Pão e paz

04/01/2018 11:31

“Dai o pão a quem tem fome e sacia a sede de justiça a quem tem pão”. Mamãe nos dizia estas palavras. Ela certamente leu nas passagens Bíblicas. Palavras  gravadas em meu coração.  Nós nos reuníamos ora em casa ora na Igreja para a recitação do Terço e da Ladainha de Nossa Senhora e depois da genuflexão  e invocação dos mistérios se passava à oração do Pão Nosso. À hora das refeições jamais deixávamos de rezar as Ave-Marias e  de agradecermos pelo pão de cada dia. Nas leituras das Sagradas Escrituras se revivem as palavras do Deus Filho quando disse que “ nem só de pão vive o homem.” E assim, o pão, desde as primícias faz parte do jejum e das orações: o centeio, a água e a fé. O pão alimenta o corpo e a alma  nos conduz ao céu para o sagrado manjar. O trigo precisa morrer para ser pão,  disse o Bispo,  Doutor e Mártir da era Patrística  Santo Inácio de Antioquia. “ sou trigo de Deus e devo ser moído pelos dentes das feras.”  Nos tempos hodiernos pincei em Gilberto Gil a  interpretação cujos versos falam do trigal maduro. Exupéry também relembra o trigo em o Pequeno Príncipe. A mesa sem pão perde a graça e se completa junto à água pura e um bom vinho. Falemos a verdade, os nutricionistas por mais nos alertem sobre o carboidrato e o açúcar nocivos  à saúde  a elevar a glicose, ninguém resiste ao pãozinho crocante e quentinho com manteiga. Haja colesterol. Uma rápida guinada ao tempo e  nos deparamos com a farta mesa na Mesopotâmia. Ali se usava azeite, mel, frutas, ovos, sucos de uva e outras iguarias que davam ao pão um sabor e um toque especial. Esse aprimoramento gastronômico  ultrapassou os séculos. Os egípcios ensinaram aos gregos a técnica da fermentação desse rico alimento do corpo e da alma. Há 500aC os gregos ensinaram aos romanos. O pão é meio duro. Será que o termo “ pão duro” surgiu a partir dali? E o brocardo “ pão e circo?” Era uma esmola aos miseráveis levados às arenas. Na França houve uma ocasião em que o povo se revoltava ante a alta do preço do pão e foi protestar à Rainha Maria Antonieta que ironicamente os respondeu: “se não pudessem comer pão que comessem brioches…” Ali se consumara a Queda da Bastilha. Era o ano de 1789. Dali para  cá o povo “comeu o pão que o diabo amassou”. Houve época  que em que se clamava por pão em Paris. Período triste. Na  Cidade Luz  vivemos momento alegres.  Assistimos as festividades do “Catorze  Juliette” no Arco do Triunfo e “Prise de la Bastille” e a queima de fogos  no átrio da Sacre Coeur.   Para concluir, o pão ganha o seu momento sublime nas Sagradas Escrituras quando Jesus Cristo o multiplica e alimenta a milhares e se materializa por ocasião da Santa Ceia. Ali estava consubstanciado o Memorial de Jesus. Ele é o Pão da Vida e o Manjar Divino. Fez do pão o Seu Corpo e do vinho o Seu Sangue e alimentou os Apóstolos dizendo: “Fazei isto em memória de Mim.” Falo da transubstanciação. Em Israel o pão ázimo não recebe o fermento. Ele é consumido por ocasião da Páscoa. É o “Matzot”. Para os Judeus o fermento seria a impureza. O Islamismo reverencia o pão como a dádiva de Deus. No Brasil Imperial era comum fazer cruzes nos pães sinal de respeito ao sagrado. Esse mesmo pão foi levado ao Oriente pelos portugueses. Pão,  presença viva na dignidade do Senhor “Iesus Hominum Salvator” nos Ostensórios e no Sacrário a alimentar a humanidade e a saciar a fome de amor, paz e solidariedade aos povos de todas as nações.   

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