Paulo Figueiredo/Advogado e jornalista

07/02/2017 11:35

É claro que há diferenças entre os dois. Algumas, profundas. Mas há também semelhanças, nem tão poucas. 

Dilma quebrou o país, levou-nos à insolvência, com recessão econômica, desemprego explosivo e inflação em alta. Temer, feito presidente, procura reencontrar os caminhos do desenvolvimento, com reformas estruturais, responsabilidade fiscal, inflação em queda e redução dos juros da economia.

No plano político, Temer vem de uma longa carreira no parlamento, presidente da Câmara Federal em vários mandatos, enquanto Dilma nunca sequer se elegeu vereadora, em qualquer município remoto. Oriundo, Temer manobra muito bem suas relações com o Congresso, ao passo que Dilma preferiu bater de frente com a instituição. Temer é afável, paciente, sabe ouvir com estoicismo e resignação monástica, mostrando-se disposto ao diálogo permanente. Dilma, ao contrário, é agressiva, impaciente e intolerante, impermeável a opiniões que divirjam de seus entendimentos estratificados.

No início do primeiro mandato, Dilma revelou-se um tanto quanto inflexível com a corrupção, ao promover uma faxina no ministério herdado de Lula. Defenestrou vários ministros, mas logo retrocederia, admitindo-os de volta ao governo, via terceiros indicados pelos excluídos ou por seus partidos, numa tentativa de reordenar suas bases de apoio no Congresso. Na ocasião, aproximou-se do comportamento característico de Temer, mas termina frustrada em seus propósitos, porquanto despreparada para o trato da questão política, fato que a faria naufragar lá adiante no impeachment.

A ex-presidente ainda tentou uma recomposição política que lhe vinha sendo ditada por Lula, a ponto de tentar fazê-lo ministro-chefe da Casa Civil. Mas, já com os burros n’água, a iniciativa mostrou-se inviável, em sentido inverso do que agora ocorre com a nomeação de Moreira Franco. O conhecido Gato Angorá, como o chamava Leonel Brizola, é levado ao ministério Temer com o único objetivo de protegê-lo contra ações do juiz Sérgio Moro, uma vez citado 34 vezes nas delações da Odebrecht.

No fundamental, quanto ao denominado presidencialismo de coalizão, Dilma navegou no mesmo rio do fisiologismo em que navega Temer, ainda que com insucesso marcado por sua proverbial inabilidade. No ponto, o presidente peemedebista, ao mesmo tempo em que se distancia de Dilma, guarda reconhecida identidade com Lula, que dominou os mais de 300 picaretas do Congresso Nacional com procedimentos fundados no toma lá dá cá, que explicam o Mensalão. O ex-metalúrgico, desde os tempos da vida sindical, sempre foi muito pragmático, sempre comprou o que precisava comprar, sem o menor constrangimento, uma das razões do êxito que experimentaria p ela vida afora.

No submundo escrachado e deletério da política, nas relações promíscuas da política de balcão, não há dessemelhanças fundamentais a serem registradas entre Dilma e Temer. Tudo segue com as mesmas configurações e nada se fez ou faz para modificar hábitos e comportamentos da classe política que domina o poder no país.

Afora a competente administração da economia, vital para o retorno às trilhas do desenvolvimento, talvez o quadro se mostre atualmente bem mais grave. Um ligeiro olhar pelo que acaba de acontecer em Brasília, com a eleição de quem já estava eleito, tanto na Câmara, quanto no Senado, mudando-se no continente para nada mudar no conteúdo, dá a dimensão do drama político e institucional. O que esperar de Eunício Oliveira, Renan Calheiros, Romero Jucá, Rodrigo Maia e da equipe que dá as cartas no Palácio do Planalto. Todos tem passagem pela Lava-Jato, com Moreira Franco agora devidamente blindado? É o que temos, a triste realidade.

paulofigueiredo@uol.com.br


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