O Rosário de Petrópolis: sua irmandade e seus templos

16/maio 08:00
Por Padre Thomas Andrade Gimenez Dias

Do espírito associativo da Idade Média surgiram as chamadas corporações de ofícios e delas, as Irmandades, grupo de fiéis que se unem ao redor da devoção de um santo e com objetivos sociais comuns. No Brasil Colônia as Irmandades tiveram grande importância, não apenas no âmbito religioso, mas também social. Os indivíduos se reuniam nessas associações com os seus comuns, para praticar a religião, sem deixar de lado um do seus preceitos máximos, que é a caridade.

Além de congregar pessoas que compartilhavam estilos de vida semelhantes, sob a proteção de santo em comum, as Irmandades eram organizações que também se ocupavam da assistência espiritual e material de seus integrantes, tais como assistência na doença e na velhice, apaziguamento de contendas, funerais, sufrágios e até mesmo para empréstimo de dinheiro em alguma necessidade. Essas instituições eram regidas por estatutos ou compromissos próprios, sempre confirmados pela autoridade eclesiástica, nos quais continham o que se exigia para ostentar o título e as insígnias de “irmão”, bem como quais eram os deveres e os direitos que a opa lhes garantia. Seus fundos provinham das anuidades, doações e herança de algum integrante mais abonado, que poderia deixar algo ao “santo”, sem prejudicar sua família.

A sociedade brasileira durante o período colonial, polarizada em diversos sentidos, manteve essa característica também em suas irmandades. Quase que sempre, nas principais vilas existiam de um lado a Irmandade do Santíssimo Sacramento, sempre sediada no altar mor da Igreja Matriz, ocupando-se do culto ao Santíssimo Sacramento, Deus na Terra. Seus membros eram os homens mais ricos e importantes da paróquia. Após a morte poderiam ser sepultados dentro da capela mor, nas chamadas “carneiras do Santíssimo”, e quando muito longe, eram geralmente sepultados “de grades para cima”.

Dali, bem perto da lâmpada vermelha, que ardia dia e noite, estes poderiam aguardar a ressureição final. No altar principal da Igreja, muitas vezes privilegiados1 , seus nomes seriam lembrados no “memento” dos defuntos. 1 Indulto para alguns altares, que uma missa rezada para um defunto, tinha o peso de 30 celebrações. Do outro lado, existia a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, chamada muitas vezes de dos homens Pretos, que geralmente tinha como co-padroeiro um santo negro: São Benedito, Santa Efigênia ou Santo Elesbão. Seus membros eram os negros, escravizados ou forros. Esta irmandade geralmente nascia em um altar lateral da Igreja Matriz e posteriormente se instalava em um templo próprio, muitas vezes modesto. Seus membros eram sepultados no adro, à sombra do Rosário de Maria, caminho seguro que a gente simples daquela época, tinha para se chegar ao Céu, após “este vale de lágrimas”.

Petrópolis, cidade do século XIX, no que diz respeito às suas velhas Irmandades, ainda respirou os ares que circulavam nas sacristias e altares do século XVIII. Nossa Cidade Imperial teve as suas irmandades, que quando foram fundadas ainda apresentavam certas características da época colonial. Em 1846 foi criada a Paróquia de São Pedro de Alcântara e com ela, erigida a Irmandade do Santíssimo Sacramento, sediada na velha Matriz dos Petropolitanos. Ali os Irmãos do Santíssimo cuidavam do Culto à Eucaristia e das principais festas do na litúrgico.

Em um dos altares, não sabemos precisar quando, surge também uma associação, chamada de “Devoção de Nossa Senhora do Rosário”, certamente em torno da histórica imagem da Senhora, que em uma das mãos segura o menino Jesus, e na outra, um Rosário. Dentro do recinto da velha matriz havia as duas associações, muito comuns nas Matrizes da época colonial: No altar Mor, o Santíssimo Sacramento, e sua irmandade. No altar lateral, a Senhora do Rosário e os seus associados, na então chamada “Devoção”. Infelizmente, para a execução desse trabalho, não foram localizados quaisquer tipos de atas de possíveis reuniões da então “Devoção de Nossa Senhora do Rosário” da Matriz de Petrópolis.

