O temerão

26/07/2017 12:50

Perguntar, ofende? Sim? Não?

Eu tenho uma pergunta a fazer ao excelentíssimo presidente da República, eleito com mais de cinquenta milhões de votos, coladinho e umbelicado à candidata à reeleição e que, na apuração estranha, conseguiu o diploma de vice-presidente e, em seguida, o de presidente graças ao impedimento pespegado à senhora do costume vermelho de língua solta e desprovida de qualquer senso de ridículo.

Pois, aí está, o homenzinho, que vem de práticas políticas conhecidas e suportadas pela população, já com alguns rótulos consagrados dos tipos mensalão, petrolão e outros perseguidos por lava-jatos depurativos, ganha de presente o leme da nação, já adernando e embicando na rota das profundezas. Com carinha de inocente e mãos inquietas, sob verborragia das velhas cartilhas políticas, nomeia ministros, presidentes, funcionários, a maioria retirada das prisões do navio, ali entocados por estarem sendo julgados pelo espetacular desastre que afunda e embarcação. Busca reformas, há anos nas gavetas dos parlamentares, executivos e judiciários, pretextando evitar o afundamento em curto espaço de tempo de um titanic alagado pela força do mar mais revolto da humanidade, o mar de lama ou da corrupção.

Posso perguntar a ele se, como político escolado lavado, enxuto e passado pela maquinaria política, não percebe que está fazendo o mesmo dos anteriores, comprando abertamente votos, com parlamentares satisfeitos por estarem faturando as próximas eleições, como sempre não oferecendo o trabalho digno mas o pior dos males políticos, o toma-lá-dá-cá, ruborizando o mensalão e o petrolão e criando o temerão? E, então, o que diz vossa excelência?

E como Infeliz é o (des) humano trânsito engarrafado pelos corredores, salas e saletas do Alvorada ou do Jaburu, onde tilintam as moedas e brilham na escuridão os olhos lobisomens de nossa monstruosidade política.

E, ai, vão as últimas perguntas ao prestidigitador, o profissional da magia e do truque que desvia com seus gestos sinuosos e rápidos a atenção das plateias ansiosas por um espetáculo digno :

Excelência, o senhor tem dormido bem? E mesmo dormindo, gesticula adoidadamente? Tem sido acordado no meio da noite, pela esposa, por gemer e gritar e sopapar o ar? Ah! E acorda ai do lado o ministro da Fazenda que está cochilando enquanto o senhor anuncia o aumento dos combustíveis, lançando definitivamente seu governo no buraco.

Te cuida. Até gosto do senhor. É simpático e ostenta um ar inocente e franzino. Mas o povo consciente não duvida: tem tudo a temer! 

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