Papo de botequim
“Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa; uma boa média que não seja requentada; um pão bem quente com manteiga à beça; um guardanapo e um copo d'água bem gelada; feche a porta da direita com muito cuidado; que não estou disposto a ficar exposto ao sol; vá perguntar ao seu freguês do lado; qual foi o resultado do futebol. Se você ficar limpando a mesa; não me levanto nem pago a despesa; vá pedir ao seu patrão; uma caneta, um tinteiro; um envelope e um cartão; não se esqueça de me dar palitos; e um cigarro pra espantar mosquitos; vá dizer ao charuteiro; que me empreste umas revistas; um isqueiro e um cinzeiro. Telefone ao menos uma vez; para três quatro, quatro, três, três, três; e ordene ao seu Osório; que me mande um guarda-chuva; aqui pro nosso escritório; seu garçom me empresta algum dinheiro; que eu deixei o meu com o bicheiro; vá dizer ao seu gerente; que pendure esta despesa; no cabide ali em frente”.
(Conversa de Botequim – Noel Rosa). Num certo dia, andando pelas ruas do Centro Histórico: – Olha ali, parece um boteco. Vamos dar uma olhada? Entramos. Era um botequim, mas tinha algo no ar! A decoração era sofisticada, as mesas com tampo de mármore, as garçonetes com saia preta e blusa branca, o som ambiente era com um dvd da Loreena Mckennitt, que era visto numa tv de 42 polegadas; no canto uma lareira apagada, na parede frontal um ar-condicionado, o piso era de pedra São Tomé, as bebidas sofisticadas; em uma parede, cheia de prateleiras, estavam expostos vários pacotes de cafés de vários lugares do mundo; enfim era um local diferente. Oito mesas compunham o mobiliário destinado aos fregueses. Cinco delas já ocupadas. Na primeira rolava o seguinte papo: – Cara, você sabe que até 2040 a Terra vai estar pulverizada de robôs inteligentes que poderão até entregar pizza? São os ballbots que serão altos, finos e se deslocarão entre as pessoas com a mesma facilidade dos humanos.
– Amigo, para com esse papo e vamos falar sobre aquela morena que estava com você na quarta-feira no baile da Geralda. Na segunda, numa roda, se contavam piadas. – Soube uma boa. Uma secretária foi despachar com um vereador. Quando pediu a sua assinatura em um ofício, exclamou: espera aí o senhor vai assinar com um supositório? – Ei, caramba, onde é que eu botei a minha caneta? – Eu também sei uma boa.
Um bêbado entrou em um ônibus e cambaleando se sentou ao lado de uma moça que estava grávida, com uma tremenda barriga. A moça vira para ele e fala: o senhor não tem vergonha? – Vergonha por que? – Todo mundo tá vendo que o senhor bebeu. – E você não tem vergonha, respondeu o bêbado, olhando para a barriga da moça. – Eu por que? – Todo mundo tá vendo que você, epa, transou. Na outra mesa rolava um papo sobre Petrópolis.
– Os moradores estão reclamando direto do barulho e da falta de fiscalização das festas realizadas em logradouros públicos. Lembra da notícia de um velhinho que foi multado no Rio porque jogou uma guimba de cigarro no chão? Agora enchem de lixo o chafariz da Praça da Liberdade, destroem o gramado da Praça da Águia e ninguém fiscaliza nada. Na 4ª mesa comentavam: sabem que a polícia apreendeu 56 aves que estavam sendo transportadas em caixas de papelão, entre elas tucanos, trinca ferros e azulões? – O que eu acho é que é um absurdo ainda poderem fabricar e comercializar gaiolas, quando existe um programa do Ibama Pássaro Legal é Pássaro Solto. Na 5ª mesa todos riam. O papo era sobre Sérgio Porto e a volta do Febeapá (festival de besteira que assola o país). E o papo continua…
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