Passaram ou passarão?

06/02/2020 14:25

Diariamente recebo muitos comentários sobre o mau uso do nosso idioma em documentos oficiais. Um deles é a grafia do plural dos verbos em terceira pessoa – eles. Meus leitores não estão reclamando à toa. Por ocasião do desfile das taças rubro-negras de campeão da Copa Libertadores da América e do Campeonato Brasileiro, foram divulgadas algumas alterações no trânsito, o trajeto do comboio, horário previsto de chegada à cidade, entre outras informações. Tal notificação circulou dois dias antes do evento. 

O documento tornou-se público. Por essa razão, sinto-me à vontade para comentar. O redator do referido documento confundiu a grafia das formas verbais da terceira pessoa do plural dos tempos presente/passado com aquela pertencente ao tempo futuro e escreveu frases como estas: “sairam” de Itaipava…; “chegaram” ao centro…; “passaram” por… querendo informar a logística do futuro desfile. 

Ora, se o fato ainda não ocorrera, o certo seria: sairão de Itaipava…; chegarão ao centro…; passarão por… A troca confundiu o povo causando dúvida e virando piada: passaram ou passarão? A troca da grafia da forma verbal em 3º pessoa do plural é mais recorrente do que podemos imaginar. Vejo muitos “eles forão (sic) convocados para a reunião”, ou ainda, “elas estam (sic) cansadas”; “eles vam (sic) depois”. Nesses casos, a escrita adequada seria o passado do verbo “ser”: foram; e o presente dos verbos “estar” e “ir”: estão e vão. 

Para que não restem dúvidas, esclareço que a forma verbal da terceira pessoa do plural, quando oxítona (última sílaba tônica), é grafada com “-ão”, no presente (para alguns verbos) e sempre no futuro; quando paroxítona, a última sílaba é átona, isto é, tem pronúncia mais fraca. Devemos, então, escrever com “-am”. É a tonicidade na pronúncia que determina a grafia correta. Observe os exemplos: elas estão cansadas; eles vão à praia; eles irão à praia; eles foram à praia; elas já saíram; chegaram ontem. 

Essa regra, da última sílaba tônica, vale também para outras palavras, tais como, capitão, bonitão, balão, avião, competição, profissão. Existem outros tantos enganos comuns aos documentos oficiais. O que falar dos diferentes sentidos de seção/ sessão/ cessão? Se eu quero solicitar a permissão para uso de espaço público, vou pedir a cessão do lugar; para saber o lugar de atendimento específico, dirijo-me à seção de informações; e para saber a hora de um atendimento ou filme, preciso saber a hora da sessão. Qual a forma correta de sinalizar os anexos? Os documentos foram anexados (voz passiva); preços informados nas propostas anexas (adjetivo); em anexo, seguem os orçamentos (locução adverbial). 

O vocábulo “apenso”, muito usado nos documentos, é adjetivo, sinônimo de anexo, logo, usa-se da mesma forma, variando em gênero e número: a nota fiscal segue apensa; os documentos estão apensos. Para evitar equívocos, há uma Portaria (Portaria SG nº 2, de 11.1.1991, DOU de 15.1.1991) que normatiza as redações oficiais visando a (almejando) que estas tenham os seguintes atributos: Clareza e precisão; Objetividade; Concisão; Coesão e coerência; Impessoalidade; e, Formalidade e padronização. 

Esses atributos são cobrados no ENEM e em Concursos. O Manual de Redação da Presidência da República está em sua 3ª edição (2018) e disponível na internet para livre acesso no seguinte endereço: (www.planalto.gov. br/legislacao). Se preferir, digite apenas “Manual de Redação Oficial”. No nível de redação oficial, todos nós esperamos e desejamos que órgãos públicos emitam seus documentos em bom português. Fica a dica! rosinabezerrademello@ gmail.com. 

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