Elas seriam fundamentais para precisar quando se deu o início desta associação de pessoas, quais eram seus objetivos e até mesmo o nome e as condições sociais das pessoas que a compunha. Contudo, existem outros documentos importantíssimos que tratam da Devoção, sobretudo a partir de 1878, quando em Petrópolis começou um movimento, tão próprio das Irmandades do Rosário: o êxodo. Neste ano, começaram os trabalhos para que a “Devoção” pudesse não ter apenas um altar, lateral, onde pudessem prestar culto à Virgem Nossa Senhora, mas sim uma Igreja própria, toda dedicada a Mãe de Deus.

Naquele ano, o Conselheiro Joaquim Firmino Pereira Jorge, faz uma solicitação ao Superintendente da Imperial Fazenda de Petrópolis. Esta solicitação está custodiada no Arquivo do Grão Pará, nela o conselheiro pede em aforamento um pedaço de terra para si, que ele promete doar para a construção da capela: “Ilmo e Exmo. Snr, O Conselheiro Joaquim Firmino Pereira Jorge, morador da cidade de Petrópolis, constando-lhe que entre a Rua da Imperador (no fim) e a dos Toneleros daquela cidade, há um terreno pertencente a Fazenda Imperial, que está reservado para uma praça pública; e outro sim que, demarcada essa praça, há de necessariamente haver algum terreno de sobra em consequência da irregularidade do mesmo terreno, vem requere rà V. Exª se sirva conceder-lhe por aforamento qualquer sobra que por ventura haja. O Suppte. desde já declara que tem em vista ceder parte ou todo esse terreno, para nelle edificar-se uma pequena Igreja ou Capella, que naquele lugar pretendem erigir vários indivíduos que compõem uma corporação ou associação denominada – Devoção de Nossa Senhora do Rosário – cujo fim é manter o culto devido à mesma Senhora. O Suplicante declara mais que se responsabiliza pelo pontual pagamento dos fóros annuais, e mais despesas, Por tanto espera que V Exª precedidas as necessárias informações, lhe defira na forma requerida. R. M. Joaquim Firmino Pereira Jorge.

O despacho do mordomo da Imperial Fazenda ocorreu em data de 8 de julho de 1878: “Para que essa mordomia possa, de acordo com as informações, autorizar a concessão ao suplicante do terreno pedido, faça o Sr, Superintendente proceder primeiro a demarcação d’elle, para conhecer-se explicitamente sua extensão e demais confrontações; e logo que esteja terminado esse trabalho, traga-o ao conhecimento da mesma mordomia para definitivo despacho” O final da Rua do Imperador seria o local em que a Imagem de Nossa Senhora do Rosário e a sua “Devoção” teriam uma casa própria.

A concessão, após os trabalhos 2 Ao publicar, lançar aqui a sua biografia. pedidos, não demorou a ocorrer, haja visto que existe uma planta baixa deste terreno, datada de “julho de 1878”, no Arquivo da Companhia Imobiliária de Petrópolis, delimitando aquela área como terreno da Igreja. Também pode-se ler que, nas atas da Câmara Municipal de Petrópolis, em reunião de 20 de novembro de 1878, foi apresentado “um requerimento do procurador da devoção de Nossa Senhora do Rosário, pedindo para dar princípio, no terreno contíguo à praça do Príncipe do Grão Pará, que lhe foi cedido, às obras de uma capela e bem assim […] licença para levantar andaimes e colocar materiais na rua”.

A planta da capela foi apresentada na sessão do dia 29 de novembro de 1878, uma vez aprovada, começou todo o trabalho. Aconteceu, em Petrópolis, certa movimentação para se erguer o templo de Nossa Senhora do Rosário, A esse respeito, podemos levar em consideração, por exemplo, um Sarau Dramático,3 que ocorreu no sábado, dia 19 de abril de 1879, no Hotel Bragança, constando de duas peças e de um baile, concedido pelo Congresso Dramático Particular João Caetano, em benefício das obras da Capela do Rosário. Também, em uma barraca, dentro do portão da velha Matriz, do lado direito, aos domingos e dias santos se vendiam prendas e outros objetos, que como esmola eram doados para se angariar fundos para a construção da Capela.

