Passageiros reclamam de redução da oferta de ônibus em Petrópolis

04/dez 08:31
Por Wellington Daniel | Foto: Willen Vieira

Moradores de Petrópolis continuam enfrentando dificuldades com o transporte público. Desde a retirada da Petro Ita, há quase três meses, pelo menos dez linhas continuam inoperantes. Algumas foram retiradas devido à operação que ainda é feita de forma emergencial, mas outras estão sem operar ou com horários reduzidos desde a pandemia. Este último problema também se estende a outras regiões da cidade que não passaram por intervenções, como Mosela e Bingen.

O Grupo de Apoio Técnico do Especializado (Gate) do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) chegou a apontar, em abril, que a tarifa cobrada no transporte público de Petrópolis deveria ser menor. Um dos motivos, segundo o estudo do MPRJ, seria a redução da oferta de coletivos.

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“A programação de viagens é inferior ao nível regular de 2019. A redução na qualidade do serviço oferecido, muito provavelmente gera uma demanda reprimida, que busca alternativa de outros modais para realizar a viagem”, informou o Gate.

10 linhas diurnas sem operação

Representantes da sociedade civil no Conselho Municipal de Trânsito e Transportes (Comutran) fizeram um levantamento que aponta ao menos 10 linhas sem operação na região antes atendida pela Petro Ita (veja na lista completa no final da matéria). Além disso, cobram um corujão que atenda a toda a região do Valparaíso.

O contrato com as novas empresas ainda não está disponível no Portal da Transparência da Prefeitura. No entanto, algumas linhas citadas estão previstas nos decretos de transferência dos itinerários, como a 185 – Vital Brasil via Alto da Serra (antiga 411), 191 – Olga Castrioto via Castelânea (antiga 409) e 657 – Rio de Janeiro via Alto da Serra (antiga 440).

“Tem linhas que são essenciais para o pessoal poder chegar ao trabalho ou escola. Por exemplo, o São Sebastião, não tem o Olga Castrioto via Castelânea. Os alunos que estudam nos colégios da Castelânea, que são ao menos quatro escolas, acabam tendo dificuldades”, disse o conselheiro do Comutran, Guilherme Nascimento.

Linhas também estão reduzidas em outros bairros

A redução da oferta de ônibus também é vista em outras regiões da cidade. É o caso, por exemplo, da linha 165 – Lagoinha x Bingen (antiga 450). Antes da pandemia, eram nove viagens. Depois, passou por um tempo desativada, até ser assumida pela Cidade Real em julho. Agora, no entanto, são apenas cinco partidas do Terminal Bingen.

Caso parecido é da linha 145 – Mosela x Bingen, que tinha 15 viagens antes da pandemia. Agora, são apenas sete. A redução de oferta de transporte público na Rodoviária do Bingen, a principal porta de entrada para a cidade por ônibus, continua até mesmo com uma linha que atendia a quem ia para o Centro: a 107 – Manoel Torres.

A linha 107, antes da pandemia, saía do Centro, passava pelo Manoel Torres e seguia para o Terminal Bingen. Com isso, auxiliava os pais e responsáveis de escolas da região para o deslocamento, além de ser mais uma opção para a região central, uma vez que a linha 100 costuma registrar mais lotação. Agora, apenas alguns horários vão até o Terminal Bingen.

“Na hora da saída da escola, por exemplo, ou preciso esperar o 107 e depois, pegar o 100, ou, então, descer a pé até a Rua Bingen para esperar o 100. Sendo que, antes, daria para apenas pegar o ônibus na porta da escola e seguir direto”, disse uma responsável por aluno de uma escola no Manoel Torres, que preferiu não se identificar.

Na Mosela, o problema de redução da oferta também é visto na linha 105 – Alberto de Oliveira, que tinha 16 viagens antes da pandemia e, atualmente, conta com apenas seis.

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Estudo foi feito para embasar ação

O levantamento do Gate sobre a redução da oferta de transporte pós pandemia foi feito para embasar uma ação civil pública do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) em face do município e da CPTrans. Em 2022, a 4ª Vara Cível de Petrópolis chegou a condenar que as empresas restabelecessem o serviço como antes da crise sanitária, mas, atualmente, a discussão está em instâncias superiores.

A Prefeitura não respondeu aos contatos da reportagem. Já o Setranspetro destacou que, mesmo diante das recentes mudanças, nenhuma região está sem atendimento no município. Segundo a nota, somente nos últimos cinco anos, foram investidos R$ 82.124.177,97 pela Cidade Real, Cidade das Hortênsias e Turp na compra de ônibus e outras melhorias no sistema.

O sindicato que representa as empresas de ônibus também ressaltou que, desde a pandemia, o sistema de transporte passou por transformações e que os ajustes seguem análise técnica. Sobre a ação do MPRJ, informou que discute judicialmente o assunto e que, em relação ao estudo o Gate, realizou várias ponderações (veja a nota na íntegra ao final da matéria).

