O Mundo Religioso : a definição da data da Páscoa cristã

Muitos cristãos certamente se perguntam por que a Páscoa cai todo ano em data diferente. E há certamente muitos que sabem qual a fórmula usada para se definir esta data. A pergunta pela definição da data da Páscoa remonta aos primeiros tempos do Cristianismo. Como sabido, este nasce no seio do Judaísmo e assume dele a festa da Páscoa, dando-lhe outro significado: a salvação trazida pela ressurreição de Jesus. Se a festa foi ressignificada, o que dizer da data de sua celebração? Já no século II há notícias da formação de duas tradições sobre esta data: a Igreja de Roma, de Alexandria e outras tanto ocidentais como orientais comemoravam a festa da Páscoa no primeiro domingo depois da primeira lua cheia da primavera (isto no hemisfério norte, o que corresponde ao início do outono no hemisfério sul). Já as igrejas da Ásia Menor, e entre elas a importante comunidade de Éfeso, celebravam a Páscoa no 14º dia da lua cheia da primavera. Estas seguiam o calendário judaico – a Páscoa celebra-se no 14 de Nisan – seguindo a teologia de São João, que entende que Jesus foi imolado como cordeiro pascal, no mesmo dia em que os judeus celebravam a Páscoa legal. Assim, a Páscoa para parte das Igrejas era celebrada sempre num domingo e muitos sínodos locais e regionais definiram que “o mistério da ressurreição do Senhor dentre os mortos não deve ser celebrado em outro dia que não o domingo”. Mas muitas Igrejas, seguindo a comunidade de Éfeso, tinham outra data. Pelo ano de 154, o bispo de Roma Aniceto encontrou-se com o bispo de Éfeso Policarpo, para discutir a questão. O encontro teria sido encerrado na concórdia e comunhão eclesial, mas nenhum dos dois lados cedeu à argumentação do outro, continuando a divergência sobre a data da Páscoa. No final do segundo século, o papa Vítor irá escrever uma carta a Polícrates, bispo de Éfeso, exigindo que a Páscoa fosse celebrada em data consonante com a Igreja de Roma. Este respondeu argumentando firmemente com a tradição apostólica da data de Éfeso. A documentação a respeito da controvérsia só se tem por fragmentos de outros escritos, de modo que não mais é claro o seu desfecho. Sabe-se que Irineu de Lion interveio mediando as partes. A controvérsia sobre a data da festa cristã da Pascoa irá durar ainda um bom tempo e foi tema do Concílio de Niceia (ano 325), que impôs para todas as Igrejas que a Páscoa será celebrada no primeiro domingo que segue à primeira lua cheia da primavera. E esta definição permanece até hoje. Mas como a fixação do calendário como o conhecemos atualmente não havia ocorrido à época, ainda que se use o mesmo critério para definir a data da celebração da Páscoa, até nossos dias ela não é celebrada no mesmo dia por conta dos calendários diversificados.

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