A Câmara Municipal de Petrópolis registrou a solicitação para o funcionamento dessa barraca, na reunião de 29 de novembro de 1880, aprovando-a gratuitamente em 4 de dezembro do mesmo ano. Em outubro de 1881 a capela estava erguida e coberta, mas faltavam recursos para a sua conclusão, o que levou o mesmo conselheiro Joaquim Firmino Pereira Jorge escrever ao Bispo do Rio de Janeiro uma solicitação, guardada no Arquivo Histórico e Eclesiástico da Diocese de Petrópolis: “Exmo. e revmo. Sr Alguns indivíduos, pobres de fortuna, mas cheios de sentimentos religiosos, reuniram-se na cidade de Petrópolis e formaram uma pequena associação, com o título de Devoção a Nossa Senhora do Rosário. Depois de haverem por veres solenizado na Igreja Matriz d’aquela cidade o culto da Santíssima Virgem, com toda a pompa possível, resolveram edificar uma modesta Capella, dedicada à mesma S. S. Virgem. 3 Mercantil, Ano XXIV, abril de 1879. Com os seus esforços, serviços pessoais e auxílio dos fiéis, que concorreram com suas esmolas, conseguiram levantar e cobrir o corpo da Capella.

Não podendo porém ultimar a obra, por terem se lhes esgotado todos osrecursos, lembraram-se de instituir uma Sociedade Regular, que possa mais facilmente conseguir tão almejado fim. Essa sociedade tem por fim último a obra da Capella, socorrer os Sócios que cahirem em miséria, dar-lhes sepultura, sufragar-lhes a alma e ministar a intrução primária aos que d’ella necessitarem; é portanto uma Sociedade, digna de ser aprovada pelas autoridades competentes […] R. Mce. Como procurador da Devoção de Nossa Senhora do Rosário e tesoureiro interino, o Conselheiro Joaquim Firmino Pereira Jorge, Petrópolis, 18 de outubro de 1881.

Nesta carta, além de dar conta do andamento das obras da Capela do Rosário, o procurador da Devoção ainda faz importantes registros: com a ereção canônica da Devoção de Nossa Senhora do Rosário, ela poderia gozar de estatutos, ou compromissos, nos quais haveriam de constar os direitos e deveres dos membros, assim, mais facilmente poderiam se obter novos membros e recursos para a obra da Capela, também, ficou claro que a “Devoção de Nossa Senhora do Rosário” seria, de fato, uma Irmandade, tal e qual existia em outros lugares, com a sua dimensão religiosa e também social: socorrer os Sócios que cahirem em miséria, dar-lhes sepultura, sufragar-lhes a alma e ministar a intrução primária aos que d’ella necessitarem.

Todas essas dimensões estão abrangidas no primitivo estatuto, que sem data, também existe arquivado na Cúria de Petrópolis. Em 18 de fevereiro de 1882, uma nova carta é endereçada ao Rio de Janeiro, solicitando a aprovação para duas pequenas mudanças nos estatutos da “Devoção”. no artigo que tratava das qualidades exigidas para se tornar um sócio: “a de não pertencer à Sociedade alguma reprovada pela Santa Sé”. E no artigo que tratava das disposições gerais: “a prestação anual de um óbulo anual, que foi possível, para as despesas do Santo Padre Leão XIII”. Esta segunda correspondência, também integrada ao Arquivo Histórico e Eclesiástico da Diocese de Petrópolis, fora assinada por Antônio da Gama Moret, a rogo do novo procurador da Devoção: Benedito Marciano. Além dele, também assinam os outros membros da associação: Eduardo Adriano ( a rogo), Antônio Jorge ( a rogo), José Maria Torres, Orozimbo Jorge dos Santos, Severina Cyriaca Torres, Olímpia Teixeira de Paiva, Manoel Gomes e Jerônimo da Cruz Dias. Pela primeira vez, aparecem os nomes dos associados da Devoção de Nossa Senhora do Rosário, sendo que seis, desses oito sócios, eram ex escravizados do Conselheiro Joaquim Jorge, todos já alforriados. Daí compreendemos que a ‘Devoção de Nossa Senhora do Rosário” aparece como “associação particular de alguns indivíduos de cor” no Jornal Mercantil4 , em data de 10 de maio de 1883, e mesmo assim, curiosamente, nem a ‘Devoção” e nem o seu templo aparecem como “Irmandade ou Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos”, como costuma acontecer em outros locais históricos.

