O silêncio dos mentecaptos
A histeria paneleira que tomou nossas ruas num passado recente promete não se reproduzir tão cedo. Já não causa indignação o fazer político do ilegítimo Temer quando reedita práticas antiéticas e fisiológicas à semelhança de Sarney na negociata dos cinco anos e FHC na privataria tucana. Neste sentido, é revelador o silêncio dos mentecaptos que vociferavam contra a corrupção.
Não bastasse a reafirmação das práticas que, na aparência, levaram milhões às ruas, estas degeneraram para um movimento de lesa-pátria representado por nova leva de privatizações do patrimônio público. Desta vez o alvo é o setor elétrico, com a entrega de nada menos que 14 unidades produtoras ao capital transnacional por valores irrisórios. Já passaram pelo balcão de negócios fatias da Petrobras e da CEF, enquanto se prepara a privatização dos Correios e novo enxugamento no Banco do Brasil, que, na prática, significa a redução drástica da participação do Estado no domínio econômico. Tudo em nome da eficiência, do Estado mínimo e da democracia.
Na verdade, a liquidação do patrimônio público constitui um dos aspectos centrais da política econômica dos golpistas que se instalaram no poder. Sob os auspícios de uma pretensa política de austeridade fiscal, deprime-se deliberadamente o setor público limitando seu papel indutor, reduzindo seu faturamento, sucateando sua operação e tornando-o presa fácil para a privatização. Tudo em meio a um mar de denúncias de corrupção envolvendo os principais agentes desta que promete ser uma das maiores negociatas de nossa história.
Vozes dissonantes são abafadas pelo aparato ideológico de plantão e o que reverbera não é capaz de mobilizar uma classe trabalhadora apassivada e na defensiva contra os ataques a seus direitos. Mas o mesmo não se aplica aos estratos burgueses que chamaram para sí a responsabilidade de moralizar o Brasil. Contudo, um silêncio retumbante se faz ouvir.
Das duas uma: ou nossos paneleiros não sabiam o que faziam quando confundiram manifestação com acontecimento social ou era pra ser isso mesmo. Foi, nada mais nada menos, que uma indignação caolha, seletiva, contra a corrupção que se generalizava e se estendia a outras bandas, extrapolando o âmbito burguês. Faixa estendida à época na Av. Paulista é reveladora: “A corrupção é nossa!”. É quando uma imagem vale mais do que mil palavras para descrever um fenômeno.