Perseguido? Com 13 amarelos em 24 jogos, Zubeldía tem ‘postura de jogador’ no banco

15/ago 14:05
Por Bruno Accorsi / Estadão

Luís Zubeldía vive cada jogo do São Paulo com muita intensidade, o que costuma lhe custar caro. A reclamações e escapadas da área técnica já renderam ao treinador argentino 13 amarelos em 24 partidas no comando do time tricolor, além de dois vermelhos. Não à toa, ele está suspenso do clássico de domingo, com o Palmeiras. Com 15 amarelos, o atacante Luciano é o único jogador do elenco que supera o comandante.

A quantidade de cartões gerou reclamação de Carlos Belmonte, diretor de futebol são-paulino, após mais um amarelo recebido por Zubeldía, na vitória por 1 a 0 sobre o Atlético-GO, domingo. Na súmula, o árbitro Davi de Oliveira Lacerda disse que o treinador foi advertido por “reclamar contra as decisões da arbitragem”.

Depois do jogo, Belmonte disse entender que “alguns cartões” recebidos por Zubeldía “foram justos”, mas sugeriu existir uma “sistematização de cartões” e considerou “injusto” o cartão do final de semana. O Estadão conversou com ex-árbitros para ter uma síntese do comportamento do argentino à beira do gramado e entender se as advertências têm sido exageradas.

Manoel Serapião Filho, um dos idealizadores do VAR, avalia que a postura do treinador na área técnica guarda resquícios da época em que ele foi jogador e dos quais não consegue se livrar. Zubeldía teve uma curta carreira como meio-campista de 1998 a 2004, vestindo a camisa do Lanus. Uma lesão grave no joelho o forçou a se aposentar aos 24 anos.

“A questão do Zubeldía é uma situação, ao meu ver, de mudança de profissão. Ele ainda se sente como se estivesse jogando futebol, com aquela vibração intensa e se excede, por isso recebe muitos cartões amarelos. Ele vibra em todos os lances, reclama em todos os lances”, diz Serapião.

“Precisa, realmente, se convencer que, como treinador, tem de ter serenidade e equilíbrio, até porque – isso vale para todos os treinadores – em 90% ou mais das reclamações, eles não têm razão, porque a visão deles não é boa. Deixam a adrenalina tomar conta do profissionalismo e dá nisso: suspensão, excesso de cartões. É uma questão de maturidade e consciência da mudança da função de jogador para treinador”, conclui.

Carlos Eugênio Simon, comentarista de arbitragem da ESPN, vê Zubeldía inserido em um contexto mais amplo, no qual muitos treinadores têm apresentado postura parecida. De acordo com ele, existe uma insatisfação legítima com a qualidade dos árbitros do Brasil, mas que não justifica as extrapolações.

“A área técnica foi criada para o técnico ficar ali na beira de campo e instruir os seus jogadores. Quando o treinador não faz isso, ele sai do espaço delimitado, protesta contra qualquer marcação do árbitro. Isso não é um comportamento adequado, é passível de cartão. Acho que não é só ele, alguns profissionais (treinadores) do futebol brasileiro têm esse comportamento. A conduta fora da área técnica está muito forte. Qualquer coisa levantam os braços, reclamam com veemência da arbitragem”, afirma.

“O árbitro não tem o que fazer a não ser cumprir a regra. Nós estamos vivendo no futebol brasileiro um momento em que a arbitragem não é a melhor. Então, são muitas reclamações. Outra coisa são os jogadores e treinadores se excedendo. A cada rodada do Brasileirão, Copa do Brasil, o árbitro é cercado a cada decisão. Até em marcações claras de falta e tiro penal, que todo mundo vê que aconteceu. Não é um, são quatro, cinco cercando o árbitro. O árbitro perdeu a autoridade”, completa Simon.

Leonardo Gaciba compartilha da opinião de seu colega de ESPN e defende que não há como não advertir Zubeldía frente às constantes reclamações efetuadas pelo são-paulino ao longo das partidas, pois as orientações sobre isso aos árbitros são bastante claras.

“Zubeldía é um técnico que vive o jogo, todos sabem que ele é extremamente intenso à beira do campo. Na verdade, a área técnica não deveria ser espaço de reclamação e sim de orientação aos atletas, mas no Brasil virou palco de protestos. Somado a isso, há uma orientação aos árbitros de ser extremamente rigorosos com reclamações. Ele chegou na temporada com maior número de cartões para reservados; o somatório desses fatores só poderia ser a média de mais de um cartão a cada dois jogos”, comenta.

O técnico argentino estará à beira do gramado nesta quinta-feira, no Estádio Gran Parque Central, em Montevidéu, onde o São Paulo enfrenta o Nacional pela rodada de ida das oitavas de final da Libertadores, a partir das 19 horas.

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