Outro patamar
Essa expressão, que ganhou destaque depois da entrevista de um jogador de futebol ao afirmar que o Flamengo se encontra em “oto patamá”, tornou-se mais popular. Tem sido repetida, quando se deseja externar a ideia de que algo está em um nível mais elevado. Mas, quando “o buraco é mais embaixo” também consiste em outro patamar. Esse termo de cunho popular comumente é empregado para designar que uma situação não é tão simples quanto aparenta ser. É também usado com o intuito de exigir mais seriedade, quando algo está sendo subestimado.
Nem pânico, nem histeria, muito menos o simplorismo que procura banalizar a seriedade que o momento exige. É preciso olhar a realidade com equilíbrio. Não podemos ser infectados pelo vírus da ignorância, nem do preconceito.
A pandemia provocada pela proliferação do novo coronavírus (Sars-Cov-2), causador da doença Covid-19, deixou exposta a face dos problemas que podem surgir enquanto houver uma parcela da humanidade vivendo abaixo da linha da miséria. Esse patamar merece mais atenção das autoridades que detêm o poder econômico, político e conduzem o leme da ordem mundial.
Quase todas as doenças endêmicas têm as suas raízes na falta de higiene. A história registra endemias, epidemias e pandemias que emergiram das condições subumanas. Isso prova que ninguém veio ao mundo para viver na miséria. Aqui reafirmo: para mim, a fome é uma pandemia, mata milhões de pessoas há séculos. Quando vejo o esforço de cientistas brasileiros correndo contra o tempo para produzir vacinas, remédios que possam conter o avanço de doenças contagiosas, lembro-me dos infectados pelo vírus da ignorância que insistem no corte de verbas das universidades, dos institutos de pesquisas. São pessoas que não reconhecem a importância do trabalho científico. Os pesquisadores são heróis que lutam em outro campo de batalha: os laboratórios. Quem não reconhece esse trabalho não prioriza o processo educacional.
A manutenção da soberania nacional não se restringe somente à defesa das fronteiras com armamentos bélicos. Em momentos críticos como este que vivemos, precisamos de um outro exército no campo da saúde pública, além de uma estrutura política que venha propiciar uma independência econômica.
A frenética oscilação das bolsas de valores vem deflagrando um outro pânico, em virtude da nossa dependência do mercado externo. As rédeas da economia não podem sair do controle dos gestores públicos, não podem cair nas mãos de empresários que só pensam em ampliar o capital especulativo, que não produz emprego. Por isso, ficam nesse frenesi, movido pelo “perde ganha” de venda de ações.
A economia estruturada no capital produtivo cria mais emprego, é mais sólida e depende menos das interferências externas. Lamentavelmente o capital produtivo é o que mais sofre com as taxações de impostos.
É difícil conter a indignação quando nos deparamos com o charlatanismo, com oportunistas que exploraram a boa-fé do povo para ampliar lucros. O preconceito é outra mácula que deve ser extirpada.
É visível a preocupação das autoridades com o processo recessivo no qual mergulhou a economia. Não se vê os mesmos cuidados com as consequências dessa pandemia no sistema educacional. Mais de 850 milhões de crianças e jovens estão sem aulas porque, segundo a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, pelo menos 102 países fecharam escolas e universidades para conter a proliferação do novo coronavírus. Essa ação é necessária no momento. Temos que agir agora. Mas não podemos deixar de pensar no amanhã.