Papo de Pescador
Bom dia aos pescadores e contadores de “causos”. Estamos aqui em nosso encontro semanal, para contar mais uma breve e emocionante história…
Hoje vamos falar um pouco da pescaria de água salgada, lembrando de uma passagem pelo nordeste. Cada lugar que visitei tem suas peculiaridades, como por exemplo, o nome dos peixes que pode ser diferente dependendo da região do país, este não seria diferente.
Chegando lá, me dirigi à pousada, conheci minhas instalações e fui até o Recife Antigo, uma parte de Pernambuco que conta um pedacinho de nossa rica história. Visitei os lindos pontos turísticos e museus do local, mas um deles me marcou bastante: Memorial de Luiz Gonzaga.
Este museu, conta a história deste ícone da música brasileira, cujas canções marcaram minha infância, falando não apenas de música, mas também da história do homem nordestino, suas dificuldades e o lado guerreiro admirado por todos.
Dentro do museu, há um rio artificial que corta o cenário da caatinga, com alguns peixes da região: fiquei encantado. Passei horas admirando e escutando o barulho das águas. Mas o que mais me chamou a atenção ainda estava por vir. Já ao fim da visita ao museu, subi ao segundo andar e me deparei com uma enorme vidraça: Que paisagem linda! Vi de lá o encontro dos rios Capibaribe e Beberibe, um espetáculo a parte para um amante das águas como eu!
Naquele momento, percebi o grande potencial de pesca daquele lugar maravilhoso. No mesmo instante, comecei a pesquisar e perguntar nos pontos de informação sobre pesca e guias, buscando contatos ou alguma dica… Nada!
Descobri algumas pessoas que trabalhavam fazendo a travessia de turistas pelo canal e comecei a conversar, até que encontrei um louco que como eu, apaixonado por pesca. No mesmo instante ele se prontificou a largar os passeios por algumas horas e me levar para pescar um “camurim”. Curioso, porém focado, disse a ele que não queria pegar este peixe, mas que vim atrás do robalo, o qual ele não conhecia.
Não pude pescar no dia seguinte, pois era a data do casamento, e eu queria curtir meus queridos amigos que vejo tão pouco. Mas marquei na manhã do último dia de viagem com Mozart, o tal “guia”. Sabia que seria corrido, mas não poderia deixar de tentar e na esperança que conseguiria fisgar meu robalo.
Partimos então para a pescaria bem cedo, eu e meu “guia” de pesca. Ele com camarões vivos falando sem parar desse tal camurim e eu já curioso de tanto ouvir, arrumando minhas iscas artificiais. Fomo para a água e saímos pelo encontro dos rios em direção ao mar, que estava bem agitado naquela ocasião. Depois de alguns arremessos uma forte batida. Um peixe mordeu a isca, mas soltou logo em seguida. Mozart da um murmúrio, reclamando que o peixe já havia roubado quatro iscas.
Troquei a meia-água para um camarão artificial de silicone, comecei a trabalhar a isca no fundo perto da encosta quando de repente, uma puxada violenta. Lá estava meu peixe, fisgado e brigando bastante. Depois de muita força, o peixe cansado vem à superfície e mesmo que pequeno, lá estava o meu troféu: um lindo ROBALO!
– Mas que belo camurim – grita Mozart incrédulo – e não é que essas iscas de mentira funcionam mesmo!
– KKKKKKKKKKKKK – dei uma gargalhada – é verdade, funciona mesmo, mas este é o robalo.
– Nãããão. Este é o camurim! – disse Mozart.
Neste momento comecei a perceber minha ignorância.
O CAMURIM do Mozart era o meu ROBALO. No fim das contas, era o mesmo peixe… fiquei alguns segundos parado pensando no ocorrido. Devolvi o peixe para a água, apesar de Mozart querer levá-lo para o almoço, e ainda refletindo sobre o minha arrogância pedi desculpas.
Passamos o resto da tarde pescando e dando boas risadas. Mais alguns “camurins” ou “robalos” foram pegos ali, além de pequenos Xaréus. A pescaria foi produtiva, além de uma experiência maravilhosa e um aprendizado sensacional. Deixei de presente algumas iscas artificiais, me despedi de Mozart, que a esta altura já estava mudando seus conceitos sobre elas. Corri para o aeroporto, já com saudades de casa, mas ao mesmo tempo querendo ficar mais uns dias.
No voo, repensei sobre toda a viagem: a convivência com meus amigos, minhas expectativas de pegar um peixe bruto e toda a minha arrogância de achar que conhecia de fato a pesca. Prometi nunca mais imaginar que sabia das coisas mais que qualquer outro ser, e comecei a observar muito mais o ambiente e tentar aprender sempre com as pessoas e com a própria natureza.
Agradeço a Deus por esta experiência!
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Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Jornal Tribuna de Petrópolis.