PF suspende agente que participou da condução coercitiva de Lula

11/08/2023 16:36
Por Gustavo Côrtes / Estadão

A Polícia Federal suspendeu preventivamente o agente Danilo Campetti, ex-assessor especial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que o acompanhou em agenda de campanha na favela de Paraisópolis durante a eleição de 2022. Naquele dia, ele usou distintivo da corporação durante uma troca de tiros entre policiais e criminosos na qual um homem foi morto. Campetti ficou conhecido ao aparecer armado participando da condução coercitiva de Lula pela Lava Jato em 2019 e também participou da escolta do ex-presidente no velório do neto do petista.

Uma portaria publicada nesta quarta-feira (9) determinou seu afastamento até a conclusão do processo disciplinar sobre o caso de Paraisópolis. De acordo com o documento, ele deverá informar à PF o local onde pode ser encontrado, caso “venha se ausentar de seu domicílio”.

Campetti estava lotado em uma delegacia em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, desde junho, quando teve sua cessão ao gabinete de Tarcísio cancelada pelo Ministério da Justiça por ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme revelou a Coluna do Estadão. Na ocasião, a justificativa utilizada foi a falta de efetivo devido à criação de novas diretorias na PF.

Cerca de dois meses antes do afastamento do policial do Palácio dos Bandeirantes, interlocutores de Tarcísio procuraram o ministro da Justiça, Flávio Dino, e conseguiram postergar a saída. Mais tarde, no entanto, integrantes do governo federal passaram a adotar postura inflexível, exigiram o retorno do servidor e disseram que se tratava de um pedido direto do presidente.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o diretor-geral da PF, Andrei Passos, também foram procurados, mas não conseguiram reverter a decisão.

Depois de seu retorno ao quadro de servidores, uma nova sindicância foi instaurada para apurar suposta irregularidade na sua cessão para o governo paulista. No procedimento, questiona-se se ele poderia ter sido lotado no gabinete de Tarcísio mesmo tendo sido cedido a pedido da Secretaria de Segurança Pública.

Auxiliares do governador argumentam que a suspensão é normalmente adotada contra policiais suspeitos de corrupção e que Campetti teria usado o distintivo para se proteger. Afirmam ainda que o agente é alvo de perseguição dentro da PF em razão de um desejo de vingança pessoal de Lula.

Campetti participou da condução coercitiva e da prisão de Lula durante a Operação Lava Jato e o escoltou, em 2019, quando o petista teve liberdade provisória concedida para ir ao velório do neto.

Naquele ano, a participação do agente nas operações gerou revolta entre a militância do PT por ele ser um apoiador declarado de Jair Bolsonaro nas redes sociais. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, chegou a entrar com representação na PF e no Ministério Público Federal contra o policial.

Ele foi candidato a deputado estadual em São Paulo pelo Republicanos, partido de Tarcísio, mas não se elegeu e ficou como segundo suplente da legenda na Alesp. Durante a campanha, divulgou ostensivamente sua participação na prisão de Lula.

A relação de Campetti com Tarcísio de Freitas

Campetti foi cedido em janeiro para assumir seu cargo. Durante o mandato de Bolsonaro na Presidência, teve funções no ministério da Agricultura e, a partir de dezembro de 2021, no gabinete de Tarcísio, então ministro da Infraestrutura. Naquele período, se tornou homem de confiança do atual governador.

Ele também é próximo de Bolsonaro, com quem conviveu durante a campanha de 2018, quando foi destacado para a equipe de segurança do ex-presidente. Foi um dos agentes que o socorreu após a facada em Juiz de Fora.

O Ministério da Justiça informou em nota que, “no dia 4 de janeiro de 2023, foi publicada portaria que determinou o recadastramento e retorno de todos os seus servidores cedidos”. Acrescentou que a presidência da República não participa de análises de pedidos de cessão.

Procurado pelo Estadão, Campetti não quis se manifestar. Já o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei passos, afirmou que a decisão de suspensão preventiva se deu como “consequência legal em razão da natureza das infrações”.

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