Pedro Sampaio só pensa em fazer o brasileiro feliz com disco de estreia

04/02/2022 08:37
Por Murilo Busolin / Estadão

Aproximadamente 14h30 de uma calorosa quinta-feira, sensação de mais de quarenta graus, é dia de feriado no Rio de Janeiro por motivos do padroeiro São Sebastião e as praias, é claro, estavam lotadas.

No Leme, reparo a poucos metros da minha cadeira de sol um homem de meia-idade, com um gingado de dar inveja, mas que não dançava só, ele estava acompanhado de uma figurinha pra lá de carismática, provavelmente a sua filha. Os dois reproduziam de maneira precisa a coreografia do hit Galopa, do DJ e produtor Pedro Sampaio.

Dias antes havia presenciado um grupo de jovens fazendo os mesmos passinhos em uma festa conhecida do público carioca LGTB+. Só no aplicativo TikTok, local onde a música foi impulsionada para as playlists do Brasil todo, Galopa caiu nas graças do grande público e conta com mais de 533 milhões de visualizações, entre danças profissionais e passos desconcertados.

Gostando ou não, esses são os indicativos que provam o sucesso de uma música nos dias atuais, e esse resultado vem das mãos de um artista que se tornou gigantesco durante a pandemia.

“Tudo começou quando eu tinha por volta de 13 anos de idade. Foi nesse momento que surgiu a minha vontade de querer brincar com as músicas, com funk, eletrônica, hip-hop, house e trap”, afirmou Sampaio. “Sempre gostei de vários estilos diferentes de som e sempre entendi que, sendo DJ, eu poderia misturar ritmos sem necessariamente aprender a tocá-los. É pura diversão, começou como hobby na infância e continua sendo em 2022, mas hoje em dia é uma brincadeira profissional.”

Números exorbitantes

Criado no Méier, o carioca se considera um artista em crescimento e disposto a aprender em qualquer ocasião, independentemente dos números exorbitantes que vem conquistando ao longo do tempo. Após emplacar Sentadão no topo das paradas durante o carnaval de 2020, Sampaio foi rapidamente alçado entre os mais destacados nomes da música brasileira contemporânea.

Atualmente com 24 anos, ele já acumulava bilhões de streamings no somatório das plataformas, antes mesmo do lançamento do seu primeiro álbum.

Chama Meu Nome chegou com 11 faixas em todos os serviços de música na noite da quarta-feira, 2. No disco, os hits consagrados Atenção, com Luísa Sonza; No Chão Novinha, com Anitta; além da já citada Galopa e parcerias diversificadas com outros cantores como MC Don Juan, Zé Vaqueiro e o também DJ KVSH.

As músicas se completam como uma festa universitária recheada de participações especiais. São beats frenéticos, misturas de ritmos inusitados e vocais produzidos de Pedro Sampaio (sim, ele também canta). O mais curioso de tudo é que essa energia non-stop das canções foi produzida por uma pessoa que não é festeira.

“Eu me encontrei fazendo esse tipo de música, porque é isso que quero passar para o público, e acaba compensando na minha vida pessoal. Fazer música alegre me traz alegria, ou seja, eu faço música pensando em todos. Seu sobrinho, seu neto, sua mãe, sua avó. Todos podem dançar a minha música.”

De fato, o artista pensou em agradar a todas as tribos quando deu o pontapé no processo de criação de Chama Meu Nome. Por 15 dias, foi montado um camping com vários compositores e produtores convidados por Pedro, como Jorge Vercillo e Ferrugem.

“Me preocupei em trazer o Brasil para esse álbum. Temos funk, temos piseiro, temos pagode. São vários ritmos nacionais e são vários artistas importantes para cada ritmo, e todos que convidei durante a produção toparam na hora”, cita o também produtor, que sonha em trazer a drag queen Pabllo Vittar para um de seus próximos projetos.

“Ela representa algo muito importante, fazer uma música com ela é como um marco em minha carreira. Já até começamos a desenvolver algo, mas ficou para o próximo álbum. Quando acontecer, tem de ser algo impactante”, completa.

Filho nato da geração Z, Pedro cresceu ao mesmo tempo que as tecnologias e redes sociais foram se desenvolvendo e ganhando força. Ele usa e abusa dos memes e da criatividade na internet para a divulgação do seu trabalho, uma característica semelhante à estratégia adotada pelo rapper americano Lil Nas X, uma das inspirações do DJ.

Ao contrário da maioria dos artistas brasileiros, Sampaio e sua gravadora Warner não pensam apenas na divulgação massiva de um lançamento antes de sua estreia, mas adotam o mesmo método de artistas pops internacionais para que a música siga estável nos charts após o impacto da estreia.

Expertise

Toda a expertise do produtor nas redes é atrelada a uma estratégia comercial (seja através de posts de influenciadores ou da criação de danças virais), que mantém suas músicas “vivas” e com crescimento orgânico por meses.

Galopa foi lançada em setembro de 2021, mas o seu pico foi atingido somente em dezembro, quando a música passou a registrar mais de um milhão de reproduções diárias apenas no Spotify. Nesse período, o artista se tornou o primeiro brasileiro a ranquear duas canções ao mesmo tempo na parada Billboard Global Excl. US, que contabiliza os números de compras digitais e reproduções fora dos Estados Unidos.

Perguntado se há alguma fórmula ou segredo especial para suas estratégias, Pedro mandou um recado para o mercado musical brasileiro: “A sustentação de um lançamento é ainda mais importante do que o pré-lançamento: é quando você faz a sua música ganhar corpo, quando ela consegue furar mais bolhas e é ouvida por mais gente. Os artistas do funk e do pop daqui do Brasil precisam pensar mais nisso”.

Com tanta influência no público juvenil, Pedro ainda não pretende se posicionar sobre questões polêmicas que rondam um Brasil extremamente polarizado, prestes a encarar mais uma eleição presidencial.

“Acho muito importante os artistas se posicionarem, desde que eles tenham certeza do que estão falando e para quem estão falando”, observa. “Sou um artista em construção e a situação aqui muda muito rápido, de repente você fala uma coisa que todo mundo acha que é uma verdade e amanhã não é mais. Eu me preocupo em não passar uma informação errada, prefiro me colocar em uma posição de entretenimento. Eu só falaria alguma coisa em relação à política com muita certeza e, mesmo assim, acho muito perigoso, ainda mais pelo estilo de música que faço.”

O Pedro de dez anos atrás só pensava em transmitir alegria com sua mixagem de som em festas de família e amigos. Ele passou a compartilhar o seu dom em lives do Facebook, começou a tocar com mais frequência, conheceu ídolos, trabalhou com eles e hoje consegue fazer com que pai e filha dancem a sua própria música na praia.

Com pouco tempo de carreira, viu seu trabalho chegar ao palco da principal premiação de música do mundo, o Grammy – a rapper Cardi B usou a versão funk que o DJ produziu, de maneira despretensiosa, para um dos maiores hits de 2020, WAP.

Não é à toa que a sua pose marca registrada – um sorriso largo com os olhos fechados – é o símbolo do seu primeiro álbum. Pedro Sampaio é um jovem talentoso feliz, que só quer ver o brasileiro se sentindo igual.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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