O pior dos pesadelos

11/08/2018 09:30

Além de o eleitor ter que peneirar muito para achar trigo no joio das sofríveis candidaturas postas à mesa das eleições de 2018, há um pesadelo possível: uma disputa final Bolsonaro x Lula ou seu poste. O capitão, que pôs um general como subalterno, e o presidiário, que insiste no faz-de-conta de “preso político”, mas escolheu seu poste. Uma batalha lastimável, com o nosso pior: ditadura x corrupção. 

Capitão de artilharia, Bolsonaro é um arauto dos porões da ditadura que, contra a história, insiste em negar. Distribuindo patadas arrojadas e sandices inesperadas, com linguajar de caserna, tem obtido a adesão dos desencantados. Exaustos de tanta mentira e ladroagem, o têm como opção de protesto e revolta. Um Cacareco. O rinoceronte que em 1959, com 100.000 votos, foi o mais votado nas eleições paulistanas. Mas os eleitores de Cacareco sabiam que um rinoceronte não governaria. Não consigo crer que a maioria de eleitores de Bolsonaro realmente acredite que ele é capacitado a governar país tão complexo e em crise tão profunda. E se ganhar? O país não aguenta mais um desgoverno. 

Capitão normalmente comanda uma companhia, com o quê? 150 homens? E não precisa exatamente “governá-la”. Dá ordens, que normalmente recebeu de um superior. Linha reta e dura, sem qualquer negociação, traquejo político ou jogo de cintura. Bolsonaro, então, jamais administrou nada. Sequer a si mesmo! Destemperos verbais mostram que não se domina. A sabedoria combinada de provérbios bíblicos e japoneses, ensina: quem controla a língua domina o corpo, e quem domina o corpo, governa a si mesmo e quem governa a si mesmo governa o adversário. Logo, em operação de lógica inversa, um capitão que jamais governou nada e não domina sua língua, não controla a si mesmo, e portanto, jamais conseguirá governar alguém. 

Mas há essa miopia perigosa, da paixão filha da fúria, que enxerga virtudes mesmo nos piores defeitos do candidato. Bolsonaro é louvado como “mito”. Sua grosseria passa por assertividade. A afirmação do seu assustador despreparo em economia, é lida como manifestação de humildade. Ora, um presidenciável deve estar habilitado ao menos a dizer de mecanismos e estruturas básicas de seu projeto econômico. O que nos remete ao Lula candidato de outrora. Por sua eterna profissão de presidenciável, ao contrário de Bolsonaro, ele decorou rudimentos de discurso econômico. Mas dava vexames ao dizer ao mundo que não tinha paciência para livros, ao afirmar claramente que mentia em discursos mundo afora e ao jamais se cansar de autoproclamar-se um messias, a “alma mais pura do país”. Não soube aproveitar o fugaz “sucesso” econômico, fruto de conjuntura internacional favorável, para nos dar crescimento real em vez de Bolsa-Família. Seu despreparo é o grande responsável pela crise atual. Mesmo se desconsiderarmos a monstruosa corrupção que comandou, geriu mal o país, o PT e a sua sucessão. Pôs no palácio as incompetências de Dilma e Temer, suas crias que, em conjuntura internacional mais negativa, fizeram explodir a fragilidade do projeto petista. Lula, então, é o pai desse lodaçal em que estamos. O eventual retorno à cena dessa mediocridade, ainda que via poste, dará no acirramento de ânimos que pode nos meter numa Venezuela.

Com todo respeito aos apaixonados de ambos os lados, a mim parece o pior dos pesadelos, uma eventual disputa Bolsonaro x poste do Lula. Que não precisemos passar por isso.

denilsoncdearaujo.blogspot.com

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