O mundo maravilhoso do soneto

07/04/2018 13:00

Não preciso ser músico para avaliar uma boa música e nem pintor para apreciar uma bela pintura. Assim, não preciso ser grande poeta para valorizar um belo poema, mas conheço bem as regras para se montar um soneto clássico que, convenhamos, raros saberão como fazer, mas é uma necessidade do poeta, mesmo que nunca use tal recurso.

Escrevi para o site da ABP – “Casa de Raul de Leoni” um longo artigo, dando as coordenadas sobre o assunto – “Vamos falar de soneto? – com o que angariei alguns amigos virtuais e uma grande amizade com a atual sonetista Regina Coeli, do Rio. Muito dedicada, se entregou ao assunto no primoroso blog, “O secular soneto”, com trabalhos antigos e atuais, pesquisa onde os interessados poderão consultar o farto material.  

A “aberração” é que contraria declaração de alguém desta cidade de que, em 10 ou 20 anos ninguém mais saberá o que vem a ser um soneto – palavras ocas de quem pisa em terreno alheio. Quem consultar o blog acima, concluirá que ele esta com força, vindo de todos os cantos do país e de Portugal. O fato da mídia não abrir espaço, nada significa na opinião dos apreciadores do gênero, como da mesma forma é a trova desprezada por muitos, nem por isto em queda na preferência popular, contrariando outra “sapiente” – Adriana Calcanhotto – quando disse que “o estilo de poesia metrificada mais em evidência, seria o haicai”. Ignoro onde foi garimpar tal “preciosidade” se, dito pela própria, pouco entende do assunto. 

 Na década de ´60, conheci “Seu Juquita Soares” que dizia ser do tempo em que se declamava Bilac nas escadarias do Theatro Municipal. Anos depois, cruzei caminho com meus mestres, já falecidos – Roger Feraudy e Romildes de Meirelles – e enveredei pelo “mundo maravilhoso do soneto”. Aliás, Petrópolis sempre abrigou sonetistas respeitáveis, e ainda abriga, para contradizer as más línguas – basta conhecer os “ossos do ofício”. E me defino num de meus primeiros sonetos, um alexandrino – “EU CONFESSO”:

“Sem querer ser modesto e falando a verdade,/ digo sempre: poeta não sou, mas um mero/ aprendiz persistente em rimar com esmero,/ sem jamais um poema atingir qualidade .

Ser culpado do crime, eu confesso à-vontade:/ faço versos sem classe ou motivo e assevero -/ pretensão nunca tive a de ser um Homero,/ pois preciso ser franco com toda humildade.

Posso até acertar na montagem com brio,/ com a métrica certa ou a rima em debrum,/ mas me falta cadência e me faz suar frio!

Mesmo assim, sou feliz, sem remorso nenhum:/ é perfume que esparge  ao acaso vadio, / são momentos de fuga e de entrega incomum.”

E todos opinam ignorando seu verdadeiro valor, correndo atrás de eternas facilidades, querendo ser poeta sem base.

jrobertogullino@gmail.com

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