Uma vez ereta canonicamente, a “Devoção de Nossa Senhora do Rosário” terminou as obras de sua capela, que, conforme notícia do mesmo Jornal Mercantil5 , foi inaugurada em 02 de maio de 1883, com a bênção do Vigário de Petrópolis, Padre Theodoro Esch, comissionado pelo Bispo Diocesano para tal cerimônia. A parte musical ficou a cargo dos músicos do Paço Imperial, cedidos pelo Imperador. No dia seguinte, a festa teve continuidade. A data de 03 de maio de 1883 foi o dia de missa festiva na Matriz de São Pedro de Alcântara, antes da qual se benzeu a Imagem de São Benedito, em honra de quem se rezou a missa, que foi cantada pelo coro das Meninas do Colégio de Nossa Senhora do Amparo.

Após a missa, a imagem de Nossa Senhora do Rosário deixou o seu primitivo altar lateral na Igreja Matriz, e com São Benedito, foi levada em procissão para a sua nova Igreja, com o acompanhamento de muitos fiéis, anjinhos e da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Matriz. No dia 06 de maio, celebrou-se a festa de Nossa Senhora do Rosário, na nova Igreja, com a presença de Suas Majestades. À noite, a festa continuou externamente: fogos de artifício e a música do paço tocando em um coreto. Certamente, aqueles dias de maio, históricos e felizes, deixaram muitas saudades daqueles que os presenciaram. Com poucas palavras, mas expressões generosas, o Mercantil resumiu tudo o que ocorreu nos últimos anos: “Esmolando para a Pia Obra, na sua maior parte antigos escravos, tão bem acolhidos foram pelos livres, que a Capela do Rosário afinal foi concluída”.6 Maio de 1883, que começou tão feliz para os devotos de nossa Senhora do Rosário, terminou envolvido em tristeza. No dia 28 faleceu o Conselheiro Joaquim Firmino, benfeitor e animador da obra. Teve a dita de ver inaugurada a Igreja que ele 4 Mercantil, Ano XXVIII, n. 34, maio de 1883. 5 Mercantil, Ano XXVIII, n. 34, maio de 1883. 6 Mercantil, Ano XXVIII, n. 34, maio de 1883. sonhou e tanto ajudou a construir.

Em seu testamento declarou que já havia cedido 22 braças de um terreno de 66 braças, por ele aforrado em 1878 para a Capela de Nossa Senhora do Rosário. Com o falecimento de sua esposa, o terreno seria entregue totalmente ao patrimônio da capela, também foi legado à Igreja uma cruz de prata com a relíquia do Santo Lenho de Nosso Senhor Jesus Cristo. A cada um dos seus ex escravizados, destinou três apólices da Dívida Pública do Império, que só poderiam ser alienadas para resgatar a liberdade de mãe ou filhos ainda escravizados. Com a morte de seus ex escravizados, caso não tivessem filhos, as apólices passariam a pertencer ao Patrimônio da Capela de Nossa Senhora do Rosário.

Para as irmandades do Bom Jesus, de Iguapé, e da Misericórdia, de Santos, das quais era irmão, também destinou cem mil reis, a cada uma. A Devoção ou Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, com o seu pequeno patrimônio, manteve a capela, em todos os sentidos, até o final do século XIX, realizando festas e dando as devidas assistências aos seus membros, contudo, com as mudanças sociais, as autoridades religiosas acharam por bem reformular os estatutos da Irmandade, transformando-a em uma confraria, destinada apenas a mulheres. Uma confraria se difere de uma irmandade, no sentido de que a primeira se preocupa somente com questões religiosas, do culto público ao padroeiro, enquanto a última tem o seu viés assistencialista, conforme já foi apresentado.

Os novos estatutos ou compromissos foram aprovados em 1898 e posteriormente em 1901, desta maneira, a Confraria de Petrópolis estaria ligada às outras Confrarias do Rosário, que por sua vez eram ligadas à Obra dos Pregadores (Dominicanos), assim, passariam a gozar de muitos privilégios espirituais. Em 1938, a situação financeira da Confraria era muito precária: ainda não se tinha recebido todos os benefícios das apólices, muitas já caducas, que deveriam ter sido passados à então “Devoção e Capela de Nossa Senhora do Rosário”. Na verdade, apenas 03 apólices, de 11 apólices e foram passadas à confraria. O Arquivo Histórico e Eclesiástico da Diocese de Petrópolis guarda vasta documentação a esse respeito, de sérias investigações feitas pelo Dr. Thomaz Newlando Júnior, a pedido de Mons. Gentil, em 1936. Dentre os documentos, encontra-se a certidão de óbito de Ana Luíza, ex escravizada do Conselheiro Joaquim Firmino Pereira Jorge, falecida com 110 anos, em Inhaúma, no dia 20 de maio de 1937. A “pobreza” da confraria é atestada também em curiosas cobranças, recebidas da Direção Central do Rosário, entre 1929 e 1933. Nas cartas, o responsável, Frei Romeu, chega a pedir “pelo amor de Deus” que a Confraria de Petrópolis saldasse as dívidas ou ao menos devolvesse as medalhas, terços, fitas, diplomas, e outros objetos, que ainda não tivessem sido usados. Pelo recibo, a dívida foi paga apenas em 1935.

