Operação Talha encontrou movimentações suspeitas de R$ 1,2 milhão

10/12/2020 14:08

A Operação Talha foi mais uma deflagrada esta semana pela Lava Jato do Rio como desdobramento da Operação Fatura Exposta, de 2017. Desta vez, na mira da força-tarefa fluminense está o ex-deputado federal do Rio Francisco Floriano (DEM), a quem o Ministério Público Federal atribui crimes contra a administração pública, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

A suspeita não é recente: surgiu na esteira das investigações do esquema de desvios instalado no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into) ainda no início da gestão do ex-governador Sérgio Cabral, em 2007. Com o avanço das apurações, novos nomes têm sido arrastados para o centro das suspeitas que já levaram à prisão o ex-secretário de Saúde do Rio, Sérgio Côrtes.

Depois da Fatura Exposta, a Lava Jato colocou na rua a Operação Ressonância. Na sequência, os procuradores fecharam acordos de colaboração premiada com o empresário Leandro Camargo, dono da Per Prima, uma das fornecedoras do Into, com o ex-subsecretário de Saúde do Rio César Romero, e com o ex-diretor comercial da Oscar Iskin, protagonista no setor privado dos desvios na Saúde fluminense, Marco Antônio de Almeida.

Os relatos entregaram pistas para novas frentes de investigação. A delação de Camargo, homologada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo, acusou o acerto para pagamento de uma mesada de R$ 150 mil a Francisco Floriano – que, inicialmente, segundo o colaborador, teria exigido R$ 1,5 milhão por mês.

A partir dos relatos envolvendo o ex-deputado, os procuradores afirmam ter encontrado provas da participação dele em fraudes a licitações, que seriam superfaturadas e direcionadas em favor do cartel comandado pelos dirigentes da Oscar Iskin, Miguel Iskin e Gustavo Estellita, em troca das propinas.

Os investigadores cruzaram sinais das antenas dos aparelhos celulares dos investigados nos dias apontados como tendo sido feitos os pagamentos e reuniram mensagens obtidas a partir da quebra de sigilo telefônico. Entre as conversas, estão uma lista com nomes de pessoas a serem atendidas com prioridade no Into, enviada a uma assessora parlamentar pelo filho de Floriano; minutas de projetos enviadas pelo coordenador administrativo do Instituto, Carlos Moreno, para aprovação do então deputado; e trocas de mensagens entre o servidor e sua mulher em que ele relaciona ‘o deputado’ a seu cargo.

Para operacionalizar o suposto esquema, Floriano teria trabalhado para indicar Moreno, afirma a Lava Jato. “Tudo indica que Francisco Floriano possuía forte ingerência nas nomeações de cargos de direção do INTO o que, por conseguinte, conferia-lhe influência nas contratações de empresas fornecedoras, tendo se utilizado disso para organizar esquema de recebimento de propina, que parece ter se perpetuado mesmo após a deflagração das operações Fatura Exposta e Ressonância”, registrou o juiz Marcelo Bretas, 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, ao autorizar as buscas em endereços residenciais e comerciais ligados ao ex-parlamentar.

Os pagamentos, por sua vez, seriam “lavados” através de depósitos nas contas de assessores parlamentares e familiares do político e do pagamentos de boletos de despesas pessoais, como plano de saúde, condomínio e cartão de crédito, quitados com dinheiro vivo. A Receita Federal encontrou R$ 1,2 milhão em movimentações suspeitas entre os anos 2015 e 2018 envolvendo o político, sua irmã, Virgínia Souza de Oliveira, que trabalha como assessora do deputado estadual Chiquinho da Mangueira (Podemos-RJ), seu suposto operador, o assessor José Carlos Teixeira Barrozo, hoje lotado no gabinete do deputado estadual David Soares (DEM-SP), entre outros.

A Lava Jato do Rio chegou a pleitear a prisão preventiva do ex-deputado, mas o pedido foi negado pelo juiz Marcelo Bretas, que argumentou ausência de contemporaneidade dos fatos investigados.

Defesa

A reportagem busca contato com o ex-deputado Francisco Floriano. O espaço está aberto para manifestações.

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