Perder com dignidade

14/07/2018 09:00

Fomos às 21 Copas, ganhamos cinco títulos. Logo, perdemos 16 Copas! Deveríamos ter aprendido a perder com dignidade. Mas temos que arrumar culpados. Na vida e no futebol, queremos crucificar. O Dunga. O meião do Roberto Carlos. Felipão. O apagão. O Felipe Melo. Neymar. Esquecemos que perder faz parte. Nem foi o caso, mas acontece de o outro às vezes jogar melhor. Ou haver fortuito gol contra, bola na trave, goleiro gigante que naquele dia é inexpugnável. 

Com adversidades, e inédito festival de lesões, a seleção jogou bem a partir do segundo jogo. Só foi mal contra a retranca suíça. Merecia ter ganho no implacável bombardeio de quase 30 chutes contra a Bélgica que, respeitando nosso poderio, se retrancou para contra-atacar. Tivesse se aberto como fez contra a França, o Brasil teria vencido. Ao fim das contas, a mim esta Copa mostrou um Brasil de belo futebol, com lampejos de brilho. 

Cruel o linchamento mundial do Neymar. Voltando de cirurgia, jogou sem plenitude de condições físicas e psicológicas. Sempre foi caçado, recordista de duras faltas sofridas. O que frequentemente faz é, ao ver inevitável a dura falta, se atirar para reduzir o impacto. Proteção. Que seja exagero a quantidade de rolamentos depois da queda, o teatro eventual, vá lá, mas a falta ocorreu! O "se atirar" é defesa. Então, peguemos mais leve com o cara. Embora essa grita mundial que o ridiculariza, e Mbapé e Cavani voltando da Copa mais laureados, mais a presença de Buffon no PSG, pode até lhe fazer bem. Desafiá-lo a provar o quão bom realmente ele é. O velho goleiro de 40 anos, tantos títulos e experiência, pode ser referência boa, quem sabe até um conselheiro ou mentor para o craque. Contraponto ao que soa ser influência excessiva, nem sempre benéfica, do seu pai. Sei é que nossas reações negativas, os linchamentos quando de derrotas, mostram às vezes, o pior de nós, que não aprendemos a perder. 

Os jogadores do "Javalis Selvagens" da Tailândia, que enfrentaram drama realmente grave, deveriam nos ajudar a repensar atitudes em adversidades comuns, como eliminações no futebol. Dignos na sua unidade, entrosamento, superação, capacidade de obedecer a comandos, e coragem. Seus socorristas mostraram solidariedade, fé, ousadia e perícia. Escolher, como fizeram, a solução mais difícil, mas a mais realista, exigiu desassombro, organização e superação. E não vi caça a culpados, linchamentos. Alguém poderia responsabilizar o técnico do time, único adulto na situação, por imprudência no passeio. Mas ele foi fundamental, acalmando e organizando os meninos, e até passando fome para que eles comessem. 

Então, enquanto se comemora o resgate heroico na Tailândia, tem final inédita de Copa. Grato à seleção que bem me representou, torcerei pela Croácia. E tentarei aprender com os mergulhadores que, na Tailândia, demonstraram o que de melhor a raça humana produziu. Já os detratores do Neymar, os campeões dos impropérios, deboches e acusações, estes, não me representam. Como também – e não há como esquecer disso – péssimos perdedores que têm se mostrado, não me representam os chicaneiros petistas que tentaram soltar Lula numa vergonhosa manobra jurídica de plantão em final de semana. Querendo bater no juiz, esticar jogo já terminado, o PT culpa Moro, os procuradores, o Código Penal e o mundo por suas mazelas, mas até agora foi incapaz da mais leve e indispensável autocrítica sobre os seus muitos erros e crimes.

denilsoncdearaujo.blogspot.com

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