Padre José Maurício foi maestro de D. João VI e viveu a Independência

23/06/2022 08:36
Por João Luiz Sampaio, especial para o Estadão / Estadão

Na história da música brasileira, há uma trinca de compositores que, pelo talento e por encarar muito do espírito de suas épocas, se tornaram símbolos do desenvolvimento da composição nacional ao longo do tempo. Nessa lógica, Carlos Gomes foi o grande autor do País no século 19; Heitor Villa-Lobos, no século 20. E antes dos dois, na passagem do século 18 para o 19, houve o padre José Maurício Nunes Garcia.

Nascido em 1767, descendente de escravizados, ele começou a aprender música aos 6 anos e tornou-se cravista, compositor e organista. Naquele período, a atividade musical estava bastante ligada às funções religiosas e a batina era forma de atingir colocação social. Assim, aos 25 anos, ele foi ordenado padre.

Pouco após a chegada de d. João VI ao Brasil, em 1808, ele foi escolhido mestre de capela, cargo de enorme importância no Rio de Janeiro. Mas, se de um lado suas obras ganham cada vez mais espaço, de outro ele passa a lidar com o preconceito dos músicos portugueses que vieram ao Brasil, que chamavam atenção constante ao que se referiam como seu “defeito de cor”.

A Missa de Santa Cecília foi escrita em 1826, quando o compositor já havia deixado seu posto oficial e vivia um período difícil por conta de problemas de saúde e financeiros. Foi encomendada pela Ordem de Santa Cecília, que ele havia ajudado a fundar anos antes e reunia músicos, muitos deles antigos alunos, que com a encomenda tentavam ajudá-lo.

Foi sua última obra – o compositor morreria em 1830. E carrega uma série de aspectos marcantes. Um deles talvez seja a maior liberdade na escrita, uma vez que a peça não se destinava, desta vez, a ocasiões oficiais, mas, sim, a um pedido feito por colegas músicos.

A partitura tem enorme força dramática, e já se referiram a ela como quase operística. “A musicologia costuma associar isso a um desejo de agradar ao gosto da época, mas acho que a Missa é símbolo justamente de sua autonomia”, diz Luiz de Godoy. “Se teve uma obra em que cada nota foi colocada porque ele quis, foi essa.”

FUTURO

O maestro vê na peça um retrato bem-acabado do compositor. “Ele resume aquilo que fez, mas também olha para o futuro. Há árias que lembram Rossini, mas não é ópera, não é música italiana. São paletas que ele aplica com um vocabulário brasileiro. Aqui, José Maurício é também o compositor de modinhas.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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