Personal diz que treino de corrida precisa de mais disciplina do que ciência
Luiz Carlos de Moraes é um experiente personal trainer há mais de 40 anos e diz na entrevista que a corrida de rua cresceu muito, mas o desempenho dos corredores não evoluiu na mesma proporção.Disse também que para melhorar,os corredores precisam treinar forte, de preferência em grupo, mas com organização técnica direcionada para isso nos chamados treinões como fazem os quenianos. “Eles dividem os grupos por faixas de velocidade e os mais lentos saem na frente e os outros vão buscar. É uma técnica em quetodos ajudam a todos um empurrandoo outro”, completa.Tribuna – A gente sabe que a corrida de rua cresceu muito nos últimos anos e surgiram muitas equipes novas,cada uma com muitos componentes.Em sua opinião, os corredores estão evoluindo os tempos pessoais na mesma proporção de surgimento?Moraes – Em princípio não, porque muitos estão apenas correndo por correr. Independente do corredor ser iniciante, intermediário ou avançado, o objetivo comum é melhorar os tempos pessoais,mas para isso é preciso treinar certo e bem, o que nem sempre é sinônimo de treinar muito. Tirando a galera que apenas curte a corrida visando pura e simplesmente a qualidade de vida sem se preocupar com o tempo, todos precisam de um mínimo de organização nas suas planilhas e não é só isso. Nos treinos fortes é preciso ser forte mesmo e muitas vezes depende de um estímulo extra. Nos treinos fortes o estímulo extra pode vir nos treinos em grupo um “contra o outro”, o que não acontece com os chamados “treinões”normalmente realizados pela maioria das equipes.
Tribuna – Esses“treinões” não têm objetivo de melhorar o desempenho individual?
Moraes – De modo geral,as equipes apenas se reúnem em algum lugar e saem para correr cada um no seu ritmo e pronto. Em termos de caráter social é ótimo, mas em termos de objetivos técnicos quase ninguém evolui porque não é desafiado. Vejam bem. Não tem problema nenhum quem não quer evoluir, até porque acaba sendo uma garantia de ficar mais longe das lesões,mas quem quer melhorar precisa de algo mais como fazem os melhores do mundo que são os quenianos nos treinos chamados de fartlek.Isso precisa ser organizado de preferência sob o comando de um treinador.
Tribuna – Muita gente ainda questiona isso. A musculaçãorealmente ajuda ocorredor? Ele pode correr mais por causa disso?
Moraes – Sim, e não adianta negar que corre melhor quem tem os músculos, principalmente das pernas,fortalecidos e não dá para imaginar alguém correr longas distâncias sem um mínimo de treinamento de força. Entretanto,a inclusão da musculação nas planilhas de corredores não significa que irão correr melhor por aumento da capacidade aeróbia e sim pela economia da corrida. Ou seja,com os músculos fortalecidos o gesto esportivo se torna mais suave resultando em correr com menos sofrimento. A musculação melhora a economia de corrida ou pela redução do movimento desnecessário ou porque pernas mais fortes permitem aos corredores utilizarem mais as fibras musculares de contração lenta que são mais econômicas. Ou seja,como já citei em meus artigos as fibras vermelhas (de contração lenta) em treinos de alta intensidade (intervalados e fartlek) também são treinadas ajudando, por assim dizer, as fibras brancas (de contração rápida). Portanto, para sofrer menos na corrida é preciso incluir treino de musculação.
Tribuna – Qual o seu conselho para os corredores que desejam realmente melhorar?
Moraes – Que se unam a grupos que tenham, pelo menos,assessoria esportiva com experiência em corrida de rua.Assim como o corpo acostuma com treinos fortes, também fica cada vez mais preguiçoso com treinos fracos.