Padrastos dedicam a vida a criança com paralisia cerebral

14/08/2016 08:00

A campanha de Dia dos Pais veiculada pela Boticário escolheu para 2016 homenagear os padrastos e emocionou os telespectadores. No vídeo, uma adolescente diz ao marido da mãe que ele não é seu pai, mas logo passa um filme pela cabeça dela, de vários momentos em que ele esteve ao seu lado, desde a infância, quando foi apresentado como um amigo da mãe. A menina, então, entrega um presente a ele e diz que o padrasto é muito mais que um pai. De acordo com o Dicionário Aurélio, padrasto é aquele indivíduo que ocupa o lugar de pai em relação aos filhos que sua mulher teve de casamento anterior, mas a gente sabe que é muito mais do que isso. Em todo o mundo temos histórias que comprovam o fato, mas em Petrópolis temos uma que é de emocionar. 

O pequeno Miguel tem 8 anos, nasceu depois da hora e com muitas complicações: tem paralisia cerebral, não enxerga, respira pela traqueia, come por meio de tubos que levam o alimento direto para o estômago. Miguel não gosta de ficar sozinho, adora ouvir as pessoas conversando e se apega com facilidade. Com nome de anjo, caiu de paraquedas na vida dos cabeleireiros Elcio Varella da Silva, de 50 anos, e Luís Fernando Bulhões, de 37. Tudo começou quando eles viram um anúncio em um jornal dizendo que uma família estava pedindo ajuda para cuidar de uma criança doente. Desde então, começaram a visitar o menino com frequência e, desde 2010, passaram a ser os pais de coração da criança, uma vez que não o adotaram oficialmente. 

Elcio e Luís contaram que em apenas uma semana depois de o terem conhecido foram informados de que o menino tinha passado mal e que estava no hospital morrendo. “Ficamos com ele nesse momento e eu pedi muito a Deus para que nos desse a oportunidade de cuidar dele. Na época, o Miguel ficou internado por um mês e só depois saiu do hospital”, contou Élcio. A partir de então, a luta foi intensa. Primeiro porque os custos para mantê-lo vivo é alto. O casal começou a pagar o plano de saúde da Amil e depois de muita espera conseguiu conquistar o “home care”, ou seja, atendimento de hospital em casa. Para isso, precisaram investir na construção de um quarto adaptado para o menino, que foi conquistado graças a uma campanha que mobilizou toda a sociedade petropolitana. 

Atualmente, contam com enfermeiras 24 horas por dia, pediatra, nutricionista, neurologista e fisioterapia diariamente. O plano também arca com as despesas, como alimentação. Só a caixa de leite custa mais de R$ 200,00 e dura apenas três dias. Os remédios também são enviados pela Amil. Além disso, eles ganham muitas doações de pessoas da cidade, que ajudam com as despesas. 

Desde que o Miguel chegou, a vida dos dois passou a girar em torno do menino, que não esconde a felicidade em estar com os padrastos. “Apesar de não enxergar, ele conhece a nossa voz, sente falta se não estivermos por aqui. Quando está feliz, chega a suspirar”, contou Luís. E ele chora quando não está muito satisfeito com alguma coisa. Durante a entrevista, ele ficou triste em saber que a equipe de reportagem estava indo embora, porque estava gostando da conversa. 

Os cabeleireiros abriram mão da vida social, de ir a eventos e até mesmo de viajar para se dedicar integralmente ao menino. E quando ele fica doente faltam até o trabalho, como aconteceu na última quinta-feira. “Tive que desmarcar os clientes porque ele não estava se sentindo bem”, disse. Apesar de todas as preocupações de pais, eles contaram que a chegada do Miguel mudou tudo na vida deles para melhor. “A convivência nos ensinou a não ter vaidades, porque a vida é além disso”, disse, apontando para a casa onde vivem os dois, mais a mãe do Élcio, que tem 82 anos. A fachada da residência ainda precisa de emboço, mas ele afirmou que já nem liga mais para isso. “Hoje se eu tiver um dinheiro tenho que pensar primeiro nas coisas que o Miguel precisa”, concluiu. 

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