O novo Look Dior: Maria Grazia Chiuri revoluciona mais uma vez

03/10/2021 07:03
Por Alice Ferraz / Estadão

Paris está em festa. Afinal, essa é a primeira semana de moda presencial após longos dois anos virtuais. E entrevistar pessoalmente Maria Grazia Chiuri, a diretora criativa de uma das casas de moda mais icônicas do mundo neste momento específico, em que o mercado exige transformações, significa tentar entender qual é o apetite da moda pela metamorfose que a mesma tem sido obrigada a aceitar. Se alguém pudesse nos oferecer essa visão, seria ela.

Aos 57 anos, a designer italiana é a primeira mulher no comando da grife francesa e, desde que assumiu a liderança em 2016, mantém uma voz feminista, engajada em combater uma imagem única da mulher na moda. “A roupa é, de uma certa forma, a primeira casa do nosso corpo. Ela está em constante diálogo com ele e suas transformações expressam mudanças naturais de cada pessoa. Então, é impossível que seja vista como algo superficial – a moda é uma linguagem que expressa quem somos e quem queremos ser no momento. Para a mulher, ela traz a liberdade de se mostrar como quiser, com sua própria feminilidade e atitude”, explica a estilista logo no começo da conversa. O problema é que essa moda que era feita para a tal liberdade que Maria Grazia viveu em sua geração como algo que a definia e trazia confiança para enfrentar desafios foi evoluindo para um mercado opressor, no qual corpos tinham de se encaixar em determinado padrão. Na Dior comandada por Grazia, a liberdade da mulher é inegociável.

No repertório da estilista, sua moda nasce de um território rico em conhecimento feito a partir de intensas pesquisas para criar coleções em que se visitam e compreendem outras culturas, os valores locais, os trabalhos de artistas manuais de cada região do planeta, para que se abram novas conversas com o público consumidor da Dior. “A realidade por trás de cada coleção e de cada show apresentado é a de um profundo conhecimento técnico e de reconhecimento da manufatura têxtil de cada lugar. Quando a Dior como casa de moda faz colaborações locais, ela valoriza esses trabalhos e joga luz para que localmente eles sejam reconhecidos também. Existe um aspecto social nessa cooperação e estamos comprometidos como plataforma a mostrar sempre o valor de outras culturas para nosso público”, diz.

O feminismo é um assunto natural na conversa e Maria Grazia fala abertamente sobre a cultura patriarcal em que mulheres estão inseridas e sobre a visão de juventude que nos foi imposta. “Temos de entender que nós, mulheres, fomos criadas nessa cultura, temos que olhar para dentro para entender quem realmente somos e quebrar esse padrão. Somos responsáveis por essa nova atitude, por essa mudança na mensagem que estamos transmitindo”, completa.

A coleção primavera-verão 2022, especificamente, é uma revolução. Ela chega para mostrar que o ímpeto de mudar impera na sociedade atual e é por isso que sua principal referência foram os anos 1960, época em que o comportamento social se transformou. “Acho que de certa forma essa nova geração não concorda com todos os valores que propusemos para eles, assim como ocorreu na década de 1960. Depois desses dois anos, nos quais muitos criticaram a moda, é importante lembrar que ela é uma expressão da liberdade. As pessoas não querem um uniforme, cada um quer ser único. E as roupas te ajudam a se definir.”

Liberdade: é isso que vemos na passarela da Dior. A silhueta anos 1960 com minissaias – que Maria Grazia me garante que também chegaram em comprimentos mais longos nas lojas – aparecem supercoloridas. O corte é quadrado e geométrico e a criatividade reina. É moda para se expressar e para viver. Prova de que a diretora criativa é uma mulher que entende os tempos atuais, que não tem medo de se arriscar e que a cada temporada nos mostra toda sua potência.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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