O mundo violento de ‘A Maldição de Cinderela’

27/jun 07:02
Por Matheus Mans / Estadão

Os primeiros 20 minutos de A Maldição de Cinderela, em cartaz nos cinemas, dão a sensação de que as coisas vão correr quase normalmente: Cinderela (Kelly Rian Sanson) está indefesa, na casa da madrasta, e vê uma oportunidade de mudar de vida ao ser elogiada pelo príncipe (Sam Barrett, divertidíssimo) que está passando por ali. Será?

Logo a diretora Louisa Warren, com roteiro de Harry Boxley e Charles Perrault, mostra que as coisas não são bem assim. Bebendo da fonte de Ursinho Pooh: Sangue e Mel, o longa coloca essa personagem infantil em um mundo cheio de violência, sangue e tripas. O príncipe mente para Cinderela – ele quer, na verdade, transformá-la em chacota.

O sapatinho de cristal vira uma arma fatal. As filhas da madrasta se tornam o verdadeiro saco de pancadas aqui, enquanto a Fada-Madrinha, a melhor coisa do filme, é um ser bizarro com um vestido azul roto. É um filme trash, de baixíssimo orçamento, que ri de si próprio.

“A empresa para a qual eu trabalho estava explorando histórias de domínio público. Eu já havia dirigido muitos filmes para essa empresa e, basicamente, recebi uma ligação na qual me perguntaram se eu gostaria de dirigir um filme da Cinderela com uma reviravolta na história original. E eu disse sim, isso é incrível”, relata a diretora ao Estadão. Ela e Kelly Rian Sanson vieram ao Brasil para divulgar o filme.

Do lado de Kelly, o filme é a realização do sonho de interpretar a personagem, bastante conhecida pelo filme da Disney – que, vale lembrar, não está em domínio público, tendo de manter a inspiração para o filme apenas no conto de origem. “Estou honrada por interpretar uma personagem tão icônica”, conta a atriz. “Fiquei muito animada em vivê-la e ser uma personagem tão desequilibrada. Foi muito divertido”, explica ela.

Nos tons sangrentos do filme, é difícil não traçar alguns paralelos. Cinderela deixa de ser a gata-borralheira de sempre para ter um tom mais forte de vingança – é quase Carrie, a Estranha, querendo sanar a vergonha com mortes. Ainda tem algo muito forte de Hellraiser, com criaturas deformadas que perseguem aqueles que o invocam para o lado de cá.

“Eu me inspirei em Carrie, obviamente. É um filme a que adoro assistir, com todas aquelas mortes criativas. Evil Dead (A Morte do Demônio) tem o livro e as criaturas demoníacas, que são bem parecidas com o que temos no nosso filme. Eu também adoro Jogos Mortais, com todo aquele gore e os recursos extremos que eles têm em seus orçamentos”, continua a diretora.

SEQUÊNCIAS

No final, A Maldição de Cinderela é apenas a ponta do iceberg de um número cada vez maior de filmes que brincam com o terror a partir do domínio público – antes da sessão do novo longa para a imprensa, deu para sentir um déjà-vu com o anúncio de outro filme sobre a princesa, chamado A Vingança de Cinderela. Será que tem um fim? “Espero que não”, diz rindo a diretora, que já tem cinco filmes sobre a Fada do Dente no currículo. “Acho que podemos esperar novos filmes de terror sobre princesas para muito breve.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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