Pintura de Paulo Pasta ganha projeção com mostras em Londres e Nova York

27/06/2022 08:21
Por Antonio Gonçalves Filho / Estadão

No próximo dia 30, a galeria Cecilia Brunson Projects inaugura a primeira exposição individual do pintor paulista Paulo Pasta em Londres. A mostra, que vai ocupar toda a galeria do Royal Oak Yard, ao lado da Tate Modern, abre caminho para outra exposição internacional do artista, que será inaugurada em 4 de novembro, na prestigiada galeria David Nolan, ao lado do Metropolitan Museum of Art. Detalhe: antes mesmo de abrir a mostra, o galerista Nolan já vendeu uma tela para o premiado escritor irlandês Colm Tóibin, autor de Brooklin (2011), que mora entre Dublin e Nova York.

David Nolan fez um acordo com a Galeria Millan, que representa o artista, para comercializar sua obra nos EUA. Considerando a receptividade do artista em Nova York, é quase certa a consagração do pintor também em Londres – além de suas evidentes qualidades, o organizador da mostra é ninguém menos que Gabriel Pérez-Barreiro, curador da 33ª. Bienal de São Paulo e diretor da Coleção Patrícia Phelps Cisneros, em Nova York.

A exposição londrina tem óleos recentes (sobre papel e tela) e obras de outros períodos. São trabalhos abstratos e paisagens da terra do pintor, Ariranha, no interior de São Paulo. Pasta, que começou sua carreira como paisagista, no ano de sua formatura, 1984, é comparado por Pérez-Barreiro a pintores ingleses como Ben Nicholson (1894-1982), que, ao conhecer Mondrian, mudou de direção e, paralelamente ao construtivismo, conciliou sua obra abstrata com sua pintura de paisagem.

“Eu não me considero paisagista, pinto paisagens afetivas dos lugares onde passei minha infância e adolescência, antes de mudar para São Paulo”, esclarece Pasta. De fato, não há em suas telas da exposição londrina nenhuma referência à paisagem urbana. São vistas do campo sem figuras humanas: chaminés de antigas usinas de cana, postes, árvores dividindo espaço com placas de estrada, nuvens carregadas desabando sobre a terra e luas cheias iluminando as noites do interior, de uma beleza comparável às paisagens do italiano Calvi de Bergolo (1904-1994) – e o que Pasta fez com Ariranha, Di Bergolo fez com Torino, transformando a cidade italiana numa paisagem metafísica e misteriosa, igualmente sem personagens para perturbar o silêncio.

A paisagem de Pasta guarda também certa nostalgia proustiana. Segundo o curador Pérez-Barreiro, “ele mantém duas práticas aparentemente contraditórias: uma é inteiramente não figurativa e a outra consiste em representações dessas cenas do interior, onde foi criado”. No entanto, não são universos irreconciliáveis, conclui. “Eles dividem, de fato, algumas características, sendo a primeira delas a estreita relação entre a paisagem e a abstração, como demonstrou Mondrian em sua jornada neoplástica impulsionada pela pintura de paisagem”. Pasta, Mondrian e Volpi, nota Pérez-Barreiro, passaram pelo mesmo processo e, antes deles, Constable, o maior paisagista inglês, fez das nuvens um pretexto para ultrapassar a fronteira da representação.

Telas

Ao lado das paisagens, Pasta mostra em Londres telas abstratas. Não é um procedimento raro na história da arte. O curador lembra de outros exemplos que passaram a vida entre a figuração e a abstração: o construtivista uruguaio Torres-García (1874-1949) e o neoplástico holandês Theo van Doesburg (1883-1931). Pérez-Barreiro diz que, na exposição londrina, misturou intencionalmente telas abstratas e figurativas para “explorar as conexões e diferenças entre as duas linguagens” na carreira do pintor brasileiro.

No caso da próxima exposição em Nova York, o casal Valentina e David Nolan, que conheceu a pintura de Paulo Pasta numa visita à exposição Luz, no Museu de Arte Sacra, em São Paulo, selecionou apenas as telas abstratas – a mostra paulistana, com curadoria do canadense Simon Watson, incluiu apenas obras recentes de grandes dimensões que lidam com composições cromáticas como fontes de luz. O casal Nolan passou três horas dentro do museu. Compreensível. A pintura de Pasta desperta um desejo de contemplação nestes tempos líquidos, sem metafísica. Confere ao espectador um gosto de transcendência.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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