O ilusionismo

22/01/2018 14:00

Quando criança, gostava de ir ao circo, principalmente para ver os mágicos, pois ficava fascinado, tentando descobrir o que eles faziam. Queria saber como induziam o público a pensar que o improvável acontece por meio da arte que praticam. 

Aos olhos dos adultos, o ilusionismo ou a prestidigitação consiste em uma arte performática que requer muita técnica e treinamento. Porém, mesmo sabendo que tudo não passa de um truque fascinante, admiramos esses artistas que entretêm a plateia de forma elegante, pois se apresentam sempre como cavalheiros, gentis. Esse era outro ponto que também chamava a minha atenção: as cartolas deles eram diferentes dos chapéus de couro que estava habituado a ver no Nordeste. 

O truque que mais me fascinava era a levitação. Aquele em que eles colocam uma mulher sobre uma superfície forrada, apoiada em duas cadeiras. Depois, retiram estas e passam um aro sobre o corpo com intuito de mostrar que ela está levitando.  Vi isso pela primeira vez em um circo armado no local em que foi construída a Praça da Bandeira, em Teresina.

Admiro o trabalho dos artistas circenses. Mas na política, é inconcebível o ilusionismo. São inaceitáveis as demagogias. É inadmissível a ilusão que se propaga diante do povo. Subestimar a inteligência da sociedade é cruel. Hoje, com o avanço dos meios de comunicação, o senso crítico se desenvolve a cada dia, dando à população a oportunidade de questionar as informações jogadas na mídia.

Vi, pela tv, uma propaganda institucional, apresentando como um grande feito o índice da inflação de 2017, que ficou em 2,95%, abaixo da meta fixada pelo governo, estipulada em 3%, conforme as informações fornecidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 Isso foi citado como fato inédito, uma vez que não ocorria desde de 1999. Mas é preciso ressaltar que o país atravessa um período de recessão, com uma taxa de desemprego alta, com a economia estagnada. É válido mencionar também que o PIB de 2016, foi negativo, teve uma queda de 3,6%. O poder de compra da população diminuiu, sem falar no endividamento.

O índice de reajuste do salário mínimo de 2018 é outro fato que deve ser evidenciado, ficou em 1,81%, abaixo da inflação divulgada. E a meta da inflação projetada para este ano está em 4%, sou seja, o reajuste do salário mínimo não apresentou ganho real, ficou abaixo dos índices inflacionários. 

Diante da situação econômica do país, no dia 11/01, a agência internacional de risco Standard & Poor’s (S&P) rebaixou o Brasil de “BB” para “BB-”. A menor colocação desde 2005. Fato este que fez o Brasil perder o selo de bom pagador. Por essa razão, os investidores estrangeiros ficarão mais cautelosos, porque são alertados sobre o risco dos investimentos no país. E sem investimento, a criação de emprego fica limitada. Contribuiu para isso, o alto déficit do governo central. A dívida pública federal, que envolve os endividamentos do governo tanto no Brasil como no exterior, aumentou 0,22% em outubro do ano passado, foi para 3,43 trilhões, conforme informou a Secretaria do Tesouro Nacional.

A equipe econômica do governo não deve ter gostado desse rebaixamento, porém essa é a regra do sistema capitalista no qual o país está inserido. Nesse caso, não há o “toma lá dá cá” da compra de votos, pois está em jogo a credibilidade da agência. 

Os números revelam a gravidade do problema, que não será resolvido com passe de mágica. E, nessa crise, quem mais sofre é a população assalariada.

– No circo, o público é mais respeitado.

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