Ômicron pode infectar mais da metade dos europeus nas próximas 8 semanas, diz OMS
Com os índices de transmissão atuais, a variante Ômicron pode infectar mais da metade da população europeia entre as próximas seis a oito semanas, disse nesta terça-feira, 11, o braço regional da Organização Mundial da Saúde (OMS). A autoridade sanitária alerta, contudo, que apesar da cepa aparentemente causar menos quadros graves e mortes, ainda é cedo para tratar a covid-19 como uma doença endêmica.
Apenas na primeira semana do ano, a Europa viu mais de 7 milhões de novos casos da covid-19, disse o diretor regional da OMS, Hans Kluge, em um levantamento que leva em conta também a Rússia e países da Ásia Central como a Armênia e o Azerbaijão, por exemplo. Cinquenta das 53 nações avaliadas pelo órgão já registram casos da cepa.
Nos 27 países da União Europeia, os diagnósticos na primeira semana do ano passam de 5,3 milhões. Sozinha, a França deve ultrapassar nesta quinta mais de 350 mil infecções diárias, antecipou o ministro da Saúde Olivier Véran, batendo o recorde anterior de 332,2 mil contabilizado no dia 5. A variante mais contagiosa, afirmou Kluge, toma a região do “Oeste para o Leste”.
“Neste ritmo, o Instituto para as Métricas e Avaliações de Saúde projeta que mais de 50% da população da região será infectada pela Ômicron entre seis e oito semanas”, disse, em uma entrevista coletiva em Copenhagen, referindo-se a um centro de pesquisas da Universidade da Washington.
A onda mais recente da cepa, até o momento, é marcada por menos casos sintomáticos e menos mortes, especialmente entre os já vacinados. Se a média de casos diários na UE mais que triplicaram entre 10 de dezembro e 10 de janeiro, passando de 255,7 mil para 816 mil, as mortes diárias caíram no mesmo intervalo: passaram de quase 2 mil para 1,55 mil.
As evidências sugerem que a Ômicron afeta com mais intensidade o trato respiratório superior do que os pulmões, causando sintomas mais leves que outras cepas. Na segunda-feira, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, sugeriu que talvez seja hora de avaliar a evolução da covid-19 usando métodos similares ao de uma gripe comum, diante da queda de letalidade.
Isso significa tratar a covid como uma doença endêmica ao invés de uma pandemia, sem registrar todos os casos e testar todos que apresentem sintomas. A OMS, por sua vez, voltou a repetir que ainda é cedo para classificar a variante como “leve”, destacando que as taxas de internação estão crescendo no continente e pondo sistemas de saúde sob pressão.
Incertezas
Segundo Catherine Smallwood, também do braço europeu da OMS, a proposta do líder espanhol está fora de cogitação neste momento. Para que a covid seja uma doença endêmica, ela afirmou, será necessária “a circulação estável do vírus de forma previsível”, algo bem distante do que ocorre atualmente.
“Ainda há uma grande quantidade de incerteza e um vírus que se desenvolve rapidamente, impondo novos desafios. Certamente não estamos em um momento em que é possível chamá-lo de endêmico”, disse Smallwood. “Isso pode acontecer, mas tachar que será em 2022 é um pouco difícil nesta fase.”
Ao menos no Reino Unido, o primeiro epicentro da Ômicron na Europa, a situação parece estar se estabilizando. A média móvel de diagnósticos atingiu um pico de 182,9 mil no dia 5, caindo para 171,6 na segunda-feira.
Se os diagnósticos britânicos aumentaram mais de 3,6 vezes no mês de dezembro – sendo também mais que o triplo registrado em janeiro de 2020, quando o país atravessava seu pior momento da pandemia -, as mortes cresceram em ritmo menor.
Hoje o Reino Unido registra diariamente uma média de 191 óbitos, em sua maioria não vacinados. O número é maior que as estatísticas na casa das unidades registradas durante os meses de verão boreal, mas uma fração das quase 1.250 mortes vistas diariamente há um ano, quando o país atravessava seu momento mais letal da pandemia, antes das campanhas de vacinação se tornarem abrangentes.
Até o momento, quase 70% dos britânicos tomaram as duas doses anticovid ou a injeção única da Janssen, proporção similar à da UE. No atual epicentro global da pandemia, os Estados Unidos, aqueles que já completaram seu ciclo vacinal não passam de 62,1%.
Epicentro global
Na segunda, 10, os EUA registraram sozinhos 1,48 milhão de casos diários, segundo o Our World in Data, um projeto vinculado à Universidade de Oxford, quebrando seu próprio recorde de 1,17 milhão contabilizados no dia 3. Foram, sozinhos, responsáveis por 45% das 3,28 milhões de infecções registradas no planeta na segunda.
As estatísticas americanas podem estar subestimadas, já que há no país um aumento do uso de testes caseiros, cujo resultado não é necessariamente informado às autoridades. Diante do aumento exponencial de casos, o país registra hoje um número recorde de internações, com 145,9 mil pessoas atualmente no hospital devido à pandemia, quase o dobro de duas semanas atrás.
Entre elas, há cerca de 5 mil crianças diagnosticadas ou com casos suspeitos de covid-19, número que é quase o dobro da onda anterior, em setembro, causada pela Delta.
Boa parte dessas internações, contudo, é evitável. Segundo o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) americano, uma pessoa não vacinada tem hoje oito vezes maior probabilidade de precisar ser admitida em um hospital que alguém com as duas doses.
Morrem hoje, em média, 1.653 pessoas no país, 35% a mais do que há duas semanas. As primeiras cidades atingidas pela nova cepa, como Nova York, Boston e Chicago, começam a ver um aumento das mortes, que crescem em um ritmo menor que nos surtos anteriores e principalmente entre os não inoculados. Diante do número elevado de casos, contudo, mesmo a variante mais branda pode sobrecarregar os hospitais. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)