Petrópolis é a 11ª cidade do estado no ranking de violência doméstica

18/03/2019 12:00

Com 154 novos casos de violência doméstica registrados em janeiro deste ano, Petrópolis ocupa a 11º posição no ranking do estado para este tipo de crime. O levantamento foi divulgado esta semana pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ). Das cidades da Região Serrana, Teresópolis vem na frente, ficando em sétimo lugar, com 213 registros. Já o município de Nova Friburgo ficou na 14ª posição, com 117 novos casos este ano.

"A violência doméstica começa de forma velada. Raramente o agressor começa batendo na vítima. Primeiro ele implica com as roupas, com os amigos, tem crises de ciúmes por causa das mensagens no celular. Depois vêm agressões verbais, os xingamentos e humilhações. Ele faz com que ela se sinta inferiorizada. Em seguida vêm as agressões. Um tapa, um empurrão, até que elas se tornam frequentes", disse a delegada titular da 106ª Delegacia de Polícia (DP), Juliana Ziehe.

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A delegada ressalta a importância de perceber os sinais antes que as agressões se tornem frequentes. "Em algum momento, o pior pode acontecer. A possibilidade dessa mulher ser morta é grande e real, por isso é muito importante denunciar os abusos assim que eles acontecem, para que as medidas protetivas sejam aplicadas. E mais importante ainda é perceber que ciúme exagerado com a roupa, amigos, conversas nos celulares são indícios negativos", ressaltou Juliana.

De acordo com dados do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, a capital é o primeiro município com mais registros de novos de casos. Em janeiro deste ano, foram 3.748. Duque de Caxias vem em segundo lugar com 1.073 processos. Nova Iguaçu (665), São Gonçalo (620), Belford Roxo (294) e São João de Meriti (245) completam a lista. 

Tendo atuado por 11 anos em varas Criminais e Tribunais do Júri, o juiz Antonio Alves Cardoso Junior está, desde 2011, à frente do Juizado de Violência Doméstica no Rio. Ele lembra um caso que o marcou: o do homem que agrediu a esposa e as filhas em uma feira. "Durante a instrução, resolvi ouvir as filhas, embora não tivessem sido arroladas pelas partes para depor. Elas contaram as surras que levavam desde que eram pequenas, sendo que o pai batia tanto nas filhas quanto na mãe, além de terem sido vítimas de outras agressões em público. Ainda assim, as filhas, já duas moças, sendo uma delas casada, choravam muito no depoimento. Estavam nitidamente com pena do pai", contou o juiz.

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Para o magistrado, muitas vezes é difícil identificar o início de uma relação de violência doméstica, pois há muitas variações comportamentais. "Há casos em que nunca houve nem mesmo agressão verbal. Às vezes, a mulher é violentamente espancada, ou mesmo morta, por um motivo banal, mas, em grande parte das vezes, a violência começa com agressões verbais e ameaças até descambar para a violência física", frisou.

Dados do Centro de Referência de Atendimento à Mulher (Cram), que atende às mulheres vítimas de violência relacionadas à Lei Maria da Penha – quando a mulher tem algum “vínculo” com o agressor – também mostram o aumento na quantidade de casos na cidade. Em 2019, nos meses de janeiro e fevereiro, o Cram realizou 103 atendimentos, entre assistências iniciais e retornos. Em 2018, foram 638 atendimentos durante todo o ano.

Conscientização nas escolas

Para a delegada titular da 106ª Delegacia de Polícia (DP), Juliana Ziehe, é importante abordar o assunto de violência doméstica ainda na adolescência, quando as meninas e os meninos começam a ter os primeiros relacionamentos. "Temos percebido que as agressões começam cada vez mais cedo, quando elas têm 13, 14 anos. Por isso vamos iniciar um trabalho nas escolas, fazendo palestras e atingindo esse público", disse.

As primeiras palestras acontecem na próxima semana nas escolas municipais Professora Maria Campos da Silva (na Rua Buenos Aires, no Centro) e na Abelardo de Lamare (na Estrada do Caxambu, no Santa Isabel). "Tivemos um registro de uma menina de 14 anos que estava namorando um jovem de 19. Ela foi agredida por ele, mas antes das agressões físicas, tudo começou de uma forma velada. É isso que vamos tentar mostrar nessas palestras. Tentar mostrar para as meninas que a violência doméstica começa de uma forma bem sutil, nunca é explícita", comentou.

Segundo a delegada, a intenção é visitar várias escolas do município orientando os adolescentes e falando sobre a importância de denunciar os abusos logo assim que eles começam. "Há um aumento da violência doméstica em todo o país e em Petrópolis não é diferente, precisamos dar um basta nisto. O machismo está entranhado na nossa sociedade e precisamos mudar essa realidade", ressaltou Juliana.

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