Partidos aliados a Nunes aceitam indicado de Bolsonaro: coronel Mello será anunciado como vice

19/jun 09:53
Por Samuel Lima / Estadão

Depois de engatilhar o nome do coronel da reserva da Polícia Militar Ricardo Mello Araújo (PL) como vice na chapa da reeleição na semana passada, a campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB) recebeu o endosso dos principais partidos que formam a coligação. Com isso, o anúncio depende apenas de um jantar protocolar na capital paulista, organizado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), nesta quarta-feira, 19.

O Estadão apurou que o militar sugerido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não encontra resistência no comando de siglas como PSD, Republicanos, Progressistas, Podemos, PRD e Avante e que o próprio núcleo duro de campanha do prefeito tem defendido a indicação em conversas reservadas com os dirigentes. A tendência é que os focos de insatisfação, em parte do Solidariedade e no próprio Progressistas, por exemplo, sejam superados. O grupo de aliados do prefeito ainda conta com os “nanicos” Mobiliza e Agir e negocia a entrada do União Brasil.

Ex-comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e diretor da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), Mello Araújo é um bolsonarista convicto que costuma reproduzir o discurso do ex-presidente nas redes sociais, como ataques ao Judiciário e defesa da pauta conservadora de costumes. A indicação encontrava resistência entre caciques partidários de legendas mais ao centro por conta dessa postura, mas ganhou força com a “dobradinha” recente entre Bolsonaro e Tarcísio, os dois principais aliados do prefeito nas urnas.

A costura passou a ser encarada pelo entorno de Nunes como inevitável na medida em que o coach Pablo Marçal (PRTB) entrou na disputa e passou a flertar com deputados do PL e com o próprio Bolsonaro, em Brasília. Além disso, a alternativa mais simpática ao prefeito, o secretário municipal de Relações Internacionais, Aldo Rebelo (MDB), negou o convite para ingressar no Republicanos na janela partidária, o que praticamente anulou suas chances de ser indicado por depender de uma “chapa pura” emedebista.

Na sexta-feira, 14, em nova demonstração de força de Bolsonaro, Nunes teve almoço com o ex-presidente, o governador Tarcísio e o próprio coronel no Edifício Matarazzo. O prefeito evitou chamar Mello Araújo de favorito a vice, mas disse que o escolhido de Bolsonaro tinha “argumentos fortes”. Publicamente, o tempo de propaganda gratuita em rádio e TV fornecido pelo PL tem sido apontado como o motivo da preferência. Nos bastidores, aliados também citam a necessidade de “amarrar” Bolsonaro na campanha, evitando a dispersão dos votos do eleitorado de direita.

Um dos focos de resistência era o PP. Integrantes da sigla criticaram publicamente a escolha de Mello Araújo como vice. Contudo, na última segunda-feira, 17, o presidente nacional do partido, senador Ciro Nogueira, se encontrou com Nunes e afirmou que, se a indicação fosse oficializada, o partido aceitaria e caminharia com Nunes em qualquer hipótese.

“É muito importante que o governador Tarcísio e o presidente Bolsonaro façam essa indicação (…) Se ela vier a acontecer (indicação), vai contar com nosso apoio e nosso entusiasmo”, afirmou o senador sobre o nome de Mello Araújo.

O jantar desta quarta-feira será oferecido pelo governador Tarcísio na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes. Será o quarto encontro do chamado “conselhão” de 11 partidos em apoio a Nunes, eleito vice de Bruno Covas (PSDB) em 2020, mas que governou a cidade por praticamente todo o mandato com a morte do antecessor. Ainda não se tem a confirmação de que o União Brasil participará do encontro.

O partido ainda mantém a pré-candidatura do deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), mas pode retirá-la em julho. O presidente da Câmara Municipal, vereador Milton Leite (União), sempre defendeu publicamente o acerto com o prefeito, mas reivindicava a vaga de vice de Nunes. Ele, no entanto, criticou publicamente a escolha do coronel, a quem considera “não ter voto”, e sugeriu que a definição não deveria ser feita agora.

“A análise do União básica é a seguinte: o Ricardo é muito ligado à Igreja Católica. Nós precisamos de um evangélico, bem caracterizado. O coronel não preenche esse requisito”, afirmou Leite ao Estadão. Com o acerto esperado do coronel Mello Araújo como vice de Nunes, o vereador diz que se discutirá a entrada do União Brasil na coligação “em outro momento” diretamente com o prefeito.

Na segunda-feira, 17, Nunes reafirmou que a escolha pode não ser unânime dentro da coligação e que, nesse caso, fará valer a vontade da maioria. “A ideia é que a gente possa, nessa reunião à noite, cada um poder colocar os seus nomes, a gente poder entrar no consenso. Talvez a gente não consiga ter um consenso de 100%, mas a gente vai fazer um exercício para que tenha a maioria definindo o consenso.”

Procurada, a campanha de Nunes não confirmou a informação de que a maior parte das legendas aceitou a indicação do coronel Mello, mas declarou que conversará com a imprensa após o jantar da chamada “frente ampla”. O presidente nacional do MDB, deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), não atendeu aos pedidos de entrevista. Paulinho da Força, presidente do Solidariedade, e Antônio de Rueda, dirigente nacional do União Brasil, também não retornaram o contato.

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