PF afirma ter identificado nova joia negociada por aliados de Bolsonaro

12/jun 07:30
Por Tácio Lorran / Estadão

A Polícia Federal afirmou que encontrou mais uma joia que emissários do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teriam tentado vender de forma ilegal nos Estados Unidos. A informação reforça evidências que podem levar ao indiciamento de Bolsonaro ao fim da investigação que apura a suspeita de desvio de presentes recebidos pela Presidência da República. Segundo o diretor-geral da PF, delegado Andrei Passos Rodrigues, o inquérito deve ser encerrado ainda este mês.

A descoberta da existência da nova joia ocorreu durante investigações feitas pela PF nos Estados Unidos. “Nessa diligência no exterior, com o FBI, descobrimos que houve a negociação de uma outra joia que não estava no foco dessa investigação. Não sei se a joia já foi vendida, se está na casa de joias. Mas houve um encontro de um novo bem que tentaram vender no exterior”, disse o diretor-geral do órgão, em conversa com a imprensa, ontem. “Isso robustece a investigação que tem sido feita.”

Procurada, a defesa de Bolsonaro não havia se manifestado até a publicação deste texto.

Apreensão

Em março do ano passado, o Estadão revelou que o governo Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o País colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes avaliados por peritos da PF em R$ 5,1 milhões. As joias foram um presente do regime saudita para o então presidente e para a primeira-dama Michelle Bolsonaro e acabaram apreendidas no aeroporto de Guarulhos.

Os itens estavam na mochila de um militar, assessor do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. A apreensão dos diamantes ocorreu no dia 26 de outubro de 2021, durante uma fiscalização de rotina entre os passageiros que desembarcaram nos terminais de Cumbica, com origem na Arábia Saudita. Após a passagem das malas pelo raio X, os agentes da Receita decidiram vistoriar a bagagem de um assessor que acompanhava Bento Albuquerque.

O governo brasileiro poderia ter recebido as joias, caso elas tivessem desembarcado como um presente oficial para o presidente da República e a primeira-dama. Os bens, porém, ficariam para o Estado brasileiro, e não com a família Bolsonaro. Em julgamento realizado em 2016, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou à Secretaria de Administração da Presidência da República que todos os presentes recebidos por presidentes devem ser restituídos ao patrimônio da União. Segundo a decisão da Corte de Contas, os ex-presidentes só podem ficar com lembranças de caráter personalíssimo ou de uso pessoal, como roupas e perfumes.

Operação

Em agosto, a PF deflagrou a Operação Lucas 12:2, que mirou um grupo, composto por aliados do ex-presidente, suspeito de tentar vender no exterior joias e outros objetos de valor recebidos por Bolsonaro na condição de chefe de Estado. Essas peças deveriam ter sido incorporadas ao acervo da União, mas, segundo os investigadores, foram omitidas dos órgãos públicos e negociadas para fins de enriquecimento ilícito.

A operação alcançou o general Mauro César Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid; o advogado Frederick Wassef; e o tenente Osmar Crivelatti, que, assim como Mauro Cid, foi ajudante de ordens da Presidência da República no governo Bolsonaro.

Na ocasião, a PF já havia identificado a negociação ilegal de dois kits de joias da marca suíça Chopard, de duas esculturas e de um relógio da marca Patek Philippe. Ontem, o diretor-geral da PF não quis informar detalhes sobre a nova joia encontrada.

Outros inquéritos

O delegado Andrei Passos disse ontem que o inquérito que apura suspeita de falsificação do cartão de vacina de Bolsonaro também deve ser concluído em junho. Já a investigação sobre tentativa de golpe de Estado, que atinge o ex-presidente e aliados militares, deve ser encerrada em julho.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Últimas