Oitenta

02/07/2016 11:40

Hoje repito um pequeno trecho do que escrevi e que foi publicado neste espaço, há algum tempo: “o médico obstetra perguntou ao meu pai, exatamente há oitenta anos – Quem deseja que eu salve? Sua esposa, ou a criança? Os dois eu não vou conseguir salvar”. Mamãe tinha uma passagem estreita e ainda não estava desenvolvida a técnica da cesariana. Resposta difícil para um marido apaixonado e um futuro pai do primeiro filho. Fumando um cigarro atrás do outro, papai respondeu, após soltar uma baforada: Salve minha mulher, doutor. Com ela poderei ter outro filho, mas sem ela… E não completou a frase. Vovó acendeu uma vela, fez uma promessa e conseguiu nos salvar. Ou seja: sou fruto de um milagre. Às dezoito horas do dia cinco de julho de 1936, com o badalar dos sinos da Matriz do Engenho Novo, no Rio de Janeiro, num belo domingo ensolarado, eu despontei para o mundo. Este foi o primeiro milagre, dentre alguns outros de que fui beneficiado. E assim, chego aos oitenta anos gozando, aparentemente, de boa saúde e agradecendo a Deus por tudo o que me aconteceu nesta vida, principalmente as derrotas, poucas na verdade, mas que foram fundamentais para que eu pudesse aprender com elas a me reerguer e ultrapassá-las. Consegui, nesta caminhada, alguns títulos, troféus, diplomas que muito me orgulharam e, principalmente, arrebanhar grandes amigos. A vida nos mostra caminhos a seguir, mas sou fatalista e acredito no destino. O importante é discernir, dentre alguns, o melhor caminho a trilhar. Felizmente não sei o que é remorso, nem me arrependo de nada do que fiz, Se arrependimento tenho, foi de coisas que poderia ter feito para enriquecer meu currículo. Nunca invejei ninguém, pois sempre acreditei em mim. Inveja é um mal de pessoas inseguras. Dentro do mundo que escolhi viver, sei que tive relativa participação na carreira de alguns artistas e defendo a teoria de que se não posso ajudar, atrapalhar é que não vou. Amo a vida e vivo intensamente cada minuto, cada dia, usufruindo dela o que de melhor me oferece. Apesar de meu temperamento brincalhão, levo a vida a sério, muito a sério. Entretanto, procuro sorrir na adversidade, pois sei que esta é ainda a melhor fórmula para se evitar as rugas. Enquanto não encontro a melhor solução para resolver um problema, armo meu campo e vou jogar uma partida de futebol de botões. Sempre saio vencedor, pois prefiro jogar contra minha própria pessoa. É a melhor maneira para relaxar, mantendo uma criança que insiste em viver num corpo envelhecido. 

Pretendo publicar, ainda este ano, meu sétimo romance, cujo título é: “O Vendedor do Tempo”. E, assim, como diz o título, o livro fala da importância do tempo para melhor se aproveitar à vida. Deixo, ao amigo leitor, a última estrofe de um poema publicado no meu mais recente livro, que diz: “O tempo é tão implacável/ quanto uma mulher traída: /-não esquece, não perdoa e se vinga/ de quem dele desperdiça”. 

aromero@compuland.com.br

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