Também há bilhetes interessantes, da pessoa encarregada da limpeza da capela, Dona Luzia, à presidente da Confraria: “Dona Helena, mandei cortar os fixos porque o fiscal da prefeitura veio aqui e deu prazo de três dias se não ele iha dar uma multa grande. O homem trabalhou 3 dias a CR$ 35,00 por dia, são CR$ 105,00. A senhora quer fazer o favor de mandar uma vassoura de piassava para a Igreja? Muito obrigado” Nessa época, a capela também já necessitava de reparos, como atestam alguns orçamentos, datados de 1935, que abrangiam o serviço de pedreiros e pintores. O telhado também precisava de reparos, pois todos os orçamentos falam da sua situação. Um velho clipe enferrujado anexava a esses orçamento, duas “Listas de donativos para as obras de reparos externos e internos da Capella de Nª Sª do Rosário de Petrópolis, à Rua Floriano Peixoto”.

A história parecia voltar aos anos de 1880, quando se pediam esmolas, em Petrópolis, para se construir a capela do Rosário, Cinquenta anos depois, esmolas iriam garantir a sua restauração, que aconteceu, no ano de 1935, conforme atestam alguns recibos da “Officina de Pinturas”, sita à Rua Thereza, 569B. Em 1945, passados dez anos, novas listas de donativos correm em Petrópolis, em favor do embelezamento interno da capela. Agora, a confraria desejava um novo sacrário e um novo trono para a Santa. O sacrário foi adquirido na casa “Miguel Gassi”, em São Paulo. O novo trono para a santa, não foi levado a termo, mas seu projeto ficou arquivado. Três anos mais tarde, em março de 1948, novos pedidos de donativos são enviados. Agora, não mais para reformas da Capela do Rosário, que além de ser pequena, estava com um estado de conservação exageradamente crítico, mas para a construção de um novo templo: “Petrópolis, março de 1948. Louvado seja N. S. Jesus Cristo! Confiantes na vossa fé cristã, estamos certos de que não nos negareis o vosso auxílio para que consigamos erguer o novo templo de N. S. do Rosário, e tomamos a liberdade de vos enviar este pequeno envelope que nos deverá ser entregue no próximo domingo, 14 de março.

Certos da vossa imprescindível cooperação, desde já somos agradecidos. A comissão. As esmolas foram recolhidas, a história se repetiu. A nova Igreja teve sua pedra fundamental benta em 1953 por Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra. Com o exaustivo trabalho do pároco de Petrópolis, Mons. Francisco Gentil, suas paredes foram sendo erguidas, abraçando as velhas paredes da antiga capela, que teve o seu funcionamento encerrado em 09 de novembro de 1958, com a última missa rezada em seu altar. Nos dias seguintes, começariam a demolição do vetusto templo. A nova igreja foi inaugurada em 1978, quando não existiam relatos da existência da confraria, que desapareceu da cidade. É certo que em 1971 ainda existia a “Irmandade da Igreja do Rosário de Petrópolis”, pois ela estava presente na frente da Catedral de Petrópolis, aguardando a chegada dos corpos da Princesa Dona Isabel e do Conde D’Eu.

A Irmandade também acompanhou o cortejo fúnebre, rumo à catedral. Há poucos anos, o povo Petropolitano pode ver, mais uma vez, as históricas imagens de Nossa Senhora do Rosário e de São Bendito, em torno das quais surgiu a Irmandade e a velha Igreja. Hoje, no batistério da nova Igreja, recebem a devoção dos seus fiéis, que muito embora não mais estejam associados em irmandade, mas continuam associados pelos vínculos da fé e da devoção mariana. Muito obrigado.  

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