Palavrão é apelação

17/11/2016 12:00

O palavrão é tão comum hoje em dia que já há quem estranhe a pessoa que fala corretamente, jamais utilizando termos chulos e grosseiros. Há quem diga que não é possível expressar-se adequadamente, em determinadas situações, sem o emprego do palavrão. Por exemplo, ao dar uma martelada no próprio dedo ou ao sentir o impacto da porta do carro sobre o mesmo. É terrível. É muito difícil dizer apenas "ai". Quando isso acontece o palavrão surge num ápice de tempo, soberano, agressivo e mal humorado, como uma pedrada! E então, amaldiçoamos o momento, as circunstancias e o próprio descuido.

 Mas, longe desses infelizes acontecimentos ou de situações momentãneas de contrariedade, não nos parece adequado o emprego desses termos. Nem mesmo nesses  momentos de dor e repulsa, devemos aceitar essas manifestações agressivas. Observe que a grande maioria das pessoas que usam exageradamente o palavrão como forma de expressão, são pessoas violentas ou inseguras. É claro que há exceções, mas são, repito, exceções. Como exemplo, se separarmos dois grupos de 50 pessoas, sendo um que fale muito palavrão e o outro que não fale em hipótese alguma, veremos que o grupo que fala é o grupo com o maior número de pessoas violentas. De um modo geral, as pessoas que têm um melhor nível cultural falam menos palavrão e são menos violentas. As estatísticas provam isso. 

Isto evidencia que o palavrão é característica predominante de pessoas desviadas do caminho do bom senso, o qual aprimora e humaniza as pessoas como faz a moral cristã, por exemplo, que influencia fortemente o mundo ocidental. Como diz a Bíblia: "Porque da abundância do seu coração, fala a boca do homem".

Existem pessoas que pensam que o o bom senso é que nos mostra o momento adequado de usar o palavrão, e que usando na hora certa é sempre justificável. Não concordamos e afirmamos que o uso do palavrão é sempre inadequado e evitável. Sabemos que o palavrão faz parte da cultura popular de quase todos os países. Vemos isso na TV, no teatro, na rua, e, cada vez mais, entre os jovens e até entre as crianças. Na atualidade, é cada vez mais usado por jornalistas, cantores, desportistas, e, principalmente, entre o chamado povão. Tivemos até mesmo uma artista, Dercy Gonçalves, recentemente falecida, que fez do palavrão sua marca registrada. Descobriu ela essa "mina" aí pelo meio de sua trajetória artística, por volta da década sessenta, quando começou a fazer cada vez mais sucesso em filmes, peças teatrais – onde o palavrão reina absoluto até hoje – e por último na televisão. Ora, o uso de tóxicos é cada vez maior no Brasil e no mundo, e isso não significa que devemos aceitar passivamente a proliferação cada vez maior do seu uso. E se quase todos usam não significa que devemos aceitar esse fato como natural e aceitá-lo com tranquilidade. Há que combatê-lo, da mesma forma que não devemos aceitar o uso cada vez maior de tóxicos. O palavrão, antes de tudo, é uma agressão.

Quem nos impressiona mais positivamente? Os que usam ou os que não usam com frequência desse artifício de afirmação pessoal enganoso, que é o uso do palavrão? Você já se viu na situação de admirar uma pessoa que fala corretamente, sem cometer um erro de concordância sequer, colocando cada palavra no lugar certo e sempre utilizando a palavra mais apropriada? Palavras que quase não utilizamos por nos parecerem sofisticadas demais ou por não conhecê-las, embora sejam as palavras certas? Você prefere falar errado a ser tomado  por pedante e presunçoso? Saiba que o pedante é aquele que fala corretamente mas, com afetação. Portanto, é só evitar a afetação que o seu linguajar correto deixará de ser pedante e você passará a ser claro na exposição de suas ideias e pensamentos. E quem não gosta disso? Quem não admira tais pessoas? O medíocre? Talvez.

Você precisa entender que quando procuramos sempre a palavra certa e nos preocupamos em ser claros e compreensíveis no que falamos, expressamos muito melhor nossos pensamentos e ideias. O cultivo desse hábito torna desnecessário o uso de palavras obscenas e melhora o nosso raciocínio, permitindo-nos uma compreensão melhor de tudo. Além do mais, não  é pela palavra ríspida e feia que você será ouvido e considerado. O palavrão é uma muleta e você não é aleijado. Portanto, você não precisa dele.

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