O Natal na literatura

20/12/2019 12:30

Como data magna da Cristandade, o Natal não poderia deixar de figurar entre os principais temas da literatura ocidental. Desde a Idade Média, o Natal vem tendo seu simbolismo e sua representação fortemente assinalados. Assim, julgamos oportuno relacionar os principais autores e textos dedicados ao Natal. Na Idade Média, o Natal era uma festa exclusivamente religiosa e os textos, escassamente criativos, tiveram quase nenhuma importância literária. Somente com a Renascença é que os textos adquirem valor literário. Em Portugal, destaca-se Gil Vicente com seu Auto dos Reis Magos (1510) e, na Espanha, salienta-se Lope de Vega com o romance pastoril Los pastores de Belén (1612), que só se salva pelo seu lirismo. Durante o Barroco, o Natal foi pouco explorado e quase sempre por autores de mínimo valor. Ressalve-se contudo o Padre Manuel Bernardes (1644-1710) com sua “Lenda dos bailarins”(em Nova Floresta), belo exemplo de conto religioso com lição moral. 

Com o advento do Arcadismo e do IIuminismo, aumentou o sentimento anticlerical na Europa, culminando na Revolução Francesa (1789-1794). O Natal na literatura só ressurgiu com o Romantismo (séc.XIX). Foi quando o tema natalino ganhou enorme impulso: vários escritores se ocuparam do Natal, deixando obras memoráveis sobretudo no conto. Entre os europeus e os norte-americanos distinguem-se Dostoievski (“Uma árvore de Natal e um casamento”), Guy de Maupassant (“Conto de Natal”), Alphonse Daudet (“As três missas do galo”), Selma Lagerlof (“A lenda da rosa de Natal”), Nathaniel Hawthorne (“A consoada do quaker”), O. Henry (“Natal no rancho”), o português Fialho de Almeida (“Conto de Natal”) e, já no século XX, Maxim Gorki (“Sonho de uma noite de Natal”). 

Acima de todos, porém, tornou-se famoso o inglês Charles Dickens (1812-1870), com seu mundialmente célebre Christmas Carol (“Cântico de Natal”), que fixou para sempre a figura do ricaço Scrooge, personagem do tipo ideal de avarento que se redime no fim da vida e faz da generosidade a razão de ser de sua velhice. 

No Brasil. Entre nós o tema do Natal também começou a se desenvolver no século XIX. O mais importante foi Machado de Assis, com a obra-prima que é o conto “Missa do galo”. A partir do Modernismo, o tema foi assunto de vários contistas, entre os quais se destacam Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade e Marques Rebelo. Não convém esquecer o poeta João Cabral de Melo Neto (1920-1999), que publicou um auto de Natal, “Morte e vida Severina” (em Duas águas, 1956), onde, mesclando o popular ao acabamento artístico intelectual, juntando o nascimento de Jesus a um filho de pobres nordestinos na miséria, confere um alcance mais profundo ao mistério do Natal. Boas festas.

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