O Sol da liberdade

31/10/2016 12:00

“O Sol nasce para todos”. Essa frase é bem conhecida, “só não sabe quem não quer”, já afirmara Renato Russo na música “Quando o Sol bater na janela do seu quarto”. Há quartos com janelas de grades e camas de alvenaria. Tais cômodos são chamados de celas, nas quais são colocados aqueles que, por alguma razão, foram privados do convívio social, tiveram a liberdade cerceada.

A expressão “ver o Sol nascer quadrado” tornou-se eufemismo para se referir a quem está preso. Vinicius de Moraes e Toquinho a empregaram na letra da música “Golpe Errado”:

“Ouça, malandragem não convence/ Uma vez a gente vence / Outra vez bota a perder/ Pense, há um ditado muito certo:/ Tem sempre um que é mais esperto/Tem sempre um que vai sofrer. / Lembre que você, mesmo malandro/ Tem que ter de vez em quando/ Um tempinho pra viver/ Olha que não é nada engraçado/ Você dar um golpe errado/ E ver o sol nascer quadrado.”

Vale mencionar que o Sol é fonte de vida. Os seus raios são portadores de vitamina D. Os médicos recomendam que, pelo menos três vezes por semana, as pessoas devam ficar, entre 15 a 20 minutos, expostas a eles. Isso antes das 10:00 horas. Esse é um dos fatores que asseguram ao preso o direito de ter diariamente duas horas de banho de sol.

A ausência da vitamina D, entre outros fatores, pode ocasionar: enfraquecimento ósseo; osteoporose em adultos e idosos; osteomalácia em crianças; dor e fraqueza muscular; diminuição de cálcio e fósforo no sangue. Por essas razões, sempre que posso, aos domingos, sento no banco da praça, ao lado do meu sogro, quando ele toma o seu banho de sol matinal. Com os seus 90 anos, sempre fala que gosta de “botar as pernas pra andar”. Reclama quando o Sol não vem. Fala das sombras dos prédios que limitam os raios solares.

No último domingo, distante dos problemas semanais, vendo os idosos puxando prosa pelo fio da lembrança, as crianças brincando com os pais, abri o jornal e deparei-me com a notícia de um senhor de grande poder político, com um patrimônio avaliado em milhões, que ele afirma ter conquistado licitamente, mas as provas levam a crer que a ilicitude prevaleceu. Esse senhor se encontra em Curitiba sem poder estar assim em uma praça desfrutando da paz do anonimato.

É visível a solidão dos que desfrutam de falsas amizades. Quando estes perdem o poder e não despertam mais interesses, lamentam o isolamento em que se encontram.

Fica aqui a pergunta: – quem saíra de Brasília para visitá-lo em Curitiba?

Mesmo assim, ele continua sendo um privilegiado. Está em um presídio federal em uma cela exclusiva. Se tivesse em uma delegacia estadual superlotada, com certeza, não teria nem as duas horas de banho de sol. Na cela em que se encontra, talvez esteja se certificando dos amigos verdadeiros que possui. Essa solidão é comum entre os que alimentam o tráfico de influência.

É preciso dar a César o que é de César, porque é a esfinge dele que está cunhada na moeda. Não é só o pão que alimenta a vida, por isso não compensa vender a alma. 

Não há como criar um truste para administrar os raios solares. Não há como colocar o Sol em um cofre bancário. São fatos como esses que nos levam a crer que a liberdade não tem preço. Quem está preso ao vil metal tem dificuldade de conhecê-la em plenitude. Por isso que, às vezes, temos que compreender as limitações dos pobres homens ricos, algemados a bens materiais. Por esse ângulo, é possível identificar a pobreza de Trump, pois este tem muita dificuldade para enxergar a humildade. Uma pessoa assim não pode presidir um país.

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