14/08/2022 08:00
Por Ataualpa Filho

A palavra responsabilidade carrega, intrinsicamente, além do compromisso, do comprometimento, o senso do respeito à liberdade. O ser responsável não consiste apenas em “responder por”, não está restrito ao fato de “arcar com as consequências dos próprios atos”.

Não há paternidade sem a conceituação ampla da responsabilidade. Ser pai não se limita à concepção biológica. No ser pai, há a inerência da responsabilidade em plenitude. Há os que transbordam no amor a ponto de suprir a ausência do carinho materno. Mas, por outro lado, quando a irresponsabilidade paterna se evidencia, inevitavelmente, deparamos com graves sequelas que afetam principalmente, no âmbito psicológico, crianças, adolescentes, ou seja, quem se encontra nos primeiros anos do crescimento interior. Não se pode negar a importância do amor paterno no processo educacional de crianças e adolescentes.

Não existe sociedade sem hierarquia de valores. E a maioria desses valores é consolidada no seio familiar. Por essa razão, tem-se a frase, já em domínio público, que a “a família é a base da sociedade”, uma vez que não há sociedade sem família. E, nela, há critérios hierárquicos que são preservados culturalmente.

No pai e na mãe, concentram-se as expectativas dos ensinamentos voltados para o relacionamento social. As referências maternas e paternas criam raízes no interior dos filhos. Contudo não se pode generalizar a ponto de considerar verdadeira a ideia contida no seguinte ditado popular: “filho de peixe, peixinho é”, pois, nem sempre, “tal pai, tal filho”. Há filhos de pais não assumidos, como também, há filhos que não seguem os exemplos dos pais. Portanto, não é possível defender o atavismo social pelas generalizações, sem reconhecer as exceções.

No mundo animal, principalmente entre os mamíferos, a relação macho e fêmea está na base da procriação. Em condições naturais, várias espécies, até por razões instintivas, relacionam-se em ações reprodutivas.

Lembro, com clareza, uma das polêmicas que marcou a década de setenta: o nascimento do primeiro “bebê de proveta”. Mesmo que uma criança venha por meio de uma fertilização “in vitro”, ela viverá em uma sociedade com valores já instituídos. Portanto, não está isenta da necessidade humana de “amar e ser amada”, logo, entre os humanos, não importa o processo reprodutivo, mas as relações que são necessárias para uma convivência social harmônica.

A Ciência tem evoluído bastante nessa questão da reprodução, porém ainda estamos muito atrasados no desenvolvimento das relações afetivas. Ainda não aprendemos a “amar o próximo com a nós mesmos”.

Tenho dificuldade para equilibrar-me no fio do “politicamente correto”. Tenho as minhas limitações conceituais, por isso não consigo navegar nas ondas dos modismos. Vivo em contínuo questionamento que me obriga a posicionar-me na realidade em que vivo, mesmo que isso me coloque no lado das minorias, dos vencidos, dos fora das mídias, dos fora de moda. Não uso peneira para tampar o Sol. Não consigo relativizar, nem aceitar as relativizações feitas pelas conveniências criadas para preservar zonas de conforto. É preciso assumir, com todas as letras, que a reprodução humana, até agora, só é possível por meio de óvulo e espermatozoide, ou seja, ainda é binária. Ainda é conduzida na representação de macho e fêmea.

Tenho acompanhado as discussões que giram em torno das diferenças entre gênero e sexo. Mas, até o momento, a Ciência ainda está atada a uma reprodução de seres humanos por meio de elementos associados ao masculino e ao feminino. Indelevelmente os fatos revelam as nossas limitações. Não vivemos no amanhã. Não vivemos no mundo que imaginamos. A realidade despida de fantasias nos mostra que, antes da angústia e do sofrimento diante do irreversível, é preciso considerar os fatos como se apresentam. Mudá-los ou aceitá-los são posicionamentos que provêm de atitudes pessoais.

Não sou pai. Mas sou filho. Carrego, com muita honra, a designação de filho no meu nome. Não herdei um nome, herdei uma história. Vivi ao lado do meu pai por apenas 15 anos, o suficiente para amá-lo até hoje. O dia dos pais, para mim, consiste em cada decisão que tomo para não o envergonhar na eternidade em que ele se encontra.

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