O Que e Como Pedir a Jesus?

20/out 08:00
Por Mons. José Maria Pereira

A Palavra de Deus deste Domingo (Mc 10,35-45) volta ao mistério da salvação que passa pela Cruz. Um contraste! Enquanto Jesus anunciava, pela terceira vez, a sua paixão, os filhos de Zebedeu pedem: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória”. O homem procura sempre fugir ao sofrimento e garantir, por outro lado, as honras; Jesus, porém desengana-o: quem quiser tomar parte na Sua glória, terá que beber com Ele o cálice amargo do sofrimento: “ por acaso podeis beber o cálice que Eu vou beber?”

“Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir”. Quantas vezes, com palavras parecidas, assim nos dirigimos a Deus. Hoje Jesus pergunta a cada um de nós: “O que quereis que eu vos faça?” É bom meditarmos um pouco antes de responder.

É admirável a humildade dos Apóstolos que não dissimularam os seus momentos anteriores de fraqueza e de miséria, mas as cantaram com sinceridade aos primeiros cristãos. Deus quis também que no Evangelho ficasse notícia histórica daquelas primeiras fraquezas dos que seriam colunas da Igreja. São as maravilhas que a graça de Deus opera nas almas! Nunca devemos ser pessimistas ao considerar as nossas próprias misérias: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4, 13).

Quando pedimos algo na oração, devemos estar dispostos a aceitar, acima de tudo, a vontade de Deus, ainda que não coincida com os nossos desejos: “Sua Majestade sabe melhor o que nos convém; não temos que aconselhá-Lo sobre o que nos há de dar, pois pode com razão dizer-nos que não sabemos o que pedimos” (Moradas, II, 8).

Há que pedir também como aqueles do Evangelho pediam: “Tende piedade de mim, que sou um pobre pecador”. Só um cego da alma não percebe que nem sempre faz o que é do agrado de Deus que, muitas vezes, escolhe a sua vontade em vez da vontade de Deus; que ofende a Deus para agradar a si mesmo. “Senhor, que eu veja”. É muito útil repeti-la em momentos de dúvida, de vacilação, quando não entendemos, quando escurece o horizonte da entrega.

“Creio, Senhor, mas aumenta a minha fé”. Peçamos fé sólida que suporte os temporais das tribulações e tentações. Fé sólida para alegrar-se no Senhor com uma vida pura e honesta. Peçamos esperança para não desanimar diante dos próprios erros e dos erros dos outros, sabendo que Ele é o maior interessado em que sejamos santos. Peçamos o amor verdadeiro, o amor de Deus derramado em nós, para amá-Lo e ao próximo por causa dEle.

Como o discípulo diante do mestre, como o menino junto da sua mãe, assim deve estar o cristão em todas as suas ocupações diante de Cristo. O filho aprende a falar ouvindo a sua mãe, esforçando-se por copiar as suas palavras; da mesma forma, vendo Jesus fazer e agir, aprendemos a conduzir-nos como Ele. A vida cristã consiste na imitação da Vida do Mestre, pois Ele se encarnou “deixando-vos um exemplo, a fim de seguirdes os seus passos” (1 Pd 2,21). São Paulo exortava os primeiros cristãos a imitarem o Senhor com estas palavras: “Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus” (Fl 2,5). Somos chamados à comunhão com Cristo, à santidade!

A nossa santidade não consiste tanto numa imitação externa de Jesus, mas em permitir que o nosso ser mais profundo se vá configurando com Cristo. “Já vos despojastes do homem velho e da sua maneira de agir, e vos revestistes do homem novo…” (Cl 3,9), recomendava São Paulo aos Colossenses.

Esta renovação diária significa purificar constantemente os nossos costumes, corrigir-se dos defeitos humanos e morais, suprimir o que não combina com a vida de Cristo… Mas significa, sobretudo, procurar que os nossos sentimentos sobre as pessoas, sobre as realidades criadas, sobre a tribulação, pareçam-se cada dia mais com os que teve Jesus em circunstâncias semelhantes, de tal maneira que a nossa vida seja, em certo sentido, um prolongamento da sua, pois Deus predestinou-nos para sermos conformes com a imagem do seu Filho (Rm 8, 29).

“O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Mc 10, 45). Toda a sua vida foi um serviço contínuo e a sua doutrina é um apelo constante aos homens para que se esqueçam de si próprios e se deem aos outros.

Haverá ocasiões em que muitos não entenderão esta atitude de disponibilidade alegre; bastar-nos-á, então, saber que Cristo a entende e nos acolhe como verdadeiros discípulos seus. O “orgulho” do cristão será precisamente este: servir como Jesus serviu; mas só aprenderemos a dar-nos, a estar disponíveis quando estivermos perto de Jesus.

Ensinava São Josemaria Escrivá: “Ao empreenderes cada jornada para trabalhar junto de Cristo e atender tantas almas que O procuram, convence-te de que não há senão um caminho: recorrer ao Senhor. Somente na oração, e com a oração, aprendemos a servir os outros!” (Forja, n. 72). 

O serviço deve ser alegre, como nos recomenda a Sagrada Escritura: Servi o Senhor com alegria (Sl 99,2), especialmente nos trabalhos da convivência diária que possam ser mais difíceis ou ingratos e que costumam ser com frequência os mais necessários. A vida compõe-se de uma série de serviços mútuos diários. Procuremos exceder-nos nessas tarefas, mostrando-nos sempre alegres e desejosos de ser úteis. Encontraremos muitas ocasiões de serviço no exercício da profissão, na vida familiar…, com parentes, amigos, conhecidos, e também com as pessoas que nunca mais voltaremos a ver. Quando somos generosos na nossa entrega aos outros, sem indagar se a merecem ou não, sem ficar muito preocupados se não nos agradecem…, compreendemos que “servir é reinar” (São João Paulo ll, Enc. Redemptor  hominis). 

Hoje a Igreja escuta mais uma vez estas palavras de Jesus, pronunciadas durante o caminho rumo a Jerusalém, onde devia cumprir-se o seu Mistério de Paixão, Morte e Ressurreição. São palavras que manifestam o sentido da missão de Cristo na Terra, marcada pela sua Imolação, pela sua Doação total.

Aprendamos de Nossa Senhora a ser úteis aos outros, a pensar nas suas dificuldades, a facilitar-lhes a vida aqui na terra e o seu caminho para o Céu. Ela nos dá o exemplo: “No meio do júbilo da festa, em Caná, apenas Maria repara na falta de vinho… Até aos menores detalhes de serviço chega a alma se, como Ela, vive apaixonadamente pendente do próximo, por Deus” (São Josemaria Escrivá, Sulco, n. 631).

Hoje a Igreja recorda o Dia Mundial das Missões.

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