Patinha’s: a magia de Patópolis direto para Petrópolis
Ainda que os clientes se sentissem em casa, não havia relação de parentesco consanguíneo com aquele que dava nome à lanchonete. Mas à medida em que eram feitos os lanches e o sentimento de pertencimento crescia, o cenário mudava: o freguês se elevava à categoria de sobrinho do Patinha’s e herdava a fortuna do tio em refeições.
Dono de um império empresarial espalhado pelos quatro cantos do globo, dentro do estabelecimento o personagem permanecia onipresente. Dominava e entregava com maestria refeições das mais variadas. Das inesquecíveis massas, aos sanduíches, pizzas e sorvetes, o cardápio era cobiçado e digno de ser guardado na ‘Caixa Forte’.
“O Patinha’s misturava um braço da sorveteria do Toni’s, outro da comida americana que o Fuka’s servia e ainda coloquei uma churrasqueira na brasa que fazia o espeto misto. Deu um estilo diferente e foi um sucesso total. Era um andar só de lanchonete. As cores eram o laranja, o verde e o amarelo”.
Fundador do Patinha’s, Renato Araújo Monteiro, de 71 anos, relembra o sucesso que foi inaugurar a pizzaria e a sorveteria na lanchonete e reunir, num mesmo local, o melhor dos dois mundos. Como descrevia a imprensa em 1971, ano em que o empreendimento foi aberto, o cliente podia esperar pelo que havia de mais ‘prafrentex’.
“Comprei o Fuka’s em 1969, um ano depois comprei o Toni’s e abri o Patinha’s em 1971. Naquele ano estava todo mundo investindo na bolsa e decidi fazer diferente. Comprei o restaurante Tijuca, que era um restaurante tradicional, o desfiz e montei o Patinha’s. Na época o prefeito Caldara chegou a ir na inauguração”.
Sócio de Renato na fundação do Patinha’s, o senhor José Gabino Perez Rodriguez, de 80 anos, descreve como foi estar à frente de uma das lanchonetes a que os petropolitanos mais se referem com carinho, ainda que passados tantos anos. Fora a qualidade oferecida, ele menciona a modernidade como um dos motivos que a tornaram bem-sucedida.
E por mais que o novo impressione, se não souber cativar, pouco irá durar. Há mais de 30 anos no Toni’s – adquirido junto de Renato, em 1970, o senhor Gabino sabe disso mais do que ninguém; com seu atendimento humanizado, faz de sua presença mandatória à harmonia do ambiente e também do cliente.
“É o que eu sei fazer: trabalhar com comida, atender clientes com uma boa vibração e com carinho para que eles voltem porque dependemos deles. O Toni’s foi inaugurado em 1959. A gente adquiriu em 1970. Estive fora por um tempo, mas voltei em 1986. Se deixarem volto amanhã”, brinca.
Atual fachada do antigo Patinha’s. Foto: Bruno Avellar
Garçom! Uma porção de aconchego para viagem
Emprestado, uma das vantagens de interpretar o papel de sobrinho do Patinha’s era enxergar a casa que habitava e a familiaridade que nela reinava como também sendo suas. Assim, mesmo quando o cliente dela saía, dava um jeito de carregar consigo um pouco do aconchego lá recebido.
“Em época de Natal, que era quando as lojas ficavam abertas até mais tarde, eu e minha amiga saíamos do trabalho, comprávamos batata frita no Patinha’s e ficávamos vendo as vitrines, passeando pela Avenida. Era batata normal só que no lugar do prato a gente pedia para colocar num saco de papel”.
Para a petropolitana Andréa Pimentel Benevides, de 50 anos, era essa a estratégia. O lanche era embalado para viagem e, com sorte, acompanhado do aconchego do Patinha’s. No caso da artesã de 57 anos, Rogéria Cristina Braga Pereira Xavier Anacleto, por sua vez, quanto mais a fantasia durasse, melhor.
“Na época a situação financeira dos meus pais não era grande coisa, mas eu tinha uma colega que tinha uma situação melhor e que fez o aniversário dela no Patinha’s. Eu ouvia as pessoas falando do sanduíche americano, e foi o que eu pedi quando fui lá. Quando comi aquele misto quente, meu Deus do céu! Para mim foi maravilhoso”.
Sem nunca ter comido pão de forma, Rogéria conta que, naquele dia, se emocionou com as novidades proporcionadas pelo tio de quem havia se tornado sobrinha por um dia. E ainda que os pratos parecessem ter saído do mesmo mundo mágico do personagem, não pensou duas vezes antes de incluir no pedido um suco de laranja e uma banana split.
“Foi a primeira banana split que comi, o primeiro suco de laranja que bebi, e o primeiro misto quente que comi. Tudo pela primeira vez. Suco a gente tomava era aquele Ki-Suco. Para mim foi uma experiência muito legal. Nossa, mas eu fiquei muito feliz. Depois cresci, comecei a trabalhar e voltei no Patinha’s várias vezes. E pedia sempre a mesma coisa”.
Envolvente, a trama conduzida pelo afortunado Patinha’s fazia dos acontecimentos triviais e banais os mais especiais. Uma petropolitana de 43 anos, que optou por não se identificar, explica que foi lá, na porta da lanchonete, que conversou pela primeira vez com aquele que viria a ser seu namorado e, depois, marido.
“Um dia marquei de me encontrar com uma amiga ali na porta do Patinhas, só que ela não foi. Aí eu fiquei um tempão esperando por ela e foi aí que o conheci e começamos a conversar. Acho até que a gente não chegou a frequentar a lanchonete, mas foi o lugar em que tudo isso aconteceu”.
De Patópolis a Petrópolis, o Patinha’s fez da hoje Rua do Imperador, 573, cenário mágico em que, diferente da ficção, o herdeiro não era segredo.
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