Os riscos das linhas de pipas para as aves

14/08/2016 08:00

Uma brincadeira de criança está colocando a vida de aves em risco. A prática de usar cerol (mistura cortante de vidro moído e cola) ou linha chilena para empinar pipas causa acidentes graves com aves, que acabam se enroscando nos fios. A diversão tem um custo, pois, além de apresentar perigo também para as pessoas, a mistura pode ser fatal para alguns espécimes que vivem na nossa região.

O médico veterinário especialista em animais silvestres, Felipe Facklan, decidiu iniciar uma campanha de conscientização para prevenir que acidentes envolvendo linhas de pipas e aves continuem ocorrendo. De acordo com o especialista, a prática na cidade é comum e a média de atendimentos feitos nas clínicas, envolvendo esses animais, é de 5 a 10 por mês.

O veterinário explica que a linha da pipa, por ser muito fina, não é detectada durante o voo da ave. Esses animais sofrem constantemente colisões com as linhas e o resultado do acidente é um corte profundo, geralmente em sua asa. Em quase 90% desses casos, o material atinge um ligamento da asa responsável pelo voo e, uma vez rompido, condena o animal a nunca mais voltar a voar na vida. Dependendo da espécie, esse impedimento leva a mesma à morte.


Dentre as espécies mais afetadas estão: gaviões, urubus, fragatas e atobás. Porém, pequenos pássaros também são vítimas destas linhas que acabam mutilando ou mesmo retirando a vida desses animais tão importantes para o equilíbrio ecológico.

O número de acidentes tem aumentado, principalmente, pela expansão da área urbana, forçando os animais a buscarem muitas vezes alimento e refúgio longe de seu habitat. "Quando ocorre um acidente, os animais são encaminhados pelos órgãos públicos como Reserva Biológica de Araras, Área de Proteção Ambiental de Petrópolis e Corpo de Bombeiros. Geralmente eles são acionados por moradores que encontram os animais feridos", revela Felipe.

Um dado apresentado pelo especialista aponta que, em 90% das ocorrências, os membros das aves mais atingidos são as asas, que sofrem ferimentos por linhas de pipas com cerol. Em menor parte vem as patas e o peito. "As aves possuem um ligamento na asa chamado de patágio, uma vez esse ligamento rompido por completo, a ave nunca mais volta a voar, sendo obrigada a viver em cativeiro. Muitas vezes, como no caso do urubu, o animal perde muito sangue em hemorragias e acaba não resistindo", explica.

É importante ressaltar que, na maioria das vezes, o espécime não consegue se adaptar ao cativeiro. Felipe explica que a cada dez animais que saem da natureza somente um sobrevive. Muitas aves só se alimentam se caçarem, não se adaptando ao tipo de alimentação e ao manuseio no cativeiro." O estresse sofrido pelo confinamento também pode levar o animal ao óbito. Esses animais necessitam da vida livre para voar e caçar".

"Ainda há casos que é necessária a amputação total do membro. Feridas onde vasos sanguíneos importantes são rompidos, o órgão afetado perde a circulação de sangue e isso compromete a cicatrização. Sem circulação sanguínea suficiente, a parte do corpo atingida perde a oxigenação e pode vir a ser amputada", conta o veterinário.

Porém, o perigo não está apenas ao ar livre. Acidentes com linhas dentro de casa também são comuns, porém menos fatais. Casos envolvendo aves domésticas como calopsitas e canários com linhas de costura presas nas patas, bicos e línguas também são comuns, mas por não possuírem cerol são menos danosos.

O especialista conclui destacando que não se deve manusear um animal selvagem, jamais. “Ao encontrar algum animal ferido, a medida a ser tomada é ligar para o Corpo de Bombeiros, APA Petrópolis ou Rebio Araras para fazer o resgate e os mesmos encaminharão o animal ferido para o veterinário”.

Lei Estadual proíbe a venda e comercialização do cerol 

O estado do Rio de Janeiro possui uma lei que proíbe a industrialização e a comercialização do produto do cerol, bem como do vidro moído, elemento básico para sua produção. 

Caso o material seja encontrado no mercado, será apreendido e levado para a polícia, que tomará as medidas necessárias. A punição prevista para quem desrespeitar a lei é de multa no valor de até R$ 500.

Últimas