Parnaso completa 85 anos, com recorde de visitantes
O Parque Nacional da Serra dos Órgãos completa 85 anos de existência em 2024. Importante espaço para a conservação da Mata Atlântica, o Parnaso também se torna um atrativo turístico e de lazer. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), foram 208.974 visitantes em 2023, o maior número desde o início da série histórica de contagem, em 2000, sendo o 10º mais visitado do país.
Em entrevista à Tribuna de Petrópolis, o chefe do Parnaso, Ernesto Viveiros de Castro, aponta a grandiosidade do espaço. Atualmente, o parque faz parte do território de quatro municípios: Petrópolis, Teresópolis, Magé e Guapimirim, em uma área de mais de 20 mil hectares.
“Temos uma equipe menor que o necessário para cuidar adequadamente. Mas contamos muito também com o apoio da comunidade no entorno, temos muitos parceiros na região. De maneira geral, consideramos que o Parque está bem conservado, apesar das dificuldades, e é muito importante que esteja bem usado também. Que as pessoas venham cuidar e respeitar o ambiente local, levem de volta seu lixo, entendam que o parque é delas também e ajudem a cuidar deste patrimônio”, afirmou.
Temporada de montanhismo
Neste sábado (01), a sede de Petrópolis do Parnaso, que fica no Bonfim, recebeu a Abertura da Temporada de Montanhismo (ATM). O evento contou com trilhas, palestras e até música ao vivo. “Essa época é a melhor do ano para fazer atividade na montanha, principalmente porque chove menos”, explicou Ernesto.
Ainda segundo o chefe do Parnaso, a procura maior pelas cachoeiras é no período de verão, mas foi estendida, devido a onda de calor vivida em grande parte do mês de maio. Muitos espaços para banhos são acessíveis a famílias, como o Poço Paraíso, onde a reportagem esteve. A caminhada é leve, com duração de cerca de dez minutos a partir da portaria.
Já as trilhas de montanha, também possuem diversos níveis. Para realiza-las, é necessário agendar com antecedência, de até 60 dias, pela internet. Mas os passeios em geral também podem ser comprometidos pela lotação do Parque.
Foto: Wellington Daniel
“É importante dizer que temos um limite de pessoas por dia, então, a recomendação é chegar cedo para não pegar o parque lotado. Calçado adequado pra trilhar, pra evitar torcer o pé. Trazer algum alimento, água. Principalmente na parte mais alta da trilha, é bem exposta ao sol, então também trazer protetor solar, chapéu, óculos e roupas confortáveis. E é sempre bom ter um equipamento de emergência, pois, se tiver um contratempo e precisar ficar até a noite, consegue descer com segurança”, explicou o chefe do Parnaso.
Preservação ambiental
O Parnaso foi criado em 1939, sendo o terceiro mais antigo do país. O Parque é um refúgio para mais de 460 espécies de aves, como a rara tietê-de-coroa, que atrai pesquisadores. Também conta com mais de 100 anfíbios e 100 mamíferos, como o muriqui, ameaçado de extinção e considerado o maior primata das Américas. Sem falar da temida onça-parda, que costuma passear pelas matas.
“É uma riqueza muito grande. Muito por conta também do gradiente altitudinal aqui do parque. Começa nos 80 metros de altitude, em Magé, e vai até 2.770 metros na Pedra do Sino”, apontou Ernesto.
Foto: Wellington Daniel
Toda esta preservação também evita tragédias socioambientais, principalmente com as mudanças climáticas. Ernesto lembra que o entorno do Parque não tem um histórico de acidentes em relação às chuvas tão grave como outros locais.
“As encostas protegidas e florestadas absorvem mais a água, então a força da enxurrada é muito menor onde tem floresta ainda. Mesmo a bacia dos rios segura muito mais quando tem floresta. Então alaga menos a cidade a água que vem aqui da área do parque. Isso é muito importante para regular o ciclo da água. As enchentes e os deslizamentos vêm justamente das alterações que as pessoas fizeram, seja tirando mata das encostas ou canalizando rios”, afirmou.
Nesta época de seca, é importante que a sociedade do entorno também se organize para evitar destruição. No ano passado, por exemplo, um incêndio que, provavelmente teve início com a queda de um balão, atingiu uma área de 36 hectares.
O brigadista Wellington Salomão é funcionário do Parnaso e explica que junho é o período mais crítico. Ele orienta a população sobre as formas de prevenção aos incêndios. “Tomar cuidado com queimas em casa, soltura de balões. Nesta época, pessoal tem costume de fazer muita fogueira, então, sai do controle e acaba entrando para a mata”, alertou.
Travessia Petrópolis-Teresópolis
A Travessia Petrópolis-Teresópolis é uma das principais atrações do Parnaso. São três dias de caminhada, com dois pernoites na montanha. É preciso condicionamento físico: no primeiro dia, a subida é forte; no segundo, há picos; e no terceiro, é a descida em Teresópolis. Apesar disso, não é considerada tecnicamente difícil.
Foto: Ernesto V. Castro
Os visitantes também precisam estar bem equipados e atentos, pois o tempo nas montanhas muda muito rapidamente. A recomendação é a contratação de um guia experiente para a missão.
“A travessia Petrópolis-Teresópolis é considerada uma das mais bonitas do Brasil. Provavelmente, a mais clássica de pernoite na montanha e a mais bem estruturada, com certeza. Contamos com abrigo para controlar esse fluxo, apoiar as áreas de acampamento lá em cima”, apontou o chefe do Parnaso.
Ernesto já conhece o Parque há, pelo menos, 20 anos. Foi o chefe entre 2004 e 2011 e agora, retornou ao cargo em outubro do ano passado. Com todo este conhecimento, disse ser difícil escolher o ponto preferido.
“Gosto muito dos poços e cachoeiras, principalmente do Vale do Soberbo, lá em Guapimirim. Recomendaria também o Caminho do Ouro, em Magé, que é uma estrada com grande história, que é parte do Parque também. Os portais de Hércules na travessia, que é um ponto que tem um visual incrível. E para não fugir do óbvio, o Dedo de Deus, que também é um monumento tombado pelo Iphan. São mais de 200km de trilha, vários rios, tem atrativos para todos os gostos”, concluiu.