O momento é dos Pinóquios

22/10/2016 12:00

Certa ocasião, Abelardo Romero, meu pai, escritor, poeta e respeitável cronista político, me falou: – meu filho, se eu for candidato a um cargo público, não vote em mim. Perplexo e ao mesmo tempo curioso, perguntei: – por quê? E ele, imediatamente me respondeu: – porque, se eleito, deixarei de ser honesto. Quer dizer então que o senhor acredita que todo político é ladrão? Não precisa deixar de ser honesto para ser ladrão – respondeu. Basta que precise barganhar, ceder e apoiar, em troca de apoio. Aceitar algo em que intimamente não concorda para levar vantagens mais adiante, é desonestidade. É isso que faz todo aquele que pretende seguir a carreira política. Não existe e nunca existiu um só político que tenha sido inteiramente honesto e que nunca tenha cedido ou barganhado para que pudesse alcançar seus objetivos, por mais puro e 

direcionado inteiramente em benefício da sociedade, seja ele vereador, deputado, senador, governador ou até presidente. O governador, por exemplo, para que um projeto de lei seja aprovado, vai depender do apoio da maioria da câmara dos vereadores. E é aí que, na maioria das vezes, entra um tipo de barganha. Já o presidente do país para ver aprovado um projeto lei, vai depender do apoio da maioria da câmara dos deputados. Depois de discutido e aprovado pela maioria dos deputados, o referido projeto para virar lei, terá que receber o aval do Senado Federal. Como todos nós sabemos o candidato a um cargo público, precisa, para se eleger, fazer promessas mirabolantes, que ele sabe de antemão, que não poderá cumprir. Se eu for eleito, diz determinado candidato a vereador de um município, resolverei o eterno problema da saúde pública de nossa cidade.  Diz isso como se os recursos do município, normalmente já comprometidos, estivessem sobre seu inteiro poder, como está sua carteira de notas em seu bolso. Vai daí a quantidade de Pinóquios a discursar e a prometer para a população, o que não vai poder cumprir, por não depender apenas dele, visando angariar votos. Seria tão interessante se pudéssemos ver nos candidatos a vereador e a prefeito de nossa cidade, o nariz do Pinóquio a crescer a cada promessa não cumprida, não seria legal?

Edgard Romero, conceituado ministro da era Vargas, tio de meu pai, e sabedor da integridade de caráter de seu sobrinho, e de seu conhecimento político, pretendeu fazer dele vereador, apoiando e bancando toda a sua campanha. Como meu pai declinou do convite, por motivos que já expliquei acima, Edgard lançou José Romero, meu tio, irmão caçula de meu pai e que havia se tornado, como soldado da força expedicionária brasileira, herói da segunda guerra mundial. Na época, José Romero foi um dos vereadores mais votados. Ele, além de ser meu tio predileto era meu padrinho de crisma. Eu fiz a ele, logo que tomou posse, um único e simples pedido: que conseguisse pra mim uma transferência, ou melhor, uma simples troca de Secretaria, para que eu pudesse sair da Secretaria de Finanças, e passar para a de Cultura, que como escritor e ator, tinha tudo mais a ver comigo. Em suma; Não pedi mudança de cargo, ou qualquer vantagem financeira. Pois bem, durante 35 anos trabalhei na tal Secretaria de Finanças, e nela fui aposentado. Isto, amigo leitor, é o melhor exemplo que eu posso dar sobre política pública. 

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