Petrópolis e a Literatura: conheça alguns dos autores que passaram pela cidade

16/03/2023 08:01
Por Aghata Paredes

Petrópolis guarda segredos inimagináveis. Além de uma infinidade de histórias, registradas ao longo de seus 180 anos, e o charme de suas atrações turísticas, a cidade serrana sempre foi vista como um lugar de refúgio e tranquilidade por diversas personalidades. Algumas delas, inclusive, aqui se refugiaram; outras buscaram inspiração em suas paisagens para escrever.

Stefan Zweig (1881-1942)

Foto: Acervo Casa Stefan Zweig

Stefan Zweig nasceu em Viena, em 1881. Zweig fez suas primeiras publicações de poesias em revistas literárias – Deutsche Dichtung (Berlim) e Die Gesellschaft (Munique), mas logo ganhou o mundo com sua produção literária.

Zweig e Lotte, sua companheira, abrigaram-se da perseguição nazista em Petrópolis. Aqui moraram durante cinco meses numa casa no Valparaíso, até abreviarem suas vidas. Fato que ocorreu em 1942. 

Numa carta para a primeira mulher, Friderike, Zweig relata a mudança para casa em Petrópolis. “Hoje nos mudamos, felizes. É uma casa minúscula, mas com um amplo terraço coberto e uma bela vista, um pouco fresca agora no inverno, e o local é tão maravilhosamente deserto como Ischl em outubro e novembro. Finalmente, um lugar para descansar durante alguns meses, e as malas serão guardadas para não serem mais vistas durante longo tempo.”

Fotos: Acervo Casa Stefan Zweig

Entidade cultural de direito privado, sem fins lucrativos, a Casa Stefan Zweig tem por objetivo homenagear a memória de Stefan Zweig e Lotte, através do acervo físico com objetos pessoais e relativos às suas obras e à sua época, com coleção de livros, fotos, documentos, vídeos, filmes, biblioteca.

Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde (1893-1983)

Foto: Divulgação

Você certamente já ouviu falar em Alceu Amoroso Lima. O crítico literário deu nome ao Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, na Mosela, em Petrópolis. Mesmo tendo nascido no Rio de Janeiro, Alceu passou muitos anos de sua vida em terras petropolitanas. Isso porque sua família era dona de uma fábrica de tecidos, a fábrica Cometa, onde hoje é o Hiper Shopping. Nos anos 20, o crítico literário chegou a ocupar o cargo de diretor na fábrica. 

Foto: Arquivo Museu Imperial – Fábrica de Tecidos Cometa

Logo, a relação de negócios deu lugar a uma relação mais íntima com Petrópolis. Os sogros de Alceu moravam na Casa de Visconde de Mauá, onde atualmente é a Casa da Educação. Nessa época, Alceu passou grande parte de seu tempo no local. 

Crítico literário e polígrafo, adotou o pseudônimo de Tristão de Ataíde. Em 1926, publicou o livro “Afonso Arinos”, estudo crítico sobre a obra do escritor mineiro falecido em 1916. Em “Estudos” reuniu, em cinco séries, trabalhos de crítica datados do período 1927-1933, sendo considerado o crítico do Modernismo.

Em 1935, segundo informações do Instituto Histórico de Petrópolis, Alceu publicou o artigo “A obra cultural de Pedro II”, na revista “O espelho”: 

“Sendo um homem que sempre possuiu uma verdadeira obsessão de estudar, nunca deixou de fazer a sua pátria aproveitar dessa cultura […]. Tudo, em Pedro II, terminava no Brasil.”. 

No ano seguinte, escreveu a crônica “A lição de Petrópolis”: “o perfil estudioso de Pedro II, que compreendeu a tua alma profunda e sentia a sua alma, vacilante ao apelo das sereias de seu tempo, afinada no fundo pela tua”.

Na década de 50, Alceu comprou a casa na Rua Mosela, onde montou uma biblioteca com mais de 20 mil volumes. Lá, o escritor viveu até 1983. 

Em 1973, Alceu recebeu o título de “Cidadão Petropolitano” pelos bons serviços prestados à cidade. Quando em Petrópolis, frequentava diariamente a agência dos Correios, participava das missas na Igreja do Sagrado Coração de Jesus e jogava tênis no Clube Petropolitano. Além disso, ajudava mensalmente a Associação Amigos dos Meninos Cantores de Petrópolis.

Alceu faleceu, aos 89 anos, no Hospital Santa Teresa, fundado por D. Pedro II. Após sua morte, a casa na Mosela foi transformada no CAALL, um dos acervos mais importantes do Brasil sobre o Modernismo. 

Foto: Divulgação

Além da vasta obra literária, Alceu ministrou cursos sobre civilização brasileira em universidades estrangeiras, inclusive na Sorbonne e nos Estados Unidos. Como articulista do Jornal do Brasil, destacou-se no combate ao regime militar.

Raul de Leoni (1895-1926)

Considerado por alguns críticos como um poeta parnasiano e por outros como um simbolista, Raul de Leoni nasceu numa residência que ficava onde atualmente é a Rua Paulo Barbosa, em Petrópolis. 

Segundo o artigo de Leandro Garcia, disponibilizado no Instituto Histórico de Petrópolis, a publicação de seu único livro, intitulado “Luz Mediterrânea”, marcou a polêmica Semana de Arte Moderna (1922), e ocupou um lugar no cânone literário, gerando incompreensões e elogios, paixões e ceticismo.

Leoni faleceu prematuramente, aos 31 anos, em Itaipava, onde tratava a doença que o impediu de assumir o cargo de deputado na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. O poeta, inclusive, foi sepultado em Petrópolis e eternizado no espaço cultural, localizado na Praça Visconde de Mauá, nomeado de Centro de Cultura Raul de Leoni.

Foto: Arquivo/Tribuna

Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944)

Autor aclamado por frases como  “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.” e “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”, Antoine de Saint-Exupéry foi um escritor, ilustrador e piloto francês. 
Marcel Reine, piloto de uma companhia de correio aéreo, Latécoère Airlines, costumava vir a Petrópolis e trazia com ele diversos amigos. Antoine de Saint-Exupéry, autor do livro “O Pequeno Príncipe”, uma das obras literárias mais famosas em todo o mundo, era um deles.

A La Grande Vallée é uma casa histórica, localizada em Itaipava, que preserva a história do escritor, ilustrador e piloto francês. Seu acervo possui diversos documentos, fotos, recortes jornalísticos, obras literárias e objetos decorativos relacionados à obra.

Foto: Arquivo/Tribuna

Muitas pessoas, inclusive, acreditam que Saint-Exupéry teria se inspirado na Pedra do Elefante, no Taquaril, para desenhar uma das cenas mais emblemáticas do livro, quando a jiboia engoliu o elefante. 

Foto: Arquivo/Tribuna

Vinicius de Moraes (1913-1980)

O poetinha, como era carinhosamente chamado por Tom Jobim, não só caminhou pelas ruas de Petrópolis como também buscou inspiração em suas paisagens para escrever alguns de seus poemas e canções. O casarão na antiga Praça da Confluência, perto do Palácio de Cristal, que já foi residência do Barão de Mauá, já foi um grande refúgio para o poeta no passado. Ao lado de amigos e da sua companheira na época, Maria Lúcia Proença, Vinícius produziu algumas de suas principais canções: “Pobre menina rica”; “Primavera”  e “Apelo”, em parceria com Carlos Lyra.

Foto: Marco Oddone 

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