O poder da cura do riso solto

26/07/2020 09:14

Existem inúmeras provas de que o riso pode fazer muito bem à saúde. Ele é capaz de reduzir a pressão arterial, aliviar a ansiedade e proporcionar sensações agradáveis. “Sorrir estimula a produção de endorfina, que são hormônios responsáveis pelo bem-estar e diminuição do estresse. Então, sorrir é cientificamente comprovado como um aliado da saúde”, afirma Mariana Franco, terapeuta ocupacional do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil.

Para o pequeno Osmar Rabello de Andrade Neto, de sete anos, o bom humor o ajuda a lidar com a recuperação de um transplante de medula óssea. “Em 2019, o Neto apresentou uma doença neurológica chamada Krabbe juvenil e comprometeu a parte motora dele. Fazer o transplante de medula óssea foi a única esperança que tínhamos para a doença não evoluir. O bom humor e pensamentos positivos sempre foram presentes durante todo esse período angustiante no hospital”, afirma o pai do garoto, Marcelo Pignataro Martins dos Santos. Internado no Centro de Transplante de Células-Tronco do Itaci, Osmar acompanhou o trabalho virtual dos Doutores da Alegria. “No caso de transplante de medula óssea, que é um processo demorado, a chamada de vídeo dos Doutores da Alegria ajuda na distração dele, dando carinho e atenção”, diz.

Davi Lourenço Rodrigues Bacanelli, de dois anos, que mora em Araçatuba, no interior de São Paulo, está internado desde o dia 8 de julho no departamento de Oncohematologia do Itaci.

Após acompanhar a evolução de febre e um volume anormal do abdome do pequenino, a mãe, Juliana de Souza Rodrigues, o levou ao hospital. “Desde maio percebi que a barriga do Davi estava com um volume anormal e o levei ao pronto-socorro. Ele tinha bastante febre e reclamava de dor. Me encaminharam para a Santa Casa da minha cidade, onde os médicos fizeram vários exames e conseguiram ver que havia uma massa, um tumor atrás do fígado. Eles acharam que o Davi deveria vir para um hospital especializado em câncer. Surgiu uma consulta no Itaci e desde esse dia estamos aqui internados, fazendo vários exames para diagnóstico e tratamento”, conta. Mãe e filho também acompanharam a atuação dos palhaços Doutores da Alegria. “Confesso que no momento esqueci que estava em um hospital e nessa situação com o Davi. O humor me fez e me faz bem. O Davi está tendo irritabilidade, o que está dificultando a comunicação dele com outras pessoas. No momento da vídeo chamada, ele ficou muito bem”, disse.

Em tempos de pandemia do novo coronavírus, os Doutores da Alegria teve de se adaptar. “Foi a primeira vez em 28 anos que deixamos de intervir junto aos nossos pacientes. O palhaço necessita da participação do encontro para começar algo que tenha significado para o paciente e as famílias. Atuar à distância parecia uma ‘contramão’ da nossa capacidade e daquilo que somos e sempre acreditamos, mas sabíamos que o campo virtual era o caminho”, explica Luis Vieira da Rocha, diretor-presidente do grupo Doutores da Alegria, em entrevista ao Estadão.

No início, o grupo incentivou os artistas a criarem e produzirem vídeos em casa. Os vídeos do Delivery Besteirológico sempre são postados nas mídias sociais e já alcançaram mais de seis milhões de pessoas. “A partir da relação já construída com os profissionais de saúde dos hospitais, o próximo passo foi contar com eles para que distribuíssem os vídeos, por Whatsapp, para os pacientes e familiares, divulgando como acessar o acervo produzido no YouTube. Em caráter experimental, também iniciamos visitas online de uma dupla de palhaços no Hospital do M’Boi Mirim e no Itaci. No Recife e no Rio de Janeiro, onde também atuamos, lançamos, respectivamente, uma websérie de São João, inspirada em um cordel tradicional pernambucano, e o Delivery Plateias Hospitalares, adaptando para o formato online o projeto que seleciona artistas para apresentações em hospitais públicos”, destaca Rocha.

Neste domingo (26), o Doutores da Alegria fará uma grande live, intitulada Festival Miolo Mole, para arrecadar fundos para o projeto. Toda a renda obtida por meio de doações durante o evento, via QR Code, será revertida para a manutenção das atividades da associação, que trabalha com públicos em situação de vulnerabilidade e risco social em hospitais públicos de São Paulo, Recife e Rio de Janeiro.

“Há aproximadamente dois anos iniciamos o planejamento do Festival Miolo Mole, que vinha sendo pensado para ser um grande evento gratuito num parque na cidade de São Paulo.

Depois do isolamento social que estamos vivendo, adaptamos a ideia para o formato digital. O objetivo central continua o mesmo, só que agora com a abrangência nacional com mais pessoas atingidas, que o ambiente virtual possibilita. Um evento com arte e humor – talvez o melhor antídoto para os momentos difíceis que estamos vivendo”, enfatiza o diretor-presidente do grupo.

A pandemia do novo coronavírus fez com que o trabalho dos palhaços, essencialmente presencial e com ênfase nas relações entre as pessoas, se transformasse. Mas há aprendizados valiosos, na visão de Luis Vieira da Rocha: “O ambiente da internet possibilitou que um número muito maior de pessoas se beneficiasse das intervenções dos palhaços. Essa conquista certamente vai ficar para sempre. Mesmo quando tudo isso passar, vamos continuar produzindo vídeos para circular por todo o país como está acontecendo agora. Estamos felizes por agora chegar em lares e hospitais de todos os cantos. Mas não vemos a hora de voltar presencialmente aos hospitais e encontrar nossos pequenos pacientes”, conclui.

Para a terapeuta ocupacional Mariana Franco, atividades como o brincar e o lazer ajudam na manutenção da qualidade de vida de crianças e adolescentes. “As atividades propostas para cada faixa etária motivam, engajam e ainda mantêm sua funcionalidade no contexto hospitalar, de internação, que muitas vezes são períodos longos, permeados por procedimentos dolorosos e invasivos, com efeitos colaterais que acompanham o tratamento oncológico”, explica.

Festival

O evento online deste domingo tem uma programação diversificada com café da manhã, atrações musicais, brincadeiras e jogos, ginástica, contação de histórias, atividades com artista plástico na linha ‘faça você mesmo’, e entrevistas, com a participação do elenco dos Doutores da Alegria.

Na programação, haverá shows do Toquinho, Beatles para Crianças e Palavra Cantada – que vai homenagear os Doutores da Alegria com apresentação de uma música inédita, composta para os palhaços. O festival será apresentado pela atriz Marisa Orth e pelo fundador da associação, Wellington Nogueira.

Com sete horas de duração, das 10h às 17h, o evento será transmitido pelas redes sociais, Facebook, YouTube e Instagram, e pelo Canal 500 da Claro/Net. O Festival será apresentado pela Faber-Castell, com patrocínio da Roche e apoio de outras empresas. A programação completa está disponível no site oficial do evento. No portal, é possível se inscrever gratuitamente para ter acesso às atualizações do evento e conteúdo exclusivo durante a realização.

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