíades, pagou com a vida, selando com o martírio o seu serviço a Cristo, que é a Verdade em Pessoa. Invoquemos a sua intercessão, juntamente com a de Maria Santíssima, para que também nos nossos dias a Igreja saiba manter-se sempre fiel a Cristo e testemunhar com coragem a sua verdade e o seu amor a todos.
A Virgem Maria ajudou a parente idosa Isabel a levar até o fim a gravidez de João. Ela ajuda todos a seguir Jesus, o Cristo, o Filho de Deus, que o Batista anunciou com grande humildade e ardor profético!
Que São João Batista interceda por nós e por toda a Igreja!