Linhas inoperantes ou reduzidas:

  • 105 – Alberto de Oliveira
  • 107 – Manoel Torres
  • 145 – Mosela x Bingen
  • 165 – Lagoinha x Bingen
  • 204 – Valparaíso via Getúlio Vargas
  • 405 – Getúlio Vargas
  • 409 – Olga Castrioto via Castelânea
  • 411 – Vital Brasil via Alto da Serra
  • 423 – Espírito Santo
  • 439 – Doutor Thouzet via Alto da Serra
  • 440 – Rio de Janeiro via Alto da Serra
  • 441 – Espírito Santo via Alto da Serra
  • 442 – Gulf via Oswaldo Cruz
  • 449 – Capitão Paladini via Castelânea

Veja a nota do Setranspetro na íntegra, explicando a situação de cada linha:

“O Setranspetro informa que as empresas Cidade Real, Cidade das Hortênsias e Turp Transporte estão operando em todas as regiões de Petrópolis, áreas que sempre foram atendidas pelo transporte público, mesmo diante das recentes mudanças registradas. O Setranspetro destaca que não há nenhuma região sem atendimento no município e ressalta a concentração de todos os esforços para que isso fosse possível, em um trabalho realizado em tempo recorde e de forma ininterrupta.

Somente nos últimos cinco anos, as empresas de ônibus Cidade Real, Cidade das Hortênsias e Turp Transporte, realizaram investimentos milionários, na compra de ônibus zero quilômetro e seminovos, peças, equipamentos, as mais recentes tecnologias do mercado, segurança, questões ambientais, mão de obra qualificada, entre outros. Somente em frota, as operadoras totalizam, neste período, investimento de R$ 82.124.177,97.

O Setranspetro também ressalta que, desde a pandemia, o sistema de transporte público por ônibus no mundo passou por várias transformações, principalmente, o transporte urbano, com o surgimento e a ampliação do home office, por exemplo, além do crescimento exponencial do serviço de transporte individual por aplicativo, realizado por motocicletas e carros. Diante disso, todo e qualquer ajuste na operação do transporte público deve ser realizado mediante análise técnica, de forma responsável e analítica, para evitar que aumente o preço da passagem no sistema de transporte.

Sobre a ação questionada, o Setranspetro informa que está discutindo judicialmente o assunto desde 2020. Com relação ao estudo apresentado pelo MPRJ, o Setranspetro informa que, ainda no início deste ano, realizou várias ponderações, inclusive, destacando que, no estudo em questão, em relação aos períodos de cada recorte, visto que, como os mesmos não são uniformes, ou seja, não utilizam o mesmo intervalo de comparação, tal fato pode causar distorção nos resultados. Por fim, o Setranspetro e as empresas de ônibus possuem elementos suficientes para provar que houveram investimentos e melhorias relevantes no sistema de transporte do município.

Pedidos isolados:

A Cidade Real informa que segue realizando todos os ajustes necessários na operação das novas linhas assumidas recentemente. Inclusive, a empresa já está se preparando para, em breve, dar início à operação das linhas 185 – Vital Brasil (antiga 411), 189 – Capitão Paladini (antiga 449) e 191 – Olga Castrioto (antiga 409).

Sobre a linha 105 – Alberto de Oliveira, a Cidade Real informa que houve aumento de oferta no atendimento da Rua Alberto de Oliveira, que já conta diariamente com 42,5 viagens.

Com relação à linha 107 – Manoel Torres, a Associação de Moradores do Manoel Torres solicitou, durante a pandemia, por meio de ofício, que a linha fosse destinada a atender somente ao Manoel Torres, pedido que foi acatado após análise técnica.

Sobre a linha 145 – Mosela x Rodoviária Bingen, a Cidade Real destaca que a linha estava desativada durante a pandemia, voltando a operar de acordo com a demanda atual de passageiros. A empresa ressalta que o número de viagens pode ser ampliado, caso seja identificado aumento na demanda.

Por fim, a linha 165 – Lagoinha x Rodoviária Bingen estava desativada desde a pandemia. Recentemente, ao assumir a operação da região, a Cidade Real reativou a operação desta linha, que está ofertando viagens, de acordo com a atual demanda de passageiros, podendo também ser ampliada, em caso de aumento na demanda.

A Turp Transporte, que também assumiu recentemente a operação de algumas linhas de ônibus em Petrópolis, segue investindo na compra de ônibus e contratação imediata de mão de obra qualificada, para o acréscimo pontual de algumas linhas. A empresa ainda destaca que todas as regiões de atuação estão recebendo o atendimento por ônibus, de acordo com a demanda de passageiros e as necessidades locais.”

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