Petrópolis, ontem e hoje

23/09/2018 07:00

A saudade tece a lembrança que o amor guarda consigo. O tempo distancia o passado, porém carregamos dentro de nós o que ele não apaga por estar sedimentado em nossas raízes. Estas, quando fincadas no solo que nos viu nascer, alicerçam a memória que registra a nossa própria história. Orgulha-se dela quem se sente útil nesta travessia por este planeta. Servir é um bem que se deposita no coração do outro. Por isso que a solidariedade, a caridade estão nos degraus da eternidade. 

Muitos dizem que recordar é viver. Porém o que é de sina é a vida que ensina. Cada um de nós tem uma história para contar. Esta, quando narrada por quem tem as mãos calejadas na luta pela edificação do próprio destino, traz as marcas que a verdade imprime na realidade.

Quem assistiu à palestra com o tema “Petrópolis, Ontem e Hoje”, proferida pelo desembargador Miguel Pachá, no dia 15/09, na Casa de Cláudio de Souza, promovida pela Academia Petropolitana de Letras, Instituto Histórico de Petrópolis e Academia Petropolitana de Educação, teve a oportunidade de ver o depoimento de uma pessoa que ama a cidade em que nasceu e guarda consigo recordações de um passado que, exposto ao presente, revela as contradições que rolam na esteira da modernidade. Para evidenciá-las, o ilustre desembargador iniciou a palestra com a seguinte pergunta que ele trouxe do tempo de aluno da Faculdade de Direito: “contribuiu o progresso para o bem-estar da humanidade?” 

A citada pergunta fora feita por Waldemar Teixeira, a quem ele se referiu com reverência: “meu professor de história e amigo de toda vida”.

Mantendo a linha reflexiva da pergunta mencionada, ele encerrou a palestra: “contribuiu o progresso para o bem-estar do petropolitano?”

A nostalgia também é regada pelas lembranças da aurora da vida. Contudo, tais recordações permitem estabelecer essa comparação entre o “ontem” e o “hoje”. E pelo fio da memória, o ilustre desembargador expôs o vínculo que tem com este Município, deixando clara a credencialidade do questionamento efetuado:

“Hoje estou falando de minhas lembranças, da cidade em que nasci, onde vivo, onde vi nascerem meus filhos, onde meus pais estão enterrados, e que para aqui vieram, como imigrantes, em 1926, escolhendo Petrópolis para viver e eternamente descansar.”

E pela ternura do personagem Toto do filme “Cinema Paradiso”, ele fez a seguinte comparação:

“Hoje eu estou como o Toto do filme, ao voltar à sua terra e ver tantas transformações.

A diferença é que ele sentiu somente a decepção numa única vez, após tantos anos, causada pela modificação do cenário, onde com alegria passara sua juventude e eu, embora jamais tenha passado mais de 30 dias sem vir a Petrópolis, sinto sempre a cada dia as transformações ocorridas, nem todas para melhor.”

Herdou-se uma grande falência: fábricas, hotéis, restaurantes, cinemas, escolas, lojas tradicionais fecharam-se. E o que emergiu não suplantou o que foi sucumbido. E o crescimento demográfico desordenado tem sido alvo das tragédias causadas pelas chuvas de verão.

O desembargador guarda na memória momentos vividos durante a 2ª Guerra Mundial. Relatou:

“Pouco antes da participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial, o povo aflorou ao centro histórico para exigir que o Brasil declarasse guerra ao Eixo, movimento que ocorreu em todo o território nacional.

Após a realização do comício iniciou-se uma passeata que culminou com a invasão e quebra de estabelecimentos de origem germânica, italiana e dos adeptos destes.”

É válido mencionar que antes de iniciar a palestra, ele leu um manifesto que foi aplaudido por todos os presentes:

“Antes de começar minha palestra, não posso deixar de consignar, com letras vivas, o meu inconformismo, a minha revolta, a minha indignação, com a criminosa omissão dos Poderes Públicos em relação ao passado e a história deste País.”

Ilustre desembargador, faço aqui publicamente o meu agradecimento, transcrevendo versos que encontraste nas paredes do Cinema D. Pedro: 

“Oh, valente legionário/ do corpo Expedicionário,/ por que vais lutar a esmo/ se a luta cruenta e fria/ é pela democracia?/ Vamos lutá-la aqui mesmo.”

P.S.: A íntegra da palestra encontra-se no site da Academia Petropolitana de Educação: www.acad-petropolitanaeducacao.org

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