Pensamentos intrusivos

06/out 08:00
Por Ataualpa A. P. Filho

Quem nunca teve um pensamento intrusivo que faça a primeira crítica. Quantas vezes você controlou os impulsos para não tomar uma atitude drástica quando provocado? Quantas vezes você se conteve para não dizer aquilo que gostaria diante de uma ofensa? Quantas vezes você já ouviu uma música em um ambiente qualquer, mas, involuntariamente, horas depois, você se pega cantando aquela música que parece que não vai sair da cabeça? No nosso dia a dia, sempre haverá situações inesperadas que exigem discernimentos.

Os pensamentos intrusivos geralmente aparecem nas horas em que estamos nos limites da nossa tolerância. Às vezes, os xingamentos ficam apenas na mente. Temos o extremo cuidado de não os externar para não complicar ainda mais a situação. Os impulsos precisam ser controlados.

Nos poucos debates políticos a que assisti, neste período de eleição, vi que muitos candidatos se esmeravam na provocação com o propósito de tirar o oponente do controle das emoções. O provocar para desequilibrar virou estratégia e uma maneira de fugir do debate ideológico, das discussões voltadas para o bem da coletividade.

O ódio ganhou espaço. As cadeiradas, as cabeçadas, os socos, as agressões, as ofensas morais, as calúnias, as inverdades ficaram na crista das campanhas políticas, foram além dos limites. Muitos partiram para as vias de fato. Em síntese, perderam a cabeça.

Para não perder a cabeça, temos que estabelecer um certo domínio sobre os pensamentos intrusivos. Assim, do quase nada, eles aparecem. Vem aquela vontade de…, mas temos que exercer um controle sobre ela. Vejo, no trânsito dos centros urbanos, um descontrole mais aflorado. As pessoas xingam, gritam, buzinam, agridem-se futilmente.

– Não acredito que essa pessoa fez isso?…

– Pois é! Fez. É inacreditável!…

Às vezes, ficamos assim perplexos diante das ações de alguém que se deixou vencer por um pensamento intrusivo, que a levou a uma postura descontrolada, fugindo completamente da sua normalidade. Quando alguém constantemente age de forma impensada, pode desencadear um processo depressivo, uma vez que passa a decepcionar-se com as próprias atitudes. E, em momento de vulnerabilidade, pode vivenciar um forte sentimento de culpa. Muitos têm dificuldades de perdoar-se. Nem sempre é fácil lidar com os próprios erros. E, para evitar determinados constrangimentos, precisamos educar até as emoções. A imprevisibilidade faz parte da natureza humana. Por isso que o reconhecimento das nossas imperfeições perpassa pela humildade.

Os Pensamentos intrusivos ganham mais espaços quando a pessoa se encontra mais vulnerável em estágio de embriaguez ou sob o efeito de alguma droga. As atitudes inconsequentes mergulhadas no etilismo também desencadeiam processos depressivos.

A autorresponsabilidade ajuda no discernimento consciente das atitudes. E, neste instante, pensando em “nervos de aços”, instrusivamente vieram os versos da canção “Loucura” de Lupicínio Rodrigues na voz de Bethânia:

“E aí/ Eu comecei a cometer loucura/ Era um verdadeiro inferno/ Uma tortura/ O que eu sofria/ Por aquele amor/ Milhões de diabinhos martelando/ Um pobre coração que agonizando/ Já não podia mais de tanta dor.”

Confesso que não ofereço resistências quando versos, frases do que li e ouvi saltam assim inesperadamente, pelo fio do acaso, em um processo reflexivo. As citações, que frequentemente faço, vêm impulsionadas pelo momento da reflexão.

No meu modo de ver, os pensamentos intrusivos nem sempre estão do lado negativo. Às vezes, bate um desejo forte de externar a um ente querido o nosso afeto. Quando se trata da ternura, eu acho que não se pode perder a oportunidade de dizer “te amo!” O carinho quando brota espontaneamente tem outro sabor…

Nem tudo é divino e maravilho. O viver ainda continua perigoso. Por isso precisamos estar atentos e fortes para não cair em tentações. É preciso conter o excesso de futuro. O foco sobre o agora mostra que o porvir é construído no hoje. É imprescindível ter consciência de si para evitar as situações em que podemos perder o controle das nossas ações.

Inquestionavelmente, o pensamento intrusivo está entre os itens que provocam o transtorno do pânico, uma vez que pode estar relacionado à imaginação de situações angustiantes que possam desencadear o medo de algo que está no plano imaginário. E isso gera sensações de catástrofe iminente.

O pensar positivo, o acreditar no nosso poder de superação, o esperançar pela virtude do amor estão entre os itens que podem tornar mais seguro o chão da nossa caminhada neste mundo. Apesar de tudo, a vida é